20/02/2015 - 20:00
O Viber, desenvolvido pelos israelenses Talmon Marco, Igor Megzinik, Sani Maroli e Ofer Smocha, tinha tudo para ser um coadjuvante de luxo e se orgulhar do segundo lugar no ranking dos aplicativos de mensagens. Afinal, seu rival é nada menos que o WhatsApp, criado pelo ucraniano Jan Koum e pelo americano Brian Acton, vendido por US$ 21,9 bilhões, em fevereiro do ano passado, para o Facebook. Naquele mesmo mês, o Viber havia sido comprado por US$ 900 milhões pela japonesa Rakuten, uma pequena fração do que se dispôs a pagar Mark Zuckerberg pelo WhatsApp, que na época contabilizava 450 milhões de usuários.
Um ano depois, a companhia está dando a volta por cima e conseguindo o que o mercado duvidava: ser um rival à altura para o WhatsApp. No ano passado, o número de usuários cresceu 130%, chegando a 460 milhões. Para efeito de comparação, é mais – muito mais, aliás – do que a badalada rede social Twitter, que conta com 288 milhões de consumidores. É verdade que o WhatsApp já chegou a 700 milhões de pessoas. Mas o Viber, de maneira silenciosa, está conseguindo incomodar o líder, com uma estratégia para se diferenciar. Desde seu lançamento, o Viber é uma ferramenta que apresenta mais recursos que seu principal rival.
A possibilidade de fazer ligações e chamadas de vídeos estava presente no Viber já em seus primeiros meses de existência. Esses itens ainda não chegaram ao WhatsApp. Em janeiro deste ano, o aplicativo do Facebook ganhou uma versão para desktop, recurso que os usuários do Viber já tinham há muito tempo. O grande diferencial entre ambos, no entanto, é que o programa da Rakuten deixou de ser apenas um aplicativo de mensagens para se tornar uma rede social. “Incluímos ferramentas de compartilhamento e de criação de grupos e de páginas”, afirma Mark Hardy, diretor de marketing do Viber, que falou à DINHEIRO, da capital inglesa, usando o recurso de chamada de vídeo. “Mudamos a proposta.”
O Brasil já é o quarto mercado para o Viber e um dos que mais cresceram no ano passado. O número de usuários passou de oito milhões, em 2013, para 23 milhões, em 2015, um salto de 188%. E, mais uma vez, essa expansão aconteceu à custa dos pontos frágeis do concorrente. O WhatsApp estava sendo muito usado para comunicação entre programas de rádio e de televisão com seus fãs, mas sem uma plataforma específica para atendê-los. O Viber, então, ofereceu a oportunidade para que essas atrações criassem páginas em sua plataforma e entregou uma interface específica para facilitar a interação com os ouvintes e telespectadores, sem custos.
“Hoje rádios como Metropolitana e Mix, programas de tevê como o Pânico e canais como a Rede TV! usam nossos serviços”, diz Luiz Felipe Barros, diretor do Viber no País. “Complementamos com parcerias com celebridades, que agora contam com canais de comunicação no Viber, como o cantor Luan Santana e o lutador Anderson Silva.” Apesar de continuar a uma considerável distância do WhatsApp, o Viber já consegue fazer outra coisa que o rival ainda não consegue: ganhar dinheiro. Atualmente, o aplicativo gera recursos com a venda de emoticons animados (aqueles símbolos engraçadinhos que os usuários colocam nas mensagens) e com a venda de pacotes de minutos para ligações via internet.
Além disso, a empresa lançou no começo deste mês sua plataforma de jogos móveis, com games no estilo do famoso Candy Crush Saga, sucesso da desenvolvedora americana King. Os planos do Viber incluem também a integração com ferramentas de comércio eletrônico, desenvolvendo funções de micropagamentos. Afinal, a Rakuten, sua controladora, é conhecida como a Amazon do Japão. “Estamos nos tornando muito mais do que um mero aplicativo de mensagem”, afirma Hardy. “Seremos uma plataforma que vai entregar uma série de serviços.” Se a estratégia der certo, a Viber brigará não apenas com o WhatsApp, mas com todo o império digital de Zuckerberg. Não é pouco.