Por duas vezes, o paulistano Caito Maia, fundador da marca de óculos escuros e de relógios Chilli Beans, esteve à beira do sucesso no mundo do rock. Em 1989, aos 19 anos, foi baterista do trio pop Silvia James, que chegou a assinar contrato com a gravadora Warner e com a produtora Promoart, do apresentador Gugu Liberato. Mas um dos integrantes deixou o grupo e a banda se desfez. Alguns anos mais tarde, Maia foi o vocalista e guitarrista do grupo Las Ticas Tienen Fuego, indicado para um prêmio da MTV. Perdeu e abandonou a carreira. Mas existe um lugar onde Maia, hoje com 43 anos, é tratado como um roqueiro consagrado. É na convenção anual da Chilli Beans, que reúne três mil pessoas. 

 

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Caito Maia, fundador da Chilli Beans: ”Os nossos óculos têm tudo a ver com o rock-n’-roll”

 

Lá, ele é recebido com gritos histéricos dos funcionários e franqueados presentes ao evento. “Os óculos e a marca Chilli Beans têm tudo a ver com o rock-n’-roll”, diz Maia, grande fã da banda australiana de heavy metal AC/DC e do funk do Parliament/Funkadelic. “A minha veia é de músico.” Nos últimos tempos, outro mundo, muito mais sisudo que o do rock, vinha batendo em sua porta: o dos fundos de investimentos. Depois de cinco anos de conversas com vários deles, ele resolveu ceder e vendeu 29,82% de participação da Chilli Beans ao Gávea Investimentos, criado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e agora controlado pelo J.P. Morgan. O valor da transação não foi divulgado. 

 

Pode parecer pouco provável a união entre mundos tão diferentes, mas não é assim que Maia encara a aliança. “Eles respeitaram o DNA da nossa marca, me mantenho com 70% do negócio e o contrato prevê que eu continue mandando na empresa e fazendo acontecer”, afirma Maia. “Além disso, Armínio é um baita cara legal, jovem e com uma cabeça boa.” Para o Gávea, também parece um negócio promissor. A Chilli Beans vendeu R$ 284 milhões em 2011 e espera crescer mais de 30% neste ano, num período em que o varejo enfrenta desaquecimento da demanda. Apesar do assédio frequente dos banqueiros de investimentos, foi só há dois meses que Maia se convenceu de que ter um sócio seria uma boa ideia. 

 

“Precisamos do dinheiro para cimentar nosso crescimento no Brasil e no Exterior”, diz Maia. A Chilli Beans fechará 2012 com 600 pontos de venda, 35 deles franquias nos Estados Unidos, em Portugal, Angola e na Colômbia. A empresa também chegará ao Oriente Médio, ainda neste ano, após fechar um acordo com o Tandom Group, do sheik Marzooq Al Marzouk, do Kuwait. Segundo Maia, os negócios internacionais só passaram a ser lucrativos em 2012, depois de cinco anos de prejuízos. Agora, a expectativa é de que 25% dos mil pontos de venda previstos para a rede em 2016 estarão fora do Brasil. Em especial, na Califórnia, nos EUA. Será um passo emblemático para um negócio que nasceu de uma espécie de “bico” de Maia em Los Angeles. 

 

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Homem de visão: Armínio Fraga (acima, em imagem de 2001), que criou

o fundo Gávea, é um “cara legal”, segundo Maia

 

Em 1992, na mesma época em que tentava a sorte como músico, ele começou a viajar para a capital do cinema mundial, todas as terças-feiras, para trazer na mala centenas de óculos. “Ainda bem que, naquela época, não havia raio X das malas nos aeroportos”, diz. Maia gosta de lembrar que o negócio nasceu “na raça”, graças unicamente à sua veia de empreendedor e sem a ajuda de qualquer teoria de gestão. “Ele sempre teve essa visão empresarial” afirma Gastão Moreira, ex-apresentador da MTV, amigo do clube Paulistano e companheiro de Maia no grupo de rock Rip Monsters, outra de suas bandas. “Brincava que ele poderia ser o nosso empresário, por ter uma ideia geral do grupo: tínhamos bottons, camisetas e cenário do palco.” 

 

Essa visão completa de como o Rip Monsters deveria se apresentar ao público foi replicada na Chilli Beans. “Um dos diferenciais da marca é a coerência de sua mensagem, que vai dos produtos, anúncios e visual de lojas até a forma de os vendedores se portarem”, diz Marcos Hiller, autor do livro Branding – A arte de construir marcas. Já nos seus primeiros anúncios, a Chilli Beans adotou imagens que remetem à sensualidade, fetiche e moda. Outra grande sacada de Maia foi a criação de espaços abertos para as lojas, que não possuem vitrines que impeçam a circulação dos clientes. 

 

O objetivo é de que eles se sintam à vontade para experimentar os óculos, relógios e outros acessórios, sem serem abordados por vendedores tentando uma venda a qualquer custo. Outro traço característico de Maia é a superstição. Ele admite que só sai de um lugar pela mesma porta em que entrou. Mesmo o nome Chilli Beans surgiu de uma superstição. “Queria uma marca internacional e que tivesse 11 letras”, diz. As 11 letras, no entanto, surgiram de um engano. Maia vendia óculos no Mercado Mundo Mix, feira que foi um importante reduto da moda alternativa de São Paulo, no fim dos anos 1990. 

 

Lá também despontaram nomes como os dos estilistas Marcelo Sommer e Alexandre Herchcovitch. Ao perceber que o seu quiosque não tinha marca, Maia resolveu criar uma. A faixa encomendada veio com um L a mais para “chili beans”, a pimenta vermelha em forma de feijão. Resolveu deixar assim. A pimenta agora está capitalizada e pronta para novos voos. “Nos meus sonhos estão um festival de música, uma gravadora e uma rádio Chilli Beans”, diz Maia. “E sair em turnê pelo Brasil com a marca.” Mesmo sendo um novo integrante do mundo das reuniões com fundos de investimento, a veia roqueira de Caito Maia e de sua Chilli Beans permanece ativa e pulsante.

 

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