O mundo da aviação sofreu um grande baque na manhã da terça-feira 24. Um Airbus A320, da companhia aérea Germanwings, braço de baixo custo da alemã Lufthansa, caiu nos Alpes Franceses, cerca de 50 minutos após decolar do aeroporto de Barcelona, na Espanha, com 150 pessoas a bordo. Seu destino era a cidade de Dusseldorf, na Alemanha. Não houve sobreviventes. A caixa preta da aeronave, encontrada poucas horas depois, revelaria algo inimaginável na aviação comercial. Segundo investigadores franceses, a queda teria sido provocada, intencionalmente, por um dos pilotos, o alemão Andreas Lubitz, de 27 anos.

O motivo que levou o jovem comandante a tomar uma atitude tão drástica ainda não é conhecido. Mas o fato já está provocando mudanças na aviação. As normas de segurança nas aeronaves, reforçadas após os ataques de 11 de setembro de 2001, estão sendo colocadas em xeque. A dúvida é qual será o impacto desse episódio para o mercado de aviação comercial, que movimenta mais de US$ 700 bilhões no mundo, anualmente. Por conta do incidente, uma a visita de Estado que aconteceria nesta semana entre Espanha e França foi cancelada. Na segunda-feira 23, a avenida Champs-Élysées, em Paris, estava toda enfeitada com bandeiras francesas e espanholas para recepcionar a comitiva oficial.

O amistoso entre França e Brasil, na quinta-feira 26, teve um minuto de silêncio em respeito aos mortos. Foi de um silêncio absoluto. O público ficou imóvel até o juiz apitar o início da partida. “O acidente deve gerar um impacto psicológico que pode durar algumas semanas”, afirma Stéphane Albernhe, sócio-diretor da consultoria francesa Archery. “A curto prazo, a taxa de ocupação pode cair. Mas o impacto será muito mais forte do que após o 11 de setembro.” O que mais preocupa em relação a essa tragédia é que ela foi possibilitada graças a uma norma de segurança, instituída para coibir ataques terroristas.

Desde 2001, as cabines de comando das aeronaves possuem portas blindadas. Para abrir, quem está fora precisa digitar um código, e quem está dentro deve aceitar o acesso. Lubitz se aproveitou de um momento em que o outro piloto foi ao banheiro para trancar a porta. Às 6h30, horário de Brasília, ele reconfigurou o piloto automático do Airbus para voar na mais baixa altitude permitida, de 100 pés. Em cerca de 10 minutos, o avião colidiu com a montanha. Ao longo da semana, diversas companhias aéreas, entre elas a colombiana Avianca, que opera no Brasil, decidiram mudar as regras e instituir que é necessária haver duas pessoas na cabine de comando o tempo todo.

Algumas empresas americanas já adotavam essa norma. São esperadas mudanças, também, na forma como os pilotos são avaliados psicologicamente. Na maioria dos países, inclusive no Brasil, são feitas avaliações periódicas, mas há dúvidas quanto sua eficácia. “Os pilotos podem, geralmente, escolher os médicos a partir de uma lista”, afirmou Peter Goelz, ex-diretor da NTSB, órgão americano responsável por investigar acidentes aéreos, ao jornal The New York Times. “Acredito que este incidente trará mudanças profundas.” Andreas Lubitz nasceu em Montabaur, uma pequena cidade de 15 mil habitantes entre Frankfurt e Colônia, no noroeste da Alemanha.

Ele trabalhava na companhia aérea desde 2013. Era considerado pelos colegas como uma pessoa de fácil trato, pouco extrovertido, mas simpático. Amigos o descrevem como um sujeito engraçado, bonito e que não aparentava ter dificuldades de relacionamento. Até o momento, não foram encontradas ligações entre o piloto e grupos extremistas ou religiosos. A polícia alemã encontrou em sua casa evidências de que ele teria escondido de seus empregadores que estava doente. Uma dispensa do trabalho por motivos médicos, cobrindo o dia do acidente, seria a prova.

Além disso, segundo o tablóide alemão “Bild”, Lubitz teria rompido o relacionamento que mantinha com a noiva há sete anos. Eles estariam prontos para se casar no ano que vem. Lubitz, filho de uma organista, tinha histórico de problemas psicológicos. Em 2009, ele interrompeu o curso de formação de pilotos por conta disso. Há dois anos, no entanto, ele recebeu permissão para voar, sem restrições. “Eu não imaginava que o cenário (do acidente) poderia ser ainda pior. Isso vai além dos nossos piores pesadelos”, afirmou Carsten Spohr, CEO da Lufthansa. “Estamos sem palavras.”