28/10/2016 - 18:16
A sua saída pegou o mercado de surpresa. Algumas fontes de setor dizem que, ao contrário da sucessão planejada, o sr. foi demitido. Como o sr. reage a essas afirmações?
Minha saída estava planejada desde a minha entrada na empresa. O principal objetivo nessa transição era a organização de um comitê executivo composto de pessoas com perfis adequados e, principalmente, a identificação e a preparação de um sucessor. Eu já não pretendia mais ter uma vida de executivo desde que tinha deixado a Vivo. Mas por ser a Natura e por ser um período limitado, achei que deveria aceitar o convite. Não existe qualquer possibilidade de fontes de mercado tentarem construir uma pauta negativa. Não é verdade. É bobagem. Isso já estava acertado desde quando cheguei.
No mercado, comenta-se que a sua gestão teve dificuldades para promover avanços em virtude do conservadorismo do conselho de administração…
Isso não aconteceu. A Natura tem um conselho novo, formado nesse período, com pessoas extremamente atualizadas e conectadas.
Por que a troca nesse momento?
A empresa estava iniciando um planejamento de cinco anos e o processo de orçamento para 2017. Eu não estaria presente nesses cinco anos. Então, acordamos que seria um bom momento para fazer a sucessão. O João Paulo Ferreira (que assumiu no lugar de Lima) estava pronto e já dominava as áreas industrial e comercial, as mais importantes da companhia. Não havia porque esperar, até mesmo porque ele vai poder executar um planejamento que ajudou a elaborar.
Os projetos em sua gestão aconteceram na velocidade que o sr. considerava ideal? Muitos comentam que a Natura tornou-se uma empresa com uma cultura de lentidão.
Cada empresa tem o seu ritmo. As iniciativas foram feitas no prazo que deveriam, portanto, devem se acelerar assim que as pessoas se acostumem cada vez mais dentro da empresa. Eu venho de uma indústria que é extremamente ágil, que é a digital, de telecomunicações. A Natura tem o seu ritmo, que é um ritmo correto, respeitado e que foi o que permitiu a companhia alcançar o seu sucesso. Fizemos muita coisa nesses dois anos. Se alguém fica com impressão de lentidão, talvez não esteja olhando para o volume de projetos que foram tocados simultaneamente.
Quais foram os principais avanços?
Grande parte do que fizemos foi a digitalização do canal, com o e-commerce para as consultoras e os consumidores, mas, principalmente, com todos os aplicativos que foram desenvolvidos, que permitem às consultoras gerenciar pedidos, clientes e estoques. Esses eram talvez um dos nossos maiores objetivos e isso anda a passos acelerados. Em relação aos novos canais, como as lojas físicas, a distribuição em farmácias e o e-commerce, a ideia era ganhar experiência, definir os conceitos para depois acelerar. E isso está sendo feito.
Como o sr. enxerga o futuro da Natura?
Vai ser tão brilhante quanto o passado. A empresa tem uma capacidade de inovação em produtos que é invejável. Não há porque a companhia não recuperar sua posição de liderança no Brasil. O que espero é que a Natura seja a grande marca brasileira de consumo fora do Brasil.
Quais são os seus planos daqui para frente?
Vou manter a posição nos conselhos de administração dos quais participo. Nos intervalos das reuniões, tenho vontade de viajar um pouco mais, fazer viagens de estudo. E tenho em pauta o desenvolvimento de alguns projetos de cunho social. Mas tudo isso administrando o tempo para que eu possa ter cada vez mais contato com a minha família. Acho que eu já dei grande contribuição como profissional, em todos os lugares que eu passei. Estou com 65 anos, 43 anos de vida profissional. Está na hora de aproveitar um pouco. Todo homem tem que escrever um livro um dia. Quem sabe agora é a minha hora.
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