Nicolau Maquiavel, cinco séculos depois de ter moldado o pensamento e a ciência política moderna, está mais atual do que nunca. Não apenas devido aos seus ensinamentos sempre úteis aos Príncipes de plantão, mas também ao que tem a dizer aos banqueiros e investidores nestes momentos de crise internacional. Imagine se, por um capricho da história, o pensador florentino fosse vivo e virasse consultor dos maiores bancos privados. Na semana passada, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander divulgaram lucros menores que o esperado no primeiro semestre. O que o filósofo diria aos bancos diante da queda da atividade econômica e do crescimento da inadimplência nos últimos meses? Que façam muitas provisões contra os calotes – e de uma só vez. 

 

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Banqueiros, como os demais empresários, buscam o maior lucro para o capital investido, correndo o menor risco possível. Os acionistas das instituições financeiras, como os investidores das outras empresas, também exigem lucros e dividendos polpudos. Em qualquer lugar do mundo, os bancos vivem da confiança do público em sua solidez, pois todos operam alavancados (emprestam bem mais do que o patrimônio contábil) e nenhum abarrota caixas-fortes gigantes com dinheiro suficiente para devolver aos clientes de uma só vez, se necessário. Quando a economia vai bem, lucros elevados mostram que o dinheiro dos acionistas e dos investidores está sendo bem utilizado nos financiamentos à produção e na prestação de serviços. Naturalmente, quando os bancos têm retornos financeiros muito superiores aos das empresas dos outros setores, industriais e comerciantes costumam reclamar bastante. 

 

Mas e quando a economia vai mal? Bancos com lucros minguados são alvo de desconfiança, perdem clientes e são criticados por emprestar menos e exigir mais garantias. Nessas horas, os banqueiros mais conservadores reforçam a liquidez e aumentam suas provisões contra perdas, mesmo que isso leve a lucros menores. É bom que seja assim, diria Maquiavel. É preciso fazer todo o mal de uma só vez a fim de que, provado em menos tempo, pareça menos amargo. E quando voltarem a fazer o bem, que o façam aos poucos, para que seja melhor saboreado. Só não podem ficar parados e perder o bonde do crescimento no segundo semestre. Se as carteiras de crédito voltarem a crescer de forma responsável, com os juros mais baixos e de acordo com a capacidade de pagamento das empresas e das famílias, todos ganharão mais no longo prazo. Embarcar em farras de crédito, como se viu nos Estados Unidos e na Europa até 2008, não é uma boa estratégia.