13/12/2013 - 21:00
No setor automobilístico, o termo “car guy” é aplicado para definir o executivo voltado para a produção de carros, que trabalha, respira e dorme pensando em automóveis. Normalmente, trata-se de engenheiros que chegaram ao poder, em contraposição aos executivos com formação em finanças ou marketing que também ascendem nas grandes montadoras. Mas se os “garotos de carro” são comuns nas fabricantes, as garotas são mais raras. Daí a surpresa quando a General Motors transformou a americana Mary Barra na mais importante “car girl” desde os tempos de Henry Ford e de Karl Benz, ao anunciar, na terça-feira 10, sua indicação como a primeira mulher CEO de uma montadora global.
Mary Barra: ”Passamos por muitas coisas, aprendemos muitas lições
e não perdemos o espírito de querer vencer”
Num setor dominado por homens e marcado por mitos como Lee Iacocca, Enzo Ferrari e Eiji Toyoda, agora será a vez de a engenheira elétrica Mary ter a oportunidade de escrever a sua história. “Esse é o próximo capítulo da história de recuperação e reestruturação da GM, e estou muito honrada em fazer parte dele”, afirmou Mary, em cerimônia realizada em Detroit, na terça-feira 10, quando foi comunicado aos funcionários sua promoção, em substituição a Dan Akerson. A notícia também surpreendeu pelo fato de a divulgação da saída de Akerson do posto acontecer apenas um dia depois de o Tesouro americano informar que vendeu todas as ações da montadora, assumidas em 2008 em contrapartida a uma ajuda oficial para preservar a companhia, durante a crise do subprime.
O executivo havia sido o responsável por conduzir a recuperação da empresa. Akerson afirmou que tomou a decisão de deixar o cargo depois de saber que a sua esposa precisaria se tratar de um câncer em estágio avançado. “Hoje a GM é vibrante”, disse Mary. “Passamos por muitas coisas, aprendemos muitas lições e nunca perdemos nosso espírito de querer vencer.” A história da executiva na empresa é longa – ela praticamente nasceu em uma de suas fábricas. Seu pai foi um operário da montadora, tendo trabalhado na preparação de tintas da Pontiac, umas das marcas descontinuadas depois da crise de 2008. Mary, por sua vez, passou 30 de seus 51 anos de idade a serviço da GM.
Foco de problemas: a divisão europeia, que opera com a marca alemã Opel
e a inglesa Vauxhall, é a mais problemática para a montadora de Detroit
E, nos últimos anos, depois de ser nomeada por Akerman vice-presidente-executiva para desenvolvimento de produtos, acabou sendo essencial para o sucesso dos modelos Impala e Cruze, importantes peças na recuperação dos negócios nos EUA. No processo de desenvolvimento desses automóveis, adquiriu a reputação de ser capaz de promover mudanças, afinar processos, cortar burocracias e incentivar o trabalho colaborativo. Agora, porém, seus desafios serão bem maiores. “Ela tem energia e conhece muito bem o mercado americano, mas não tem experiência internacional”, diz Francisco Satkunas, consultor especializado no setor automobilístico. “A vantagem é que há gente muito capacitada internacionalmente ao seu lado.”
Eles serão importantes na missão de recuperar sua divisão Opel, que representa a maior parte das vendas na Europa Ocidental e patina no vermelho há uma década. Nos seus três principais mercados globais, no entanto, a GM vai bem. Os produtos lançados por Mary fizeram sucesso nos EUA. Na China, a empresa disputa a liderança com a Volkswagen. No Brasil, voltou à briga pela segunda posição, depois de renovar toda a sua linha de produtos. A GM Brasil registrou 18,16% das vendas até novembro deste ano, contra 18,68% da Volkswagen e 21,54% da Fiat. Mas, na Europa, onde a empresa contabiliza perdas de mais de US$ 18 bilhões desde 1999, as preocupações se acumulam. Antes de anunciar a sua aposentadoria, Akerman decretou o fim da marca Chevrolet na Europa Ocidental. O objetivo é focar, além da alemã Opel, na inglesa Vauxhall.