Na sala do presidente da fabricante catarinense de malhas e vestuário Marisol, Giuliano Donini, em Jaraguá do Sul, um armário branco guarda mais de 15 propostas de compra feitas por fundos de investimento, bancos e companhias concorrentes, recebidas desde que iniciou o processo de reestruturação, em 2011. “Antes de qualquer pergunta, não estamos à venda”, afirma Donini, que controla a Marisol em sociedade com o pai, Vicente, presidente do conselho de administração, a mãe, Florilda, e o irmão Giorgio.

“Mas se a proposta for muito boa, por que não?” A aparente contradição tem razão de existir, segundo o empresário. A família até aceita vender a Marisol, fundada em 1964, desde que a proposta envolva 100% do capital. “Depois de algumas experiências, a última coisa que queremos é ter um sócio”, afirma. O assédio de investidores se explica. Após iniciar seu último projeto de reestruturação dos negócios, há dois anos, em uma tentativa de estancar a queda das vendas, Donini acredita ter encontrado o caminho para um crescimento sólido e consistente da Marisol.

No ano passado, a dona das marcas Lilica Ripilica, Tigor T. Tigre e Mineral – além da Marisol, é claro – faturou R$ 488 milhões, um crescimento de 23% em relação a 2012. “Voltamos, enfim, a crescer”, diz o presidente, que aposta em um aumento semelhante nas vendas deste ano. A projeção, segundo Donini, tem base na realidade do mercado, somada aos frutos das mudanças que a companhia vem promovendo em sua operação. Há três anos, por exemplo, a Marisol resolveu vender para a Restoque, por R$ 10 milhões, a grife de moda praia Rosa Chá, uma da marcas que haviam adquirido na década de 2000.

“A Rosa Chá representava 0,5% do nosso faturamento quando a compramos”, diz Donini. “Tentamos fazer a marca decolar, mas não deu certo.” A ideia era transformar Rosa Chá em uma referência em moda jovem. No entanto, alguns desentendimentos com o fundador da marca, o estilista Amir Slama, fizeram com que o projeto fracassasse. A Marisol não desistiu e resolveu viabilizar a estratégia com suas outras marcas. Em 2009, a empresa ainda apostou no retorno da Pakalolo, sucesso entre os adolescentes nos anos 1980. Também não vingou. “A Marisol tentou ser uma gestora de marcas”, afirma André Robic, diretor do Instituto Brasileiro de Moda (IBModa).

“Mas isso é complicado para quem possui uma mentalidade fabril.” Em 2012, Donini contratou uma consultoria da Strategy& (antiga Booz & Company), que criou o bem-sucedido plano de varejo da Hering, de Blumenau, para reestruturar seus negócios. Como resultado das mudanças sugeridas pelos consultores, a produção de sapatos infantis em Novo Hamburgo (RS) foi transferida para a unidade de Pacatuba (CE). Ao mesmo tempo, outras duas fábricas menores em Santa Catarina foram vendidas ou fechadas. Além disso, a Marisol aumentou a importação de acessórios.

Outras marcas que não tinham grande representatividade nos negócios foram colocadas na geladeira, como a Criativa, da linha adulta. “Hoje, 87% das vendas de vestuário da companhia vêm do mercado infantil”, afirma Cássio Barcelos Cansian, gerente de operações. O restante das receitas fica por conta da marca Mineral, voltada para consumidores na faixa entre 20 e 30 anos. As mudanças alcançaram a distribuição dos produtos da Marisol.

Com o sucesso da franquia Lilica & Tigor e da One Store, um modelo de rede de valor, no qual há licenciamento e padronização, mas não há obrigatoriedade de venda exclusiva de seus produtos, a companhia catarinense aposta em uma nova rede de franquias com a marca Marisol, cujo projeto-piloto foi lançado neste mês em Curitiba. A One Store também deve ter sua expansão acelerada, de acordo com o diretor de varejo da companhia, Elbio Antônio Armiliatto.

“Vamos chegar a 250 lojas em 2014”, afirma. Atualmente, são 194. A família Donini também mantém planos ambiciosos para sua marca mais rentável, a Lilica Ripilica. A coala branca cheia de estilo deve deixar de ser apenas a imagem da grife para se tornar uma personagem infantil. Donini ainda não definiu se ela estrelará desenhos animados ou histórias em quadrinhos. “Por nossa trajetória, dá para perceber que não temos medo de correr risco”, diz ele. “Essa personagem, quem sabe, pode nos ajudar a costurar o futuro da Marisol.”