09/08/2013 - 21:00
De Varginha, no sul de Minas Gerais, onde foi inaugurar o campus de uma universidade na quarta-feira 7, a presidenta Dilma Rousseff comemorou o recuo da inflação, que depois de estourar o teto da meta, em junho, registrou alta de 6,3% em 12 meses, até julho. Dilma celebrou, ainda, a queda de preço da cesta básica, divulgada um dia antes. “O compromisso do governo com a estabilidade está se mostrando na prática e na realidade”, disse Dilma. A declaração da presidenta confirma uma impressão que tomou conta do mercado nas últimas semanas.
Dilma Rousseff, presidenta do Brasil: ”O compromisso do governo
com a estabilidade está se mostrando na prática e na realidade”
Economistas que costumavam ser críticos admitem uma mudança de direção na política econômica, rumo à recuperação do tripé de estabilidade que vem sendo adotada desde o início do Plano Real, em 1994, e se baseia no controle da inflação, redução dos gastos públicos e câmbio flutuante. Embora nunca formalmente abandonado, o compromisso de Dilma e sua equipe com esses três pontos foi bastante questionado nos últimos dois anos, em particular pela demora da equipe econômica para reagir contra a inflação. O espectro do dragão que pairava levou o Banco Central a realizar três altas consecutivas dos juros, entre abril e julho deste ano.
“Gradualmente está voltando o tripé de estabilidade”, diz Cristiano Souza, economista-sênior do Santander, lembrando que esse foi um elemento crucial para a bonança da era Lula. A retomada dessa política indica uma maior liberdade do BC para o combate à inflação, uma mudança que contrasta com a posição da presidenta, adotada até recentemente. Durante o encontro dos Brics em Durban, na África do Sul, em março, por exemplo, Dilma declarou que discordava de políticas de combate à inflação que não levam em conta o crescimento econômico. Para Alessandra Teixeira, da consultoria Tendências, a política expansionista, focando apenas no crescimento, está sendo revertida.
Ramos, do Goldman Sachs: “As autoridades terão de mostrar
que a mudança de rumo é para valer”
“O aumento dos juros e a flutuação do dólar indicam que o governo voltou atrás nesses pontos”, diz Alessandra. No câmbio, as barreiras erguidas a partir de 2011 para conter o dólar também foram retiradas. Isso ocorreu de maneira mais pronunciada em junho, quando o governo zerou o IOF para a entrada da moeda americana no País, que estava em 1%. Com liberdade, o dólar flutuou e, seguindo a tendência internacional de valorização, chegou, no último dia 7, a R$ 2,31 — maior cotação desde março de 2009. Desta vez, sem intervenções. A última venda de dólares à vista, efetuada pela instituição, ocorreu em maio de 2012. “De lá para cá o BC tem atuado com operações de swap, que fornecem liquidez, mas não têm grande efeito sobre a cotação da moeda”, afirma Sidnei Nehme, sócio da NGO Corretora.
A mudança de tom agradou especialmente ao setor produtivo, que vê com alívio a valorização do dólar. “Seguramente, o tripé econômico está sendo restabelecido: a inflação está sob controle e o câmbio, cada vez mais competitivo”, diz Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. A atividade da indústria, aliás, já tem respondido, ainda que timidamente, como mostrou a pesquisa de produção industrial do IBGE, divulgada na quinta-feira 8, que apontou uma expansão de 1,9% em junho sobre maio. Dos 14 Estados pesquisados, dez registraram alta. Até o momento, a perna mais frágil do tripé da estabilidade tem sido a área fiscal.
Retomada: indústria teve forte alta em Estados como a Bahia.
Ao lado, complexo de Camaçari
O governo já anunciou dois cortes no orçamento, totalizando R$ 38 bilhões, mas poucos analistas acreditam que o superávit primário de 2,3% será realmente cumprido. “Em 2012, o uso de triangulações e brechas legais para antecipar receitas foi a gota d’água para o mercado, que ainda tem dúvidas sobre a palavra do governo”, afirma Gabriel de Barros, do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV do Rio. O controle da inflação também deve ser visto com cautela, avalia o ex-presidente do BC Gustavo Franco, pois os preços administrados, que respondem por 25% da inflação, estão congelados, como é o caso da gasolina. “A inflação está sob controle no sentido petista do termo”, ironiza Franco.
Arrumar a casa do ponto de vista fiscal é crucial para que a política de estabilidade tenha um pleno efeito, diz Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B. “Por enquanto temos um ‘bipé’ de estabilidade”, diz. “O melhor seria o governo assumir uma meta menor de superávit, o que evitaria choques de expectativas.” Em entrevista à DINHEIRO, o ministro Guido Mantega deixou aberta a possibilidade de uma nova revisão até o fim do ano. “Este número está em estudo a cada mês”, afirmou. Conquistar a unanimidade entre os economistas, no entanto, vai requerer mais do que palavras. “As autoridades vão ter que mostrar por um bom tempo que a mudança de rumo recente é para valer”, diz Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.
“Medidas, como a alta dos juros, são impopulares e geram dúvidas se serão estendidas para 2014, que é um ano eleitoral.” Ainda na tentativa de restaurar a confiança, o governo pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que mude a metodologia de cálculo da dívida bruta brasileira, e desconte os títulos que o Tesouro emite para o BC retirar a liquidez do mercado, contabilizados em duplicidade pelo fundo. Com a mudança, a dívida bruta que hoje é de 68% do PIB, segundo o FMI, cairia para 58,7%. Mas, tanto para a credibilidade lá fora como aqui dentro, a sintonia entre os três pontos do tripé é essencial para que a economia acelere de vez.