19/04/2013 - 21:00
A semana mal havia começado quando, nas primeiras horas da segunda-feira 15, o governo chinês decepcionou a todos ao divulgar um crescimento de “apenas” 7,7% no primeiro trimestre. O indicador, abaixo das expectativas de 8%, que já eram insuficientes para quem passou três décadas crescendo a taxas de dois dígitos, colocou em xeque a estratégia de Pequim de mudar o modelo econômico do país, dependente de investimentos em infraestrutura e do comércio exterior. Não é pouca coisa em se tratando da principal locomotiva global dos últimos anos.
Cena de horror: duas explosões perto da linha de chegada da Maratona de Boston mataram três pessoas,
na segunda-feira 15, deixaram centenas de feridos e ressuscitaram o pânico de novos atentados
“Isso significa que os preços das commodities devem cair ainda mais fortemente, provavelmente no nível em que estavam em 2002 e 2003, o que seria terrível para o Brasil”, diz Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim. Os reflexos da desaceleração chinesa foram sentidos nas principais bolsas de ações e commodities. Seguindo o fuso horário, as perdas começaram em Tóquio e terminaram em Nova York. Naquele mesmo dia, duas bombas explodiriam durante a maratona de Boston, nos Estados Unidos, deixando três mortos e centenas de feridos. Era mais um ingrediente na salada de incertezas dos investidores. A divulgação das primeiras imagens dos atentados automaticamente ressuscitou os traumas do fatídico 11 de Setembro de 2001.
Mas o caráter amador do ato terrorista – as bombas foram feitas com pregos e pólvora em panelas de pressão – amenizou, em princípio, os riscos financeiros. O economista Jason Vieira, que estava em Nova York no dia dos ataques ao World Trade Center, ligou para seus antigos parceiros de Wall Street assim que soube das bombas em Boston. “Meus colegas estavam muito tristes, mas já tinham a percepção de que esses atentados não teriam o mesmo impacto econômico”, diz Vieira. “Ainda mais sem a reivindicação por algum grupo internacional relevante.” Nos dias seguintes, foram interceptadas duas cartas endereçadas ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e ao senador republicano Roger Wicker, que continham a substância letal ricina.
Embora não tenham a mesma proporção de outros grandes atentados, esses episódios realimentaram a sensação de insegurança nos Estados Unidos. Isso se soma à já preocupante retórica bélica da Coreia do Norte contra a sua irmã capitalista no Sul, uma grande economia industrial altamente integrada com a cadeia de suprimento global. Para a Fitch Ratings, no entanto, os riscos de um iminente colapso da Coreia do Norte, o que traria custos de reunificação para a Coreia do Sul, continuam baixos. “Essa avaliação é parcialmente baseada pela experiência histórica recente, como em 2010, quando as tensões com a Coreia do Norte escalaram ainda mais”, informou a agência de avaliação de risco de crédito.
Luto e apreensão: abatido, Obama promete justiça pelas explosões em Boston. Em Nova York, operadores fazem um minuto de silêncio.
A segurança foi reforçada em Paris (à dir.)
A semana ainda foi recheada de indicadores ruins nos Estados Unidos, incluindo a queda na confiança do consumidor americano e o aumento no número de pedidos de seguro-desemprego. Na Europa, a grande exposição dos bancos alemães a países com problemas de crédito motivou o rebaixamento da nota de crédito da Alemanha de A+ para A, por parte da agência de rating americana Egan-Jones. Já a também americana Moody´s manteve o triplo A para a Alemanha, mas com perspectiva negativa, o que contribuiu para acentuar a volatilidade – e as perdas – no mercado financeiro. Na terça-feira 16, o Fundo Monetário Internacional (FMI) azedou ainda mais o humor dos investidores, ao reduzir a estimativa de expansão das principais potências internacionais neste ano (veja quadro ao final da reportagem).
“O caminho da recuperação nas economias avançadas vai permanecer instável”, diz o estudo do FMI, que culpa a atividade fraca na Europa e a contração fiscal americana pelo cenário menos otimista. Ao menos uma boa notícia veio do Japão, que, com uma política monetária bem agressiva, está tentando sair da estagnação. O fundo aumentou sua estimativa de crescimento. O Brasil, porém, não escapou ileso da bola de cristal acinzentada do FMI, que rebaixou a expansão do PIB de 3,5% para 3%, em 2013. Em entrevista à Folha de S. Paulo, a diretora-geral do órgão, Christine Lagarde, ressaltou que a prioridade brasileira deveria ser os investimentos em infraestrutura.
“Há muito a ser feito sobre os gargalos em portos, aeroportos e rodovias”, disse Lagarde. Além disso, ao divulgar o seu relatório, o FMI destacou que a dívida pública brasileira permanece muito elevada e afirmou que o melhor caminho é cumprir a meta cheia do superávit primário de 3,1% do PIB. Em comum, os países emergentes e desenvolvidos têm pela frente um cenário recheado de incertezas. Na lista dos fatores imponderáveis estão o surgimento de novos Chipres e Grécias na Europa, a falta de acordo fiscal nos Estados Unidos, uma desaceleração abrupta na China, uma guerra entre as Coreias e atentados terroristas de grande porte.
“Se algo dessa magnitude acontecer, pegará de surpresa uma economia mundial ainda fragilizada”, diz Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating. “É como deixar um time com apenas sete jogadores em campo. Eles vão tentar, mas será difícil evitar uma goleada.” Na sexta-feira 19, representantes do G-20, grupo responsável por 80% da produção mundial, se reuniram em Washington. Do Brasil, participaram o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em pauta, medidas para estimular a incipiente recuperação econômica global. Ao que parece, os oráculos da economia desistiram de bater na tecla do ajuste fiscal a qualquer custo e decidiram priorizar a demanda e a geração de empregos. É o primeiro passo para vencer a maratona do crescimento.