A aviação comercial completou, neste ano, 100 anos de atividade. O primeiro voo comercial de passageiros que se tem notícia, realizado entre as cidades de São Petersburgo e Tampa, ambas na Flórida (Estados Unidos), aconteceu no dia 1º de janeiro de 1914. Desde então, as viagens aéreas foram responsáveis por aproximar as pessoas e os mercados de diferentes países. Um dos maiores orgulhos das empresas do setor é a segurança das viagens.

As estatísticas comprovam que, de fato, as chances de algo dar errado em uma viagem de avião são mínimas, de um para cada 2,4 milhões de voos, segundo a Iata, associação internacional do setor. Os últimos dias, no entanto, contrariaram todas as estatísticas. Em uma semana, três grandes acidentes aéreos provocaram a morte de mais de 400 pessoas. Além do luto dos familiares das vítimas, essas tragédias geram questionamentos a respeito da imagem das companhias aéreas. A comoção causada pelos acidentes pode provocar nas pessoas um receio de voar, esfriando a demanda por viagens, que ainda não voltou aos níveis anteriores à crise de 2008.

No dia 17 de julho, o voo MH17 da Malaysia Airlines, que ia de Amsterdã, na Holanda, para Kuala Lumpur, na Malásia, caiu na cidade de Donetsk, na Ucrânia. O avião, um Boeing 777, com 298 pessoas a bordo, dos quais 100 holandeses, teria sido abatido por um míssil, que partiu de uma zona controlada por rebeldes favoráveis à anexação da região pela Rússia. Menos de uma semana depois, na quarta-feira 23, um avião turboélice, modelo ATR 72, da TransAsia Airways caiu na ilha asiática de Penghu, que pertence à Taiwan, provocando a morte de 47 pessoas.

O piloto tentava fazer um pouso de emergência. No dia seguinte, mais um acidente catastrófico. Um avião modelo MD 83, da companhia aérea argelina Air Algerie, com 116 pessoas a bordo, sumiu dos radares pouco depois de decolar de Burkina Faso, com destino a Argel. Horas depois, os destroços da aeronave foram encontrados no deserto de Mali. Ninguém sobreviveu. Apesar das causas dos acidentes serem distintas, ou até mesmo exteriores ao setor, como no caso da Malaysia, especialistas em aviação ouvidos pela DINHEIRO afirmam que é provável que provoquem consequências negativas para o mercado.

“Tudo vai depender de como a imprensa e a televisão vão abordar os acidentes”, afirmou uma fonte do setor, que pediu anonimato. O ataque ao voo MH17, ao menos, já trouxe problemas. Na terça-feira 22, os Estados Unidos proibiram as empresas aéreas de voarem para Israel, que há duas semanas está em conflito com os palestinos, por conta dos bombardeios que até a quinta-feira 24 haviam ceifado 800 vidas na Faixa de Gaza. A proibição, que durou um dia, aconteceu após alguns foguetes lançados a partir de Gaza caírem nas proximidades do aeroporto de Tel Aviv.

Companhias como a American Airlines e a Delta, que chegou a desviar um de seus voos para Paris, foram afetadas. No Brasil, segundo a Abear, associação que representa as companhias aéreas do País, as consequências não devem ser graves, em princípio. Em comunicado, a Abear afirmou que as empresas brasileiras possuem as mais altas certificações internacionais de segurança. A associação lamentou os acidentes e as mortes, mas afirmou que eles tiveram motivos distintos e distantes da realidade local. Procuradas, as principais companhias brasileiras, TAM, Gol e Azul, não quiseram se pronunciar. A série de acidentes já fez ao menos uma vítima no mundo empresarial.

A Malaysia Airlines deve entrar com pedido de falência, acossada pelos prejuízos. A situação da companhia, controlada pelo governo da Malásia, é complicada, pois a queda do voo MH17 foi a segunda tragédia enfrentada em menos de quatro meses. Em março, um avião da empresa, que ia de Kuala Lumpur a Pequim, na China, desapareceu no Oceano Índico, sem deixar rastros, com 239 pessoas a bordo. Desde então, suas ações caíram 35%. É verdade que a empresa, que já foi apontada como uma das melhores companhias aéreas do mundo, vinha sofrendo prejuízos desde 2011, que totalizaram US$ 1,4 bilhão. A tragédia com o voo MH17 pode ter sido a última pá de cal para a companhia aérea, que está sendo considerada a mais azarada do mundo.