O ano novo começa em meio a inúmeras incertezas sobre a capacidade da Europa superar a crise, a velocidade de recuperação da locomotiva americana e o fôlego da economia chinesa. Em outros tempos, seriam argumentos mais do que suficientes para que os empresários brasileiros dessem um tempo, pisassem no freio e só pensassem em retomar os investimentos depois do Carnaval. Esse roteiro foi seguido à risca no começo de 2009, ainda sob os efeitos da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro do ano anterior. Houve inúmeras demissões que terminaram por se mostrar equivocadas em empresas como a Embraer, que demitiu, à época, 4,2 mil funcionários, cerca de 20% do seu quadro, ou, ainda, a Vale, que mandou para a rua 1,3 mil empregados. O pessimismo em relação ao futuro, porém, gerou mais adiante gastos elevados com a recontratação e treinamento de funcionários, além da perda de mercado para a concorrência. Este ano começa bem diferente e um termômetro claro dessa realidade é o próprio mercado de trabalho. 

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Procuram-se trabalhadores: está previsto o preenchimento de 500 mil vagas
formais no Brasil até o fim de março.

 Enquanto a taxa de desemprego era de 7,4%, em novembro de 2009, o País inicia 2012 num patamar inédito de 5,2%, o menor da história. A atividade mais moderada no ano passado, porém, abre a perspectiva de um PIB ainda morno para o início de 2012. A temperatura deverá subir, efetivamente, no segundo semestre, com a ampliação de  oportunidades no mercado interno. Essa perspectiva de médio prazo é a senha para as empresas desengavetarem projetos e saírem contratando logo nas primeiras semanas do ano. “Apesar do vento frio que vem de fora, a economia continua quente no Brasil”, diz Rogério Toster, diretor de relações com investidores da TIM. A operadora de telefonia celular prevê a admissão de mil funcionários no primeiro trimestre, um acréscimo de 10% no quadro total da empresa. “O crescimento da renda das famílias e a baixa taxa de desemprego garantem a demanda por serviços de telecomunicações”, afirma.

Uma projeção feita pela LCA Consultores, de São Paulo, a pedido da DINHEIRO, mostra que, nos três primeiros meses de 2012, as empresas devem correr atrás de 500 mil contratações – patamar semelhante ao do mesmo período de 2011, quando a economia estava superaquecida, na inércia do crescimento de 7,5% no ano anterior. “Os setores de alimentos, calçados e roupas serão beneficiados com o enorme ganho real do salário mínimo”, diz Fábio Romão, economista da LCA. O governo já bateu o martelo sobre o novo valor do salário mínimo, que ficará em R$ 622 e entrará em vigor em 1º de janeiro. O reajuste de 14,1% injeta mais dinheiro no bolso de 48 milhões de brasileiros. No total, serão R$ 47 bilhões extras para girar a economia. De olho na carteira recheada dos consumidores, e com vendas tradicionalmente reforçadas pelo calor do verão, a Ambev inicia o ano com produção em ritmo total e anuncia a abertura de 350 vagas, no primeiro trimestre. “O nosso negócio, altamente dependente da renda, será turbinado pelo salário mínimo”, diz Marcus Galeb, diretor de relações corporativas da Ambev, que relembra com satisfação a estratégia da empresa adotada no auge da crise de 2008. 

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Luciana Machado, da Netshoes: ”vamos contratar 300 funcionários até março, aumentando em 20% o nosso quadro”.

 “O maior aprendizado foi ampliar os investimentos, acreditar no futuro e gerar um ciclo virtuoso de investimento, emprego, renda e impostos.” Bom para os fabricantes, o efeito multiplicador do ganho de renda do consumidor também anima o varejo. Segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), serão abertas ao menos 50 mil vagas em todo o País para dar conta do aumento das vendas até março. O otimismo também está presente no mundo virtual. Após bater recorde no Natal, o comércio eletrônico fechou 2011 com faturamento de R$ 18,7 bilhões, alta de 26% em relação ao ano anterior, segundo a consultoria e-bit. “A expansão do e-commerce e a solidez da economia brasileira promoverão o crescimento em 2012”, diz Luciana Machado, executiva de recursos humanos da Netshoes, empresa líder em operações online de material esportivo. Para acompanhar a expansão da demanda, a companhia vai ampliar em 20% o quadro de funcionários até março, preenchendo 300 novas vagas. Outro setor que passou praticamente incólume à crise de 2009, e promete começar 2012 a toda velocidade, é o automotivo. 

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) não faz previsões específicas para emprego, mas o presidente da entidade, Cledorvino Belini, não descarta repetir o ritmo de contratações registrado nos primeiros trimestres de 2010 e 2011, quando foram abertas 3,5 mil vagas em cada ano. A Ford, que anunciou recentemente três grandes investimentos, promete engrossar esses números. Serão desembolsados R$ 455 milhões na produção de caminhões e R$ 800 milhões na fabricação de um novo modelo de automóvel,  na unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e mais R$ 500 milhões na fábrica de motores e transmissões,  em Taubaté, no interior de São Paulo. Nesta última, haverá 500 contratações a partir de janeiro. “Estamos entrando em 2012 com o pé no acelerador”, afirma Rogelio Golfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford para a América do Sul. Para ele, o Brasil alia equilíbrio macroeconômico a um forte potencial de crescimento. “Onde mais tem isso? Só na China e na Índia.” 

 

Assim como nos outros emergentes, o Brasil se beneficia do crescimento contínuo da renda de sua população. “Os empregos que dependem do mercado interno estão nadando de braçada”, diz José Augusto Figueiredo, vice-presidente para a América Latina da empresa de recolocação DBM. Tendo como pano de fundo as perspectivas favoráveis para os negócios, empresas como a TIM, Ford, Ambev e Netshoes querem estar preparadas para quando a retomada do crescimento da economia se consolidar. As  lições do passado recente ensinaram-lhes que o excesso de cautela e a timidez podem ser contraproducentes, impedindo que desfrutem de todas as possibilidades, na hora da virada da economia.  Simplesmente, não podem e não querem aguardar de braços cruzados o que vai acontecer na Europa para tomar decisões. Para elas, o ano novo vai começar bem antes do Carnaval.

 

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