Nós, consumidores, somos manipulados de tantas as formas pelas marcas que fica cada vez mais difícil separar o joio e o trigo quando nossa opção é pelo consumo de produtos responsáveis. E, infelizmente, nossas ferramentas individuais para punir as empresas que mentem descaradamente sobre os benefícios que prometem é muito restrita.

Uma ida ao supermercado comprova a tese. Um olhar atento e crítico aos produtos que fazem promessas de práticas sustentáveis podem causar decepções. Em muitos casos, a prova da postura desleal está na própria embalagem. Isso foi o que constatou o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) em uma pesquisa na qual dos 243 produtos analisados, 48% tinham indícios de greenwashing.

As manobras são as mais diversas, mas o instituto conseguiu resumi-las em sete principais que estão em um guia para alertar o consumidor sobre como se proteger para não cair no golpe do falso sustentável. É revoltante pensar que marcas usam desde selos não idôneos até informações notoriamente falsas para tentar surfar na mudança de hábito do consumidor. E pior, conseguem. Pior ainda, raramente são punidos pelos atos de má fé.

MENTIRA Selos como Flipper e Dolphin Free, comprados por empresas de atum, criam narrativa de pesca segura. Na prática, é impossível garantir que golfinhos não morrerão no processo. (Crédito:Divulgação)

Um exemplo, que não foi registrado no Brasil, mas que impacta marcas daqui também, pode ser assistido no documentário Seaspiracy: Mar Vermelho, disponível na Netflix. Em um determinado trecho, o filme mostra que uma das principais consequências da pesca em escala é a captura acidental de outras espécies. No caso da indústria de atum, a morte de golfinhos é o que eles chamam de efeito colateral. Uma parte dos consumidores americanos não gostou e deixou de comprar o peixe. Para ajudar a indústria, o Instituto Earth Island criou o selo Dolphin Free. Na promessa, ele deveria distinguir marcas com práticas seguras para evitar a morte acidental dos mamíferos. Mas quando o diretor da entidade Mark J. Palmer foi perguntado se era possível garantir o resultado, ele respondeu. “Não. Ninguém pode.” E ainda assim o selo é conferido. Assim como outros similares no mercado.

No fim, a força do dinheiro parece sempre prevalecer e o que todos buscam é uma maneira de aumentar vendas e faturamento. Estes que mentem ao consumidor deveriam ser punidos com rigor. O mundo, no entanto, não tem só o lado perverso e é possível encontrar empreendedores sociais que de fato estão olhando para a produção de produtos sustentáveis. Essa rede precisa ser fortalecida ao menos pelos consumidores que, de fato, têm consciência sobre o próprio impacto no planeta.

Lana Pinheiro é editora de ESG da DINHEIRO e editora da Dinheiro Rural