Animada com os resultados obtidos no Brasil desde que se associou ao Banco do Brasil (BB), a seguradora Mapfre, a maior da Espanha, dona de um faturamento que chegou a € 23 bilhões no ano passado, quer mais. O CEO Antonio Huertas esteve em São Paulo na semana passada para anunciar que a companhia começará a vender planos de saúde no País em 2013. Foi sua primeira viagem internacional desde que assumiu o cargo, há dois meses. A operadora de planos de saúde do grupo espanhol, com capital de R$ 20 milhões, espera as últimas autorizações da Agência Nacional de Saúde (ANS) para começar a competir num mercado dominado por gigantes nacionais como Bradesco, Sul América e Amil. É no Brasil que a Mapfre fará o maior volume de investimentos entre os 47 países onde atua: R$ 250 milhões nos próximos meses. 

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Antonio Huertas, CEO da Mapfre: ”Compensamos no Brasil e nos EUA

a falta de crescimento na Espanha”.

 

Além da operadora de saúde, abrirá uma empresa própria de consórcios com capital de R$ 25 milhões, construirá um centro de processamento de dados em São Paulo para toda a operação da América Latina, que custará R$ 200 milhões, e pretende expandir a rede de filiais no País. Inicialmente, a Mapfre venderá só planos de saúde empresariais, principalmente para companhias de médio e pequeno portes, evitando a dura regulamentação da ANS sobre o atendimento individual. A companhia pretende chegar a 300 mil segurados em três anos, fincando pé no ramo que representa mais de 30% do mercado segurador brasileiro. No ano passado, os brasileiros gastaram R$ 82 bilhões em saúde suplementar. Para tomar participação das grandes brasileiras, a Mapfre deve oferecer coberturas pouco comuns aqui, como a de assistência psicológica ou o armazenamento de sangue de cordão umbilical de bebês para tratar doenças futuras.

 

Não por acaso, Huertas aposta todas as fichas no País. A crise europeia, que atinge duramente a Espanha, torna o Brasil peça-chave para melhorar os resultados das companhias espanholas. A seguradora que a Mapfre opera em associação com o BB ficou em segundo lugar no ranking nacional no ano passado, com participação de 12,4% e faturamento de R$ 9,3 bilhões. Com isso, a Mapfre dobrou sua receita no Brasil, onde controla também uma resseguradora e uma empresa de capitalização. “É o nosso maior mercado fora da Espanha”, disse Huertas à DINHEIRO pouco antes do anúncio oficial. “As receitas no Brasil chegarão neste ano a 20% do total global.” O Brasil já responde por mais da metade dos prêmios arrecadados pela Mapfre na América Latina, e Huertas está animado com a perspectiva de que o mercado segurador local dobre de tamanho. 

 

“Estamos equilibrando a falta de crescimento do negócio na Espanha e no mercado europeu com as operações no Brasil e nos Estados Unidos”, afirmou Huertas. A situação é semelhante à de outras empresas espanholas que dependem da América Latina, como a Telefônica e o banco Santander, para contrabalançar maus resultados na Europa. No caso da Mapfre, 62% de suas receitas provêm das operações internacionais. O executivo não se arrisca a prever quando a situação na Espanha vai se normalizar. “O problema hoje é a especulação nos mercados, mais do que a solvência do País”, diz. Huertas acredita que medidas de austeridade, como a reforma trabalhista, demorem para surtir efeito sobre a taxa recorde de desemprego, de 25%. 

 

Sua esperança, como a de muitos espanhóis, é de que o novo presidente francês, François Hollande, convença a chanceler alemã, Angela Merkel, de que o problema europeu não se resolve só cortando gastos. E que políticas de estímulo ao crescimento – e, por consequência, a arrecadação de impostos – são necessárias para evitar uma espiral de déficits orçamentários insolúveis. “A Espanha está certa em reduzir o déficit gradualmente”, diz Huertas. “As políticas ditadas pela Alemanha não dão chance ao crescimento.” De acordo com o CEO da Mapfre, hoje é melhor para a Europa que a Grécia abandone o euro. “Chega um momento em que é melhor isolar o que está contaminado para que não prejudique o conjunto”, afirma. A Mapfre já se preveniu: zerou o risco de perdas com a dívida grega no seu balanço. Mas sua verdadeira apólice de seguro é investir no Brasil. 

 

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