Num país que defenestrou uma presidente sem crime, manter um rodeado de denúncias faz sentido. Uma série de áudios divulgados pelo UOL e atribuídos a Andrea Siqueira Valle, uma ex-cunhada de Jair Bolsonaro, indica que o presidente da República teria se envolvido diretamente no crime conhecido por rachadinha – se apropriar do salário (pago por você) de assessores, prática tão comum na política brasileira quanto a existência de curvas em projetos de Oscar Niemeyer. Andrea afirmou, nos áudios, que seu irmão (André Siqueira Valle) foi demitido por se recusar a passar ao então deputado Jair Bolsonaro o valor acordado. “Tinha que devolver R$ 6 mil, ele (André) devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’.”. Andrea e André são irmãos de Ana Cristina Siqueira Valle, mãe do filho 04 (Jair Renan). Outros rebentos parlamentares do presidente são envolvidos em acusações similares.

BBB DA CPI
Papéis suspeitos

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Na terça-feira (6), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou durante a CPI da Covid que documento apresentado dia 23 de junho pelo governo federal para rebater acusações de irregularidades no contrato superfaturado e envolto em propina de compra da vacina Covaxin foi manipulado. Grosseiramente manipulado, conforme ela mostrou. O documento foi levado por figuras notórias no imbróglio — o político profissional e médico Onyx Lorenzoni (ministro da Secretaria-Geral da Presidência) e o coronel da reserva Elcio Franco (assessor especial da Casa Civil e ex-braço direito do estrategista sanitário Eduardo Pazuello). Após a apresentação feita por Tebet, a também senadora Elizaine Gama (Cidadania-MA) solicitou que seja feita perícia no material. “A gente pode resumir tudo isso de forma bem objetiva: briga de gangues”, afirmou Tebet. “Uma gangue denuncia a outra porque está perdendo espaço.”

NOME SUPREMO
STF: André Mendonça é o cara

Pedro Ladeira

Aparentemente, Jair Bolsonaro deve indicar o comandante da Advocacia Geral da União (AGU), André Mendonça, para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) que será aberta com a aposentadoria compulsória de Marco Aurélio Mello. Mendonça disputava a preferência do presidente com o procurador-geral da República, Augusto Aras, cuja tentativa de juntar inércia e vácuo em vez de prezar pela biografia e pelo cargo parece ter resultado em nada — sua cadeira já foi famosa por funcionários públicos preocupados em engavetar a lei. Será o segundo nome de Bolsonaro para compor a corte suprema. O primeiro foi o de Kassio Nunes Marques. Em oito meses de mandato, Kassio se posicionou 20 vezes a favor de causas de seu padrinho. Apedrejado por Gilmar Mendes em votações do STF, o piauiense disse que “aos que não me conhecem, ainda tem um pouco mais de 26 anos para me conhecer”. Pior que é verdade. Para indicar Mendonça em vez de Aras pesou o fato de o primeiro ser “terrivelmente evangélico”, o que, como bem sabemos, é prerrogativa para ocupar o mais alto posto do judiciário nacional.

VLADIMIR PUTIN
Champagne, só em russo

Divulgação

Na sexta-feira (2), o presidente Vladimir Putin (Poutine, em francês) decidiu validar uma lei que determina que produtores russos possam exibir a marca champagne em seus produtos e os franceses, detentores dessa denominação (afinal, Champagne é o nome de uma região, à direta de Paris), não mais. Assim, garrafas de Dom Pérignon, Krug ou Veuve Clicquot só podem agora ser negociadas no país com a nomenclatura de “espumantes”. Estima-se que 13% dos 50 milhões de litros de espumante e champanhe importados anualmente pela Rússia são da França. Culturalmente, entre os russos champagne é uma denominação genérica para espumantes. No final da década de 1930, o ditador Josef Stalin havia mandado criar um “champanhe soviético” de produção em massa com o objetivo de torná-lo acessível a todos. Com a lei atual, a intenção é promover os produtores locais, em particular os da Crimeia. Os franceses prometem reagir.

Divulgação

“Bebo champanhe quando estou alegre e quando estou triste. Algumas vezes, bebo quando estou sozinha. Se estou acompanhada, considero obrigatório. Bebo uns golinhos quando estou com fome. Fora isso, não toco nele — a não ser, é claro, que esteja com sede.” Lily Bollinger (1899-1977) Ex-CEO da Bollinger.

PROCURADORIA
Privatização dos Correios em xeque

Augusto Aras, procurador-geral da República, se posicionou de maneira contrária à privatização de serviços postais e do Correio Aéreo Nacional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), informou o Ministério Público Federal na terça-feira (6). A manifestação foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e argumenta que a Constituição não permite a prestação indireta dos serviços postais e do correio aéreo. “A empresa até poderia ser cindida, com a desestatização da parte que exerce atividade econômica”, disse Aras, na ação.

INTERNACIONAL
Limpando a sujeira de Trump

Christian Hartmann

Donald Trump já não preside os Estados Unidos há cinco meses, mas os efeitos de sua (má) gestão ainda ecoam na “maior democracia do mundo”, como se denominam os filhos do Tio Sam. E desta vez foi o Pentágono que reajustou o rumo para desviar do legado Trump. Na terça-feira (6) o departamento de defesa comunicou o rompimento de um contrato de US$ 10 bilhões com a Microsoft para computação em nuvem, e o motivo foi uma suposta interferência trumpiana na licitação em detrimento da Amazon. No embate entre Bill Gates (fundador da Microsoft) e Jeff Bezos (fundador da Amazon) quem levou a pior foi o Pentágono, que precisou assumir que o contrato firmado para a Joint Enterprise Defense Infrastructure (Jedi) não seria levado adiante e ainda terá que prestar contas de outros acordos firmados sob olhar de Trump.

MAIS RICO
Saverin passa Lemann

Goodman Media International

Este é o tipo de disputa em que ninguém fica triste ou ferido. Na segunda-feira (5), Eduardo Saverin, cofundador do Facebook, tornou-se o brasileiro mais rico segundo o ranking da Forbes, ultrapassando Jorge Paulo Lemann. Saverin nasceu em São Paulo, mas mudou-se para os Estados Unidos com 10 anos — hoje tem 39 e vive em Singapura como investidor em empresas de tecnologia. Sua fortuna soma US$ 19,5 bilhões (US$ 101 bilhões, na terça-feira), pouco acima da de Lemann (US$ 19,4 bilhões).