01/08/2012 - 21:00
Qualquer funcionário demitido sonha em dar a volta por cima demonstrando todo seu potencial em uma nova empresa. Ainda mais quando o desempenho profissional não é o principal motivo da demissão. É o caso, por exemplo, de Mark Hurd, ex-presidente da HP, a maior fabricante de computadores e impressoras dos Estados Unidos. Ele foi mandado embora da empresa em agosto de 2010 após ser acusado de assédio sexual por uma ex-funcionária. Humilhado e com a reputação abalada, Hurd foi socorrido por seu grande amigo Larry Ellison, um dos empresários mais polêmicos do mercado de tecnologia e sexto homem mais rico do mundo.
Mark Hurd: ”Os hardwares da Oracle são os mais revolucionários do mercado”.
Ellison ofereceu ao companheiro de longa data o comando da empresa de software Oracle, que acabara de entrar para o mercado de hardware ao adquirir a Sun, uma das maiores rivais da HP, por US$ 7,5 bilhões. Era tudo que Hurd queria. Quase dois anos depois, o executivo promete fazer barulho no mercado de servidores — computadores de alta capacidade utilizados em data centers —, segmento que é liderado pela antiga empregadora. “De todos os produtos da Oracle, os da área de hardware são os mais revolucionários”, afirmou Hurd à DINHEIRO na sede da Oracle, em Redwood Shores, no coração do Vale do Silício, na Califórnia. “Estamos gerando um grande impacto no mercado.”
Vingança maligna? Talvez. Mas Oracle está preocupada mesmo é com a computação em nuvem, modelo de venda de software que coloca em xeque a forma como as tradicionais empresas de tecnologia fazem dinheiro. O plano que está sendo executado por Hurd, na verdade, foi idealizado por Ellison antes da sua contratação. Ao comprar a Sun, em janeiro de 2010, ele pretendia transformar a Oracle na empresa de tecnologia mais abrangente do mercado corporativo. Isso significa vender absolutamente de tudo, desde o hardware, até os aplicativos de negócios, passando pelos sistemas de armazenamento. A título de comparação, é mais ou menos o que faz a Apple. Seus concorrentes sempre deixaram o desenvolvimento do sistema operacional nas mãos da Microsoft.
Cyro Diehl, presidente da Oracle no Brasil: “a computação
em nuvem é a nova revolução”.
Já a empresa da maçã decidiu controlar tudo. Assim, foi capaz de desenvolver computadores, tablets e celulares mais potentes, tirando o máximo da capacidade de cada componente. “É muito melhor comprar um carro pronto do que contratar um mecânico para fazer um para você”, diz Hurd. O que a Oracle busca é uma forma de se defender da computação em nuvem, modelo de comercialização de software em que a infraestrutura de hardware fica a cargo do fornecedor, e não do cliente. Trata-se de uma grande ameaça às tradicionais empresas de sistemas corporativos, como Oracle e SAP, que ganham dinheiro vendendo licenças de uso e instalando softwares para os clientes.
Companhias como as americanas Salesfoce.com e Workday, ao contrário, cobram apenas uma taxa pelo uso do sistema. O problema é que muitas empresas relutam em confiar a um terceiro a posse de suas informações. Com seus sistemas completos, a Oracle busca oferecer o melhor dos dois mundos. Ao mesmo tempo que se livra do gerenciamento de vários fornecedores, o cliente mantém seus dados em casa. “A computação em nuvem é a nova revolução do mercado”, afirma Cyro Diehl, presidente da Oracle no Brasil. “As empresas vão usar cada vez mais a computação de forma remota.” O curioso é que muitos dos clientes da HP, IBM e Dell no segmento de hardware são clientes da Oracle no setor de software.
Para convencê-los a mudar de fornecedor, a companhia afirma que seus produtos funcionam melhor juntos. Segundo um relatório da consultoria IDC, a ideia de comprar tudo no mesmo lugar, de fato, traz uma vantagem operacional para as companhias. Agora, apesar das promessas revolucionárias de Mark Hurd, a estratégia ainda não deu resultado. A participação da Oracle no mercado de servidores caiu de 6,4% para 6,1% no primeiro trimestre deste ano, o que a manteve como a quarta maior do setor. Já a líder HP subiu de 29,3% para 31,7% no período, segundo a IDC. “Vamos manter a estratégia de vender tudo separado”, diz o Hurd. “Mas estamos vendo cada vez mais empresas interessadas em simplificar a tecnologia.”
Colaborou: Clayton Melo
Enviado especial a Redwood Shores, EUA