É fácil saber quando o empresário Michael Klein chega ao seu local de trabalho, no centro de São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Basta prestar atenção ao helicóptero pousando no topo do prédio que abriga o Grupo CB, holding de investimentos de Klein – que inclui negócios no setor imobiliário, aéreo e de automóveis – e também a Via Varejo, empresa que concentra as lojas de eletroeletrônicos do Grupo Pão de Açúcar, dona das Casas Bahia e do Ponto Frio. O trajeto de sua casa, na região da Faria Lima, em São Paulo, até o edifício leva cerca de seis minutos, pelos céus. Esse meio de transporte, no entanto, está se transformando em mais uma frente de negócios, e com grande potencial. Na semana passada, conforme antecipou o site da DINHEIRO, ele fez uma oferta para a compra da Global Aviation, terceira maior companhia de táxi aéreo do País, atrás da Líder e da Tam Aviação Executiva. Dessa forma, ele espera ganhar corpo em um mercado que não passa por um bom momento, mas tem dado sinais de recuperação. Procurado, o empresário confirmou a proposta, mas não quis dar entrevista ou revelar seu valor.

Klein já vinha apostando suas fichas no setor de transporte aéreo. Há dois anos, a Agência Nacional de Aviação Civil deu o aval para o início das operações da CBAir, braço de aviação executiva do Grupo CB. A empresa nasceu com uma frota de quatro helicópteros e três jatos, avaliada em cerca de R$ 200 milhões – hoje são cinco aeronaves de “asa fixa”, jargão do setor para diferenciar os aviões dos helicópteros, que possuem “asa rotativa”, entre eles um luxuoso Gulfstream e dois Legacy, da Embraer. Agora, Klein espera dar seu voo mais alto nesse mercado e brigar pela liderança. Dinheiro não deve faltar. Quando deixou o comando da Via Varejo, em 2014, e passou a se concentrar apenas em seus investimentos, o empresário tinha R$ 1 bilhão em sua conta bancária. O dinheiro é fruto de uma emissão secundária de ações da empresa, feita em dezembro de 2013.

A Global é uma das mais tradicionais empresas de táxi aéreo do Brasil. Ela tem entre seus sócios a família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas, o fundo de investimentos Endurance e o empresário Roberto Gobetti, atual presidente da empresa. Sua frota é composta por mais de uma dezena de aeronaves. Procurada, a companhia não quis comentar a oferta de Klein. Nos últimos dois anos, a Global, que, ao contrário das rivais Líder e TAM, não representa nenhum grande fabricante no País, vem sofrendo com o arrefecimento da economia e o crescimento dos chamados TACAs, sigla usada no setor para designar o táxi aéreo clandestino. A prática tende a aumentar em momentos de crise, pois boa parte dos voos “piratas” acaba acontecendo graças a proprietários que “emprestam” suas aeronaves para terceiros, cobrando um preço camarada, o que é proibido segundo as normas da aviação brasileira. “O TACA vem causando prejuízo às empresas e é difícil de coibir”, afirma o comandante Jorge Bitar Neto, diretor da Abtaer, associação que representa o setor.

Klein, por sua vez, costuma enxergar mais longe. E seu timing, aparentemente, não é ruim. Entre 2014 e 2015, as vendas de aeronaves novas no Brasil caíram para algo próximo de zero. Este ano, a situação parece estar mudando. “Estamos fechando negócios, algo que não acontecia há tempos”, afirma o diretor comercial de uma das grandes companhias do mercado. “A cadeia do agronegócio está puxando a demanda.” A expectativa é de que a venda de aeronaves no País movimente cerca de US$ 15 bilhões, até 2025, de acordo com levantamento feito pela Honeywell, fabricante americana de peças para o setor aeroespacial.

O mercado de aviação executiva também vem passando por diversas mudanças, no Brasil e no mundo. A Líder, por exemplo, durante décadas representou a americana Beechcraft no País. Este ano, ela perdeu o contrato para a TAM, parceira da Textron, dona da marca Cessna, que comprou a rival em 2014. No ano passado, a Líder trouxe para cá o Honda Jet, avião desenvolvido pela japonesa Honda – e já teria vendido algumas unidades. Analistas do setor estão esperando, ainda, a venda da marca Learjet, da Bombardier. A compradora mais cotada é a Textron. A Learjet é a principal concorrente do Legacy, da brasileira Embraer. Em entrevista à DINHEIRO, em 2014, Klein disse que tinha R$ 1 bilhão para investir, não para torrar. Sua aposta pode estar nos céus. Mas seus pés estão no chão.