26/02/2016 - 20:00
Quando a americana Marissa Mayer assumiu o comando do Yahoo, em julho de 2012, as expectativas eram altas. As credenciais da nova CEO, a oitava na história da empresa fundada em 1994, justificavam o otimismo. Formada em ciências da computação pela Universidade Stanford, a executiva vinha de uma passagem de 13 anos pelo Google, do qual foi uma das primeiras funcionárias. Na gigante de buscas, atuou como vice-presidente de produtos e liderou o desenvolvimento de serviços de sucesso como Gmail, Google Maps e Street View.
Com esse perfil, a loira de 37 anos era considerada o nome ideal para recolocar um dos primeiros e maiores ícones da internet nos trilhos. Passados três anos e meio, no entanto, o encanto foi quebrado. Os resultados pífios de sua gestão acentuaram a perda de relevância da companhia. A paciência de investidores e acionistas parece ter se esgotado quando a empresa reportou um prejuízo líquido de US$ 4,35 bilhões em 2015. O anúncio foi seguido de um plano que, entre outras medidas, prevê um corte de 15% na equipe da empresa.
Com um futuro incerto pela frente, o Yahoo procura uma luz no fim do túnel. E Marissa não deve fazer parte dessa jornada. Essa trajetória ganhou um novo capítulo em 19 de fevereiro, quando o Yahoo anunciou a criação de um comitê independente para explorar alternativas estratégicas. Na prática, o que está em jogo é venda da divisão de internet, que inclui ativos como serviços de buscas, e-mail e mídia. Segundo fontes próximas à companhia, a lista de interessados inclui o grupo de mídia Time Inc., as operadoras Verizon, AT&T e Comcast, e os fundos de private equity TPG, KKR e Bain Capital.
A venda ou a separação de suas participações de 15% no site chinês Alibaba e de 35,5% no Yahoo Japão também estão em pauta. Os dois investimentos representam mais de dois terços do valor de mercado atual da empresa, avaliada em US$ 29 bilhões. “Todos nós, funcionários e acionistas, queremos recuperar a grandeza dessa companhia icônica”, disse Marissa, em comunicado. A palavra união, porém, está longe de ser o termo exato para definir o momento do Yahoo. A decisão sobre quais ativos incluir no processo divide opiniões.
“O único consenso entre os acionistas é de que o Yahoo precisa de um novo CEO”, diz Laura Martin, analista do banco americano de investimentos Needham & Co. Dono de uma fatia de 0,75% na companhia, o fundo ativista Starboard Value LP é um dos críticos mais ferrenhos da gestão de Marissa e defende a demissão da executiva. Para isso, ensaia uma disputa jurídica com o objetivo de exigir a troca de parte do conselho da empresa. Esse é mais um capítulo da história do Yahoo, fundado por Jerry Yang e David Filo, dois alunos de engenharia da Universidade Stanford. Uma das empresas pioneiras da internet possui um histórico de problemas entre seus CEOs e Wall Street.
O próprio Yang sucumbiu depois de rejeitar uma proposta da Microsoft para comprar a empresa, no início de 2008, por US$ 44,6 bilhões. No fim do mesmo ano, o Yahoo valia menos da metade da oferta. Nos anos seguintes, o Yahoo perdeu terreno para rivais como o Google e o Facebook, com o avanço dos smartphones, das redes sociais e novos formatos de oferta de conteúdo, especialmente em vídeo.
Capitalizada com o IPO recorde do Alibaba, no qual o Yahoo embolsou US$ 8,3 bilhões, quase um terço do total captado, Marissa investiu em mais de 40 aquisições para reposicionar a empresa. O maior acordo envolveu o Tumblr. A plataforma de blogs fundada por David Karp foi comprada em 2013, por US$ 1,1 bilhão. Nenhum desses negócios, porém, trouxe resultados.
“O Yahoo progrediu muito pouco nessas novas áreas, enquanto o fluxo de caixa de seus negócios principais caiu pela metade”, diz Laura Martin, do Needham & Co. Ela acredita que não há futuro para o Yahoo caso a empresa mantenha sua estrutura atual. Para Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint Technologies Associates, um dos sinais do que ele classifica como uma péssima gestão é o fato de que um terço dos principais executivos do Yahoo decidiu deixar a empresa nos últimos 18 meses. “Marissa se escondeu por muito tempo atrás do sucesso do Alibaba”, diz. “Ela gastou dinheiro como água e todas as suas iniciativas falharam. Acho que o seu tempo acabou.”