25/09/2015 - 8:39
Poucas indústrias do mundo conseguem sobreviver às mudanças tecnológicas e à modernização. Uma dessas exceções é capaz de, literalmente, controlar o tempo. Trata-se da fabricação de relógios de luxo. Ainda que, nos últimos anos, o celular tenha substituído o relógio de pulso como principal forma de contar as horas, para a maioria das pessoas, e que empresas de tecnologia, como a Apple, tenham entrado nesse segmento com dispositivos digitais e conectados, as tradicionais relojoarias passam por um período de bonança.
Somente os fabricantes suíços, por exemplo, exportaram um montante recorde de US$ 24,3 bilhões, no ano passado. “Sempre haverá novos desenvolvimentos na indústria, mas seguir as tendências não está no nosso DNA”, afirmou à DINHEIRO Juan-Carlos Torres, CEO da suíça Vacheron Constantin, a mais antiga fabricante de relógios em atividade, com 260 anos, completados na quinta feira 17. “Nossa maior preocupação é preservar a harmonia entre maestria técnica e elegância.” Como forma de comemorar seu aniversário, a relojoaria apresentou ao mercado uma peça, feita por encomenda, que é considerada a sua maior obra de arte.
O relógio possui um total de 57 “complicações”, como são chamados, no jargão do setor, os mecanismos responsáveis pelas funções da máquina. Ele está sendo considerado o relógio mais complexo do mundo, por sua enorme quantidade de funções. O pedido do cliente, cujo nome não foi revelado, era por uma joia moderna e inovadora, mas que fosse, ao mesmo tempo, clássica. Três mestres relojoeiros trabalharam exclusivamente no seu desenvolvimento, durante oitos anos.
O resultado do esforço foi um relógio de bolso, com caixa em ouro branco de 18 quilates, que traz funções inéditas, como um calendário hebraico perpétuo, além de outros dois calendários, um tradicional gregoriano e um baseado no sistema ISO 8601, utilizado pelo setor financeiro para padronização de balanços contábeis. Funções adicionais incluem mapa estrelar, cronógrafo duplo retrógrado, um mostrador que indica a equação do tempo, exibindo a discrepância entre o tempo solar verdadeiro e o tempo médio padrão, e um indicador para um segundo fuso horário, de 12 horas.
“A ideia era apresentar uma solução inovadora, e não apenas um sanduíche de complicações já conhecidas”, afirma Dominque Bernaz, vice-presidente de vendas da companhia. Seu preço não foi revelado. “É irrelevante, uma vez que a peça foi feita a pedido de um cliente, e já está vendida”, diz Bernaz. “Agora, me permita ressaltar que foi o relógio mais complicado que já fizemos e, certamente, o mais caro.” Em sites especializados, um Vacheron Constantin modelo feminino, também em ouro branco 18 quilates, pode ser encontrado pelo valor promocional de cerca de US$ 690 mil.
Segundo o CEO Torres, nos últimos dez anos, a companhia, fundada pelo relojoeiro suíço Jean-Marc Vacheron, em Genebra, em 1755, vem experimentando um forte crescimento, tanto em vendas quanto em produção. “Este ano, no entanto, está se mostrando desafiador por conta de questões políticas e econômicas, que estão influenciando a indústria”, diz Torres. Uma das forças que interferem nesse mercado é a China. Entre 2005 e 2012, por exemplo, as exportações de relógios suíços para a China cresceram 370%, chegando a US$ 1,64 bilhão, há três anos. De lá para cá, no entanto, o governo chinês impôs algumas restrições à compra de presentes extravagantes, gerando uma queda de mais de 7% na compra de relógios suíços.
No final do ano passado, os dois países assinaram um acordo que prevê a redução das tarifas de importação em 18%, no primeiro ano, chegando a um corte de 60% em uma década. “No primeiro semestre, registramos um crescimento de 5,3% nas exportações para a China”, afirmou Jean-Daniel Pasche, presidente da Federação das Indústrias Relojoeiras da Suíça, ao jornal The New York Times. Enquanto isso, a Vacheron se volta para outros mercados, como o latino-americano e o japonês. “Temos uma variedade de clientes, em todos os lugares do mundo, que têm em comum o fato de serem grandes conhecedores de relógios”, diz Torres. “Eles entendem que leva tempo para criar algo tão extraordinário.”