24/01/2014 - 21:00
Você conhece a montadora chinesa Geely? Provavel-mente já ouviu falar. Em 2010, essa discreta companhia de Xangai, a 12 ª colocada em vendas na China, adquiriu da Ford o controle da sueca Volvo, sinônimo de segurança em todo o mundo. A aquisição, de US$ 1,8 bilhão, fez a Geely entrar para o noticiário internacional. Nas ruas brasileiras, no entanto, a Geely ainda é desconhecida. Quem cita a marca a apresenta como “a dona da Volvo”, rótulo do qual a empresa quer se libertar. “Não há necessidade de fazer uma conexão entre as duas marcas”, disse à DINHEIRO o vice-presidente da Geely Corporation, o chinês Victor Young.
Trabalho árduo: o CEO Lin Zhang afirma que empresa quer ser
reconhecida globalmente
A tentativa de desvincular os dois nomes tem como pano de fundo a ambição da Geely de ser uma marca global. O fato é que a Geely vende muito mais do que a Volvo. A chinesa emplacou 670 mil carros no mundo no ano passado. Sua marca sueca, menos da metade: 330 mil. No Brasil, seu apetite também é maior e ela quer disputar o mercado com as próprias rodas, sem pegar carona na boa reputação da controlada. “Queremos ser independentes. As operações são autônomas, inclusive em relação à decisão de produzir ou não no Brasil”, afirma Young. Na terça-feira 21, os principais executivos da companhia anunciaram a primeira fábrica no País, a exemplo do que já fizeram as compatriotas Chery e JAC.
A unidade será construída em parceria com o empresário paulista José Luiz Gandini, dono do Grupo Gandini, que representa a sul-coreana Kia no Brasil. A sociedade prevê 60% para a matriz e 40% para Gandini. A Volvo não participará em um primeiro momento. “Para justificar a construção de uma montadora no País é necessário ter um volume de vendas compatível, algo que a Volvo não tem”, diz Young. No ano passado, a sueca vendeu 2.927 carros no Brasil. Somente neste ano, a Geely espera comercializar 3,5 mil veículos, por ora importando-os do Uruguai, onde mantém uma linha de montagem com capacidade para produzir 20 mil carros por ano. O que falta é definir o local da fábrica.
Fábrica dos sonhos: Gandini, o sócio brasileiro, vai deter 40% da operação
Cinco Estados estão no radar: São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Bahia. Segundo o CEO mundial da montadora, Lin Zhang, o volume e o valor do investimento ainda não foram decididos, porque a Geely vai testar o mercado em 2014. “Vamos ver o que é interessante para o País”, diz o executivo. Os chineses queriam vir com tudo, mas Gandini sugeriu cautela. “Tive de segurá-los, pois é melhor sentir o mercado antes de definir a produção”, afirma o sócio brasileiro. A sede da Geely do Brasil foi construída em Itu ( SP), na casa em que Gandini cresceu. Para iniciar a operação, a montadora optou por trazer ao mercado brasileiro seu modelo mais conhecido na China. O sedã médio EC7 vendeu 200 mil unidades, dos 550 mil carros que a Geely comercializou naquele país.
Por aqui, o veículo deve ter o preço estabelecido em torno de R$ 50 mil. “Nosso alvo são o Toyota Corolla e o Honda Civic”, afirma Zhang. A Geely vai abrir 25 concessionárias no País até o fim deste ano. Seu segundo lançamento deve ser o hatch compacto GC2, conhecido como Panda, por cerca de R$ 30 mil. O consultor automotivo Valdner Papa acredita que para ganhar espaço no mercado, os executivos da Geely vão ter de trabalhar mais do imaginam. O segmento em que a marca deseja competir concorre diretamente com os produtos nacionais. Além disso, o carro chinês ainda precisa conquistar a confiança dos consumidores brasileiros. “É realmente um desafio grande”, diz Papa. “Não será uma missão impossível, mas será árdua.”