05/07/2013 - 21:00
O novo presidente da Mercedes-Benz, o alemão Philipp Schiemer, 49 anos, é um profundo conhecedor do mercado local. Antes de assumir a operação em junho deste ano, ele dera expediente na subsidiária brasileira em duas outras ocasiões: de 1991 a 1992 e de 2004 a 2009. “Passei boa parte da minha vida profissional aqui”, afirma Schiemer. Nos últimos quatro anos, ele esteve em Stuttgart, na Alemanha, comandando as vendas globais de automóveis da montadora. Saiu de lá porque a empresa tinha planos de mandá-lo de volta ao Brasil com a missão de retomar a liderança no mercado de caminhões, perdida para a compatriota MAN em 2009. O cenário que o executivo encontrou no País é bem diferente daquele que conheceu na década passada.
Philipp Schiemer: “Meu compromisso é transformar esse investimento, feito recentemente,
em resultados concretos”
Naquela ocasião, a marca liderava os três mercados nos quais atua: automóveis de luxo, caminhões e ônibus. Hoje, se mantém à frente na venda de automóveis e de ônibus, mas está no segundo pelotão no nicho de caminhões, com uma fatia de 24,9%, atrás da MAN, com 26,7%. Voltar a figurar no lugar mais alto do pódio é a grande obstinação do executivo alemão, que também terá de viabilizar a construção de uma fábrica de automóveis por aqui. Ele já está negociando com alguns Estados a localização da unidade. A seu favor, Schiemer conta com um plano de investimento de R$ 1,5 bilhão, que foi deslanchado em 2010 e será concluído no fim deste ano.
“Meu compromisso é transformar esse investimento feito recentemente em resultados concretos”, diz Schiemer. Segundo ele, o montante foi aplicado na renovação da linha de veículos comerciais e, principalmente, no aumento da capacidade de produção de suas duas fábricas, a de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, e a de Juiz de Fora, em Minas Gerais. A unidade mineira fabricava o Classe A e, em 2011, passou a produzir 15 mil caminhões do modelo leve Accelo e do extrapesado Actros, o único da linha que não possui 65% de conteúdo local. Por causa disso, não se enquadra no Finame, linha de financiamento do BNDES utilizada na compra de mais de 70% dos caminhões no País.
Gigante brasileiro: um dos maiores desafios de Schiemer será nacionalizar
o caminhão extrapesado Actros
Excluída do benefício, a empresa perde competitividade em relação a concorrentes como as suecas Volvo e Scania, que lideram as vendas da categoria. Um projeto para aumentar o índice de nacionalização do Actros já foi iniciado. “Estamos muito avançados e deveremos concluí-lo no próximo ano”, diz o executivo. Em suas contas, o segmento de extrapesados deve crescer mais de 20%, o dobro da expansão esperada para o mercado geral de caminhões. Essa faixa, além de apresentar vendas pujantes no último ano (foram 41,1 mil unidades em 2012), é mais lucrativa, segundo os especialistas. “Os caminhões extrapesados custam até R$ 500 mil e têm margem de lucro mais gordas”, afirma Thiago Costa, da consultoria americana IHS. “Suas vendas já representam 30% do mercado e essa fatia chegará a 40% em 2015.”
Outro nicho que é a menina dos olhos da montadora é a linha Sprinter, composta por cinco modelos e que atende tanto o transporte de passageiros como o de carga. O desempenho dessa gama cresceu 32% nos últimos 12 meses. O ritmo acelerado é atribuído ao lançamento dos chamados van centers, que são seis pontos de venda totalmente dedicados aos consumidores desse tipo de veículo, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A investida é bastante oportuna na visão de David Wong, diretor da filial brasileira da consultoria americana At Kearney. “Com a Kombi saindo de linha este ano, o consumidor terá de buscar outras alternativas”, diz Wong. A boa e velha Kombi teve 26 mil unidades emplacadas em 2012. De fato, trata-se de um filão e tanto.