07/03/2012 - 21:00
Os resultados de 2011 tornaram a expressão “financiamento de veículos” algo aterrorizante para os grandes bancos. Novas regras do Banco Central (BC) forçaram um aumento das provisões contra perdas com esses empréstimos, o que reduziu o lucro de várias instituições no último trimestre do ano passado. Além disso, as perspectivas não são das melhores. Em fevereiro, ao divulgar os números do ano passado e o cenário para 2012, Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, disse que os empréstimos para a compra de automóveis devem apresentar um crescimento moderado este ano – e isso na melhor das hipóteses.
No entanto, nem todos os banqueiros estão tão pessimistas. Os bancos ligados às montadoras estão na contramão dos gigantes do setor. Eles esperam que este ano seja o melhor em muito tempo. Depois de anunciarem um crescimento de 7,9% e acumularem R$ 200,6 bilhões em empréstimos em 2011, os prognósticos são de aumento de 10% em 2012. “Este deve ser nosso melhor ano desde que abrimos as portas, em 1956”, diz Décio Almeida, presidente do Banco Volkswagen. Dona do modelo mais vendido do País, o Gol, a VW também acelerou nos financiamentos.No ano passado, a instituição financeira ligada à montadora alemã celebrou 243.764 contratos de financiamento, crescimento de 6,7%.
Neste ano, o torque continuou forte. Só em janeiro o volume de negócios fechados superou em 7% os contratos do mesmo mês de 2011. A aceleração não se limitou ao Banco VW. A Volvo Financial Services (VFS), braço financeiro da montadora sueca, também comemora crescimentos recordes nos últimos anos e espera, neste ano, financiar 35% das vendas da marca no País. “As operações brasileiras representam 17% da carteira global da VFS”, diz Marcio Pedroso, presidente da VFS Brasil. “Só perdemos em tamanho para a filial dos Estados Unidos.” Uma das vantagens do banco da Volvo em relação aos concorrentes é que cerca de 80% do crédito repassado aos clientes vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio do Finame.
A força da matriz: cerca de 30% das operações do Banco Volkswagen foram subsidiadas
pela montadora, diz o presidente, Décio Almeida.
“O governo é nossa principal fonte de dinheiro”, afirma Pedroso. Os outros 20% são repasses da própria montadora. Hoje, a carteira de crédito do banco é de R$ 4,8 bilhões. Além do financiamento de caminhões, o banco fornece crédito para as chamadas máquinas amarelas – tratores e escavadeiras, por exemplo. “Temos crescido de forma sustentada ao redor de 10% a 15% nos últimos anos”, diz Pedroso. Na opinião de Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, os bons resultados das instituições financeiras vinculadas às montadoras serão cada vez mais comuns no País. Segundo ele, os bancos de nicho aproveitam o crescimento econômico e as facilidades para renovar a frota brasileira, tanto dos carros de passeio quanto dos veículos de carga e de transporte coletivo.
“Um banco da montadora quer colocar o carro na rua e não apenas ganhar margens”, diz. Para Grisi, a grande vantagem dessas instituções financeiras é que seus custos são muito menores que os dos bancos convencionais, tanto para captar dinheiro quanto na hora de oferecer crédito. “Eles não carregam uma estrutura pesada representada por uma rede de agências e milhares de funcionários”, diz Grisi. Além disso, essas instituições contam com a musculatura financeira das montadoras. No caso do Banco VW, uma das estratégias para fisgar o cliente é subsidiar as compras. Cerca de 30% das operações de crédito de 2011 contaram com descontos, ou com taxas mais baixas: entre 0,99% e 1,6%, ao mês.
“Em alguns casos já financiamos a frota e os equipamentos”, diz Almeida. Outra vantagem é que a capacidade de selecionar clientes reduz as perdas. “O banco evita clientes que estejam na informalidade, ou tenham renda duvidosa”, Almeida. “Nossa carteira tem pouco risco.” A inadimplência acima dos 90 dias está em 3,2%, um dos menores níveis da história do banco. Pedroso, do Banco Volvo, também comemora a pontualidade dos clientes no pagamento, exibindo uma inadimplência de 1,8%. “Ela é baixa, pois os financiamentos são destinados a empresas e transportadoras autônomas”, diz. A ordem nas matrizes é continuar pisando fundo no acelerador.