06/11/2015 - 20:00
Dona de franquias de jogos para computadores e consoles como o Playstation que fazem grande sucesso entre jovens do sexo masculino, como Call of Duty e World of Warcraft, a americana Activision Blizzard vinha ensaiando uma expansão para novas faixas de público. Pelo menos, esse era o desejo confesso do CEO da empresa, Bobby Kotick, que a recomprou, por US$ 9 bilhões, em 2013. Pelos cinco anos anteriores, a companhia foi uma unidade do grupo francês Vivendi.
Na terça-feira 3, o objetivo de Kotick foi alcançado com o anúncio de que a Activision pagará US$ 5,9 bilhões pela irlandesa King Digital Entertainment, criadora da Candy Crush Saga, jogo de grande sucesso entre as mulheres. A transação é a maior já realizada por uma produtora de jogos para dispositivos móveis, como celulares e tablets. “Juntas, a Activision Blizzard e a King formarão a maior e mais rentável empresa de entretenimento interativo do mundo, com mais de meio bilhão de jogadores ativos por mês”, disse Kotick, ao divulgar a transação. Dentre as empresas ocidentais, isso já é verdade. As duas somaram um faturamento de US$ 3,4 bilhões, no primeiro semestre.
Com isso, a Activision ultrapassa, com uma só tacada, os resultados de Microsoft, Sony e EA no setor. Apenas a chinesa Tencent ainda possui maior porte do que a companhia resultante da fusão, com US$ 4,2 bilhões de receita. O valor da transação, no entanto, surpreendeu e dividiu a opinião de analistas do setor. “As pessoas que pensam que o preço foi muito alto estão erradas”, diz Peter Warman, CEO da Newzoo, consultoria holandesa especializada no segmento. “Ter a experiência da King em administrar jogos para dispositivos móveis será um ativo incalculável para uma companhia que ainda está aprendendo sobre esse mercado.”
Já um relatório do banco de investimentos Jefferies & Co defende que a King terá “uma tarefa desafiadora” para replicar o sucesso do Candy Crush. Outras empresas que criaram grandes sucessos da internet perderam a relevância tão rapidamente quanto alcançaram o topo. Foi o que aconteceu com a Rovio, dona da marca Angry Birds, e a Zynga, da Farmville. Mas poucos analistas duvidam que o setor, que deve atingir, neste ano, US$ 20,6 bilhões apenas com jogos móveis, vive uma nova fase – com o perdão do trocadilho.
Empresas como a Activision buscam ocupar, hoje, um posto dominante que já foi da Atari, nos anos 1980, até sucumbir a uma gestão desastrosa da Warner, que havia comprado o negócio. Com isso, ela abriu espaço para a segunda geração de empresas, formada pelas japonesas Nintendo e Sega, nos anos 1990. Elas protagonizaram uma batalha retratada no livro “A Guerra dos Consoles”, do americano Blake J. Harris, recém-lançado no Brasil pela editora Intrínseca, e que deve virar filme. No novo milênio, o domínio passou para Sony e Microsoft, e agora ficará com quem explorar melhor o mercado mobile. Mas o jogo está longe de terminar.