Quando se olha para os móveis da Butzke, alguns deles criados por arquitetos renomados como Sergio Rodrigues e Zanini de Zanine, fica difícil acreditar que a empresa começou fabricando carroças. Fundada em 1889 em Timbó, cidade de Santa Catarina, a marcenaria evoluiu, chegou a fornecer carrocerias para caminhões e, nos anos 90, acabou migrando para o segmento moveleiro, já de olho no mercado externo. “Quando decidimos apostar em móveis já tínhamos as exportações em mente”, conta o diretor-geral Michel Otte. 

“Agora, com o real desvalorizado, estamos com preços mais competitivos e com chances de conquistar novos destinos”, completa o executivo da Butzke, que atualmente exporta para 30 países, entre eles Estados Unidos e e França. A estimativa é de que as vendas externas representarão 50% dos R$ 40 milhões em faturamento previstos para este ano, um resultado 8% acima do registrado em 2015. O câmbio favorável, porém, não é a única arma da fabricante. Para se destacar em um mercado dominado por móveis feitos no Vietnã e na Indonésia, a empresa catarinense tem apostado no design. 

“Temos uma linha de entrada, a Mestra, mas nesse segmento os concorrentes conseguem trabalhar com preços até 30% mais em conta”, diz Otte. A saída, segundo ele, tem sido a movelaria sofisticada. A empresa acaba de criar mais uma marca premium, a Butzke Marcenaria, com peças feitas 100% à mão (um conjunto de mesa com oito cadeiras sai por R$ 25 mil), além de uma nova coleção, assinada pelo arquiteto Carlos Motta, que será lançada em Milão. A ideia é, a partir da principal feira do setor, ampliar o número de revendedores estrangeiros. 

Para quem pretende consolidar-se no mercado internacional, a feira, ainda é a maior vitrine. “O evento é o maior hub do setor. Todos os grandes lojistas vão até lá para fechar contratos, fazer novos negócios”, diz o designer Pedro Franco, da paulista A Lot Of, que participa da feira desde 2013 e estará lá novamente este ano, com peças de design assinadas por Arthur Casas, entre outros. Algumas fabricantes, inclusive, estão apostando em móveis criados por suas próprias equipes. É o caso da catarinense Artefama.

Maior exportadora de móveis do País, a empresa também desenvolveu uma marca premium, a Moora, para abocanhar uma fatia maior do mercado internacional. Depois da crise de 2008, que levou a empresa à recuperação judicial, a Artefama voltou a respirar aliviada. “Em 2015 tivemos o melhor resultado dos últimos 71 anos”, conta o superintendente comercial, Angelo Duvoisin. Presente em nove países, a fabricante , que faturou R$ 100 milhões no ano passado, também estará no Salão do Móvel de Milão, com peças assinadas pela equipe interna (o próprio Duvoisin, entre eles).

Os estrangeiros parecem estar mesmo de olho. A feira da Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração (Abimad), que aconteceu na semana passada, em São Paulo, recebeu visitantes de 47 países, o dobro de 2015. E não é só o câmbio que está a favor. “Aos poucos, o design brasileiro vem conquistando sua identidade. Sabemos explorar muito bem os materiais naturais”, diz o arquiteto Eduardo Rodrigues, professor de design de interiores na Escola Panemericana.