Depois de oito meses à frente da Semp Toshiba, o empresário Affonso Brandão Hennel, aos 84 anos, retornou para a presidência do conselho de administração da fabricante de televisores, a única controlada pelo capital nacional. Em seu lugar, ele escolheu o vice-presidente administrativo e financeiro Ricardo Freitas, 47 anos, que desde janeiro é o novo CEO da companhia. Caberá a Freitas, advogado de formação, a missão de recolocar a companhia nos trilhos da rentabilidade. “Será o ano da retomada”, disse Freitas em entrevista exclusiva à DINHEIRO, na sede da companhia, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, referindo-se a 2014.

 

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O sucessor: Freitas, advogado de formação, trabalha há oito

anos na Semp Toshiba

 

Freitas assume o comando da Semp Toshiba depois de uma traumática reestruturação realizada, no ano passado, pelo Dr. Affonso, como é chamado pelos funcionários. O empresário abandonou sua aposentadoria e voltou à linha de frente da empresa, afastando seu filho Afonso Antônio Hennel da presidência. O motivo da intervenção foram dois anos consecutivos de prejuízo, estimados na casa dos R$ 130 milhões. Nesses oito meses em que colocou a mão na massa, Hennel adotou medidas amargas, promovendo uma verdadeira lipoaspiração na companhia fundada por seu pai na década de 1940. “Foram meses intensos”, afirma Freitas. 

 

“Reposicionamos a empresa e eliminamos as deficiências estruturais.” Um dos resultados do enxugamento foi a demissão de 40% do quadro de pessoal em 2013, que foi reduzido de 2,6 mil para 1,6 mil empregados. A fábrica de informática em Salvador foi fechada. Parte da produção foi transferida para Manaus, onde são montados os televisores. Em outra decisão estratégica de Hennel, a Semp Toshiba deixou o mercado de desktops e de celulares, concentrando sua atividade em notebooks e tablets. A marca STI foi descontinuada. Agora, a companhia trabalha apenas com as grifes Semp e Toshiba em todas as suas linhas, inclusive de televisores. 

 

Negócios considerados não essenciais estão em fase de venda. Entre eles, está uma startup da área de semicondutores cujo comprador é a Toshiba. Uma empresa de energia hidrelétrica e a divisão de multifuncionais estão em fase final de negociação. “Esses negócios roubavam tempo, atenção e nos dispersavam”, afirma Freitas. Até a sede da companhia, localizada em um terreno de 27 mil metros quadrados, nas imediações da Marginal Pinheiros, uma área nobre de São Paulo, entrou na reestruturação. Lá, seis torres comerciais serão erguidas, em uma parceira com a construtora paulista Helbor. 

 

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Aposentadoria?: Hennel voltou ao conselho, mas ainda

vai diariamente à Semp Toshiba

 

Em vez de vendê-lo, Hennel resolveu partilhar os ganhos da incorporação do terreno e receberá uma participação no projeto. “Recebíamos até oito propostas por mês de interessados na área”, diz Freitas. Esse conjunto de medidas, no entanto, não foi suficiente para evitar um prejuízo estimado em R$ 200 milhões, em 2013 – o número não é confirmado por Freitas, que apenas que afirma ter tido um “resultado negativo forte” no ano passado. O faturamento de R$ 1,5 bilhão é praticamente o mesmo de 2012. A boa notícia para a Semp Toshiba é que, desde setembro do ano passado, a companhia trabalha de forma equilibrada. 


“Estamos de volta aos trilhos e vamos retomar o crescimento em 2014”, diz Freitas. “Mas com rentabilidade.” Uma das estratégias será fortalecer a marca Toshiba. Nos últimos cinco anos, ela representava apenas 10% dos produtos vendidos pela companhia. O ideal é retomar um patamar de 50%, como na década de 1990 e no início dos anos 2000. A Semp Toshiba foi uma das empresas mais inovadoras do Brasil. Fundada em 1942, ela fabricou o primeiro rádio brasileiro, assim como a primeira televisão. Em 1977, associou-se com os japoneses da Toshiba, que compraram 40% de seu capital, mantendo essa participação até hoje. 

 

De 1997 a 2007, a empresa liderou a venda de tevês no País. A partir de 2008, os negócios começaram a desandar. Parte dos problemas é devido à concorrência acirrada com as coreanas Samsung e LG. Agora, com a casa arrumada, a companhia ganha uma nova chance sob o comando de Freitas. Não pense, no entanto, que Hennel não estará por perto acompanhando seu sucessor. Ele ainda vai diariamente à empresa e chega sempre bem cedo, por volta das 7 horas da manhã. Sua sala é contígua à de Freitas e tem uma porta que dá acesso direto ao novo presidente.

 

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