Nem mesmo a Caixa Econômica Federal resistiu ao discreto charme da burguesia. O banco estatal está alterando sua estratégia para os financiamentos imobiliários e agora vai passar a emprestar dinheiro para clientes de alta renda, que buscam imóveis de alto padrão. O novo produto, chamado CrediCasa Exclusive, será oferecido em parceria com o Banco Pan, nova denominação do Banco PanAmericano, presidido por José Acar, segundo a DINHEIRO apurou. O produto, disponível a partir de 20 de maio, vai ser destinado a imóveis com valor superior a R$ 500 mil. Os empréstimos terão o valor mínimo de R$ 300 mil e permitem financiar até 90% do valor do imóvel, por um prazo máximo de 35 anos. 

 

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As taxas de juros oscilam entre 8,4% e 9,4% ao ano, abaixo da média cobrada pelos grandes bancos. Os empréstimos serão oferecidos nas cerca de 300 lojas da Pan Hipotecária, uma empresa do grupo. A princípio, não há um limite superior para a concessão de empréstimos, o que abre espaço para o financiamento de mansões milionárias a juros mais baixos, fato inédito no País. Tradicionalmente, o segmento de alto padrão não é o maior tomador de empréstimos imobiliários, mas a queda das taxas vem alterando essa situação. “Mais e mais clientes estão preferindo tomar um empréstimo e manter recursos aplicados a se descapitalizar totalmente”, diz Victor Bidetti, CEO da InterServices, empresa especializada no processamento de financiamentos imobiliários.

 

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José Acar, do Banco Pan: tecnologia na concessão de empréstimos

 

A decisão da Caixa deverá agitar esse mercado. Segundo Bidetti, a expansão do crédito vai fazer com que construtoras e incorporadoras revejam seus projetos de alta renda, que vinham sendo executados em marcha lenta, e também deverá dar mais fôlego ao segmento de comercialização. A iniciativa da Caixa, presidida por Jorge Hereda, não é a única a mirar nesse mercado. Em janeiro, o banco HSBC lançou um consórcio de imóveis que oferece créditos de até R$ 1 milhão. A justificativa foi o aquecimento do mercado imobiliário e a valorização dos imóveis, principalmente nos grandes centros. 

 

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Jorge Hereda, da Caixa: disputando mercado com os grandes bancos

 

Segundo Sami Foguel, executivo sênior de produtos e segmentos do HSBC, o banco percebeu que vários clientes adquiriam mais de uma carta de crédito, para poder compor um valor maior de financiamento. “Criamos esse novo produto para facilitar a compra do imóvel”, diz Foguel. No caso da Caixa, a expectativa é de que o banco aproveite o acesso a uma rede de lojas voltada para o segmento de alta renda e com tecnologia e sistemas específicos para oferecer esses empréstimos, obtida com a aquisição da Brazilian Finance and Real Estate (BFRE), no fim de 2011. Procurados, Banco Pan e Caixa não concederam entrevista. 

 

A nova linha da Caixa indica que o bancão estatal está querendo disputar, em pé de igualdade, um segmento do mercado até agora dominado pelos grandes bancos privados e companhias hipotecárias. O prêmio compensa. Depois de décadas de estagnação devido às elevadas taxas de inflação, os financiamentos para a compra de imóveis ganharam forte ênfase. Sua participação no total de empréstimos mais do que dobrou nos últimos sete anos (veja gráfico abaixo) e as perspectivas do mercado são de que o estoque desses créditos ainda poderá duplicar nos próximos dez anos.

 

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ING vende fatia da SulAmérica

 

O grupo holandês ING deu mais um passo para desembarcar da seguradora brasileira SulAmérica. Na quinta-feira 16, ele vendeu 7,9% de sua participação para o International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, por R$ 400 milhões. Com a transação, a participação dos holandeses na seguradora comandada por Patrick de Larragoiti caiu de 21,5% para 13,6%. Em março, o ING já havia vendido uma fatia de 7,2% do capital da empresa para a família Larragoiti, em um negócio estimado em R$ 350 milhões. 

 

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Negócio fechado: Patrick de Larragoiti, da Sul América (à dir.),

e Paolo Martelli, do IFC: investimento estratégico

após a saída dos holandeses do ING

 

Essas operações fazem parte do acordo firmado pelo ING com a Comissão Europeia de se desfazer de suas operações de seguro, como contrapartida ao resgate financeiro recebido na crise de 2008. “É um investimento estratégico”, disse Paolo Martelli, diretor da IFC, que esteve no Brasil para fechar a transação. O IFC já investiu R$ 3 bilhões no setor financeiro brasileiro, sem considerar o aporte na SulAmérica.