19/09/2012 - 21:00
Desde que chegou ao Brasil, em 2008, o fundo de private equity americano Carlyle, com patrimônio de US$ 156 bilhões, estava de olho na rede de móveis Tok&Stok. As conversas entre o executivo Daniel Sterenberg, diretor do fundo americano, e o casal francês Regis e Ghislaine Dubrule, controlador da rede, enfrentaram muitos obstáculos. O primeiro era o plano de abrir o capital da companhia na bolsa, abortado pela crise. Depois, foi a disputa com outros fundos, quando a família organizou um processo formal de venda de controle. O Carlyle finalmente selou o negócio na quarta-feira 12, pagando R$ 700 milhões por 60% da Tok&Stok.
“Escolhemos o Carlyle não só pelo preço, mas pela proposta de administração do fundo, que respeita a cultura da empresa”, diz Regis Dubrule. Ele e o filho Paul, diretor-financeiro, irão para o conselho de administração. Líder no varejo de móveis no País, com 35 lojas e faturamento de R$ 1 bilhão, a Tok&Stok agora tocará um ambicioso plano de expansão. A responsável será Ghislaine, nomeada pelo Carlyle como CEO até 2014, para quando está planejada sua abertura de capital. Do total pago pelo Carlyle, cerca de R$ 140 milhões reforçarão o caixa da empresa. O objetivo é dobrar a receita da companhia em até cinco anos. “A empresa é bem administrada e praticamente não tem concorrentes num mercado que é muito pulverizado”, diz Sterenberg.
Comprador serial: Sterenberg, do Carlyle, que negociou com a Tok&Stok, também fechou
a compra da operadora de turismo CVC
Já está planejada a inauguração de sete novas lojas no ano que vem, mas o aporte de capital poderá acelerar os planos. A intenção é crescer no Nordeste e no Sul do País, além do interior de São Paulo. Hoje, a rede concentra-se em São Paulo e no Rio de Janeiro e tem apenas três lojas no Nordeste. O potencial de crescimento do setor de móveis no Brasil é muito grande. Enquanto o gasto per capita é de US$ 56 anuais no País, está próximo de US$ 250 nos Estados Unidos. A aposta do Carlyle na Tok&Stok reflete uma expectativa de crescimento nos próximos anos das classes A e B, principal público da rede. Para Eugênio Foganholo, da consultoria Mixxer, a venda do controle da Tok&Stok permitirá que a rede alcance seu potencial.
Ghislaine e Regis Dubrule: ela será CEO da rede até 2014;
ele vai para o conselho
A empresa sempre foi muito inovadora, mas não cresceu tanto nos 34 anos de vida. “Foi um crescimento muito tímido”, diz Foganholo. Esse é o quarto investimento do Carlyle no varejo brasileiro, depois das aquisições das redes de brinquedos Ri Happy e PBKids e da fabricante Trifil, que tem lojas próprias. Estudo da consultoria AT Kearney coloca o Brasil como o melhor país do mundo para investimentos no setor, superando a China e Índia. “Embora tenha menos consumidores, o País tem segurança jurídica e democracia”, diz Ricardo Pastore, coordenador do núcleo de estudos do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Apesar de ter vendido o controle, a família Dubrule permanecerá muito próxima do negócio. “Vendemos para facilitar a divisão de patrimônio mais à frente e evitar desentendimentos entre nossos cinco filhos, que se dão muito bem”, diz Regis Dubrule. A CEO Ghislaine admite que era ela a que mais resistia a abrir mão do controle. “Isso era mais doloroso para mim”, diz. Mas o plano do casal a longo prazo é recuperar a proeminência entre os acionistas, quando o capital da empresa estiver pulverizado. “É inevitável que, depois do IPO, o Carlyle venda sua participação’’, afirma o empresário. “E nós seremos os maiores acionistas”.