20/06/2012 - 21:00
O clube de futebol inglês Manchester United desistiu dos campos na Ásia e agora vai entrar em disputas pesadas nos Estados Unidos. Não, o time não mudou de liga, nem passou a jogar futebol com as mãos e sem goleiro. O que a família Glazer, proprietária de um dos times que mais fatura no mundo – a receita em 2011 foi avaliada em € 367 milhões pela consultoria Deloitte –, quer nos Estados Unidos são dólares, muitos dólares. O clube, que já levantou a taça do campeonato inglês pelo número recorde de 19 vezes, vai abandonar o projeto de abrir seu capital na bolsa em Cingapura.
Novos fãs: nos EUA, clube inglês deve atrair mais investidores institucionais.
Em vez disso, a estratégia agora é armar o time em plena Wall Street. A estratégia de fazer o Initial Public Offering (IPO) na Ásia justificava-se pela possibilidade de atrair o interesse dos pequenos investidores locais. Japoneses, coreanos, sauditas e habitantes de todo o Oriente Médio são aficionados por futebol, e o Manchester tem milhares de fãs nesses países – segundo estimativas, 80% dos torcedores estão na Ásia e não na Inglaterra. No entanto, o desejo de tornar o símbolo do clube uma marca mundial e o fato de seus controladores serem americanos mudaram a alternativa para a captação.
A família Glazer, que adquiriu o controle do Manchester em 2005 e já é proprietária do time de futebol americano Tampa Bay Buccaneers, da Flórida, pretende fazer com que a torcida, especialmente os investidores institucionais, compareça com US$ 1 bilhão na bilheteria. Há boas razões para isso. As bolsas asiáticas têm sofrido com adiamentos e desistências de grandes aberturas de capital. Os proprietários da Fórmula 1, encabeçados pelo fundo de private equity CVC Capital Partners, decidiram adiar a estreia na bolsa de Cingapura, avaliada em US$ 2,5 bilhões e marcada inicialmente para o início de junho, para o segundo semestre do ano.
Adiado: IPO da Fórmula 1foi transferido para o segundo semestre.
Na última semana de maio, quatro empresas – com um total de US$ 2,3 bilhões – trilharam o mesmo caminho e desistiram de captar recursos em mercados asiáticos, três delas em Hong Kong. “O mercado americano tem menor risco e esse tipo de empresa acaba se tornando novidade para o investidor”, afirma Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas. Alessandro Tommasi, economista especializado no mercado de capitais, também concorda que, apesar dos solavancos, a economia americana ainda está mais estável do que alguns exemplos europeus e asiáticos. “Mas acredito que, mesmo confirmando a mudança de local do IPO, o clube inglês vai esperar um sinal de melhora na economia para efetivamente abrir seu capital”, diz.
Segundo Tommasi, o mercado em geral está bastante fechado e, principalmente após o fiasco da oferta do Facebook – cujos papéis já acumulam perdas de mais de 25% desde o início das operações em 18 de maio –, em compasso de espera. Além disso, se os proprietários do Manchester United avaliarem os números de outros clubes de futebol com capital aberto, podem ficar na retranca. Nas últimas 52 semanas, o índice Stoxx Europe Football, que cobre 21 equipes listadas nas bolsas da Europa, está amargando uma queda de 39%. Para Tommasi, por mais fanático que seja, o torcedor vai avaliar os retornos financeiros de comprar ações de um time de futebol. “É um mercado que seduz, mas na hora de juntar paixão com dinheiro, a coisa muda de figura”, afirma.