23/11/2011 - 21:00
Acampados desde o dia 15 de outubro sob o tradicional Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, os participantes do Ocupa Sampa receberam uma visita improvável na segunda semana de novembro. Um senhor distinto se aproximou dos militantes que se inspiraram no protesto americano Occupy Wall Street – desalojado pela polícia de Nova York no início da semana – e conversou durante meia hora com os manifestantes. Os interlocutores se surpreenderam quando ele se identificou como Raymundo Magliano Filho, dono da corretora Magliano e ex-presidente da Bovespa. Hostilidade? Nenhuma. “Batemos um papo ótimo, eles expuseram suas posições e eu perguntei como poderia ajudar”, diz Magliano. Ele ofereceu uma ajuda financeira, mas os manifestantes são contrários ao dinheiro impuro dos mercados. Alimentos seriam mais úteis. Assim, Magliano preparou um carregamento de arroz, feijão, pão e leite e levou para os acampados, em seu carro. “Precisamos aprender a ser tolerantes e a aceitar as diferenças sem preconceito.”
Apito na avenida paulista: Magliano (à dir.) solta o verbo contra o mercado
No feriado da terça-feira 15, ao lado de vizinhos que mobilizou, ele engrossou o minguado grupo de manifestantes que protestavam contra a corrupção na avenida Paulista, em São Paulo. “Pena que a chuva atrapalhou e havia pouca gente”, diz. O que um representante do mercado financeiro tem em comum com um grupo tão heterogêneo de manifestantes que inclui de anarquistas a defensores da descriminalização da maconha? “Precisamos reformar o capitalismo”, diz Magliano. “Não é possível continuar a sustentar a ganância do sistema financeiro.” Não, o ex-presidente da bolsa não se converteu em militante do PSTU. Sua crítica é embasada nas obras do filósofo e cientista político italiano Norberto Bobbio. “O mercado ficou tão grande e poderoso que está suplantando os Estados e a própria política”, diz Magliano. Assim, a solução para a crise tem de ser encontrada na sociedade civil.
O movimento mais recente do empresário pode parecer surpreendente, mas está em linha com sua atuação à frente da bolsa, no início da década passada. Naquela época, o mercado acionário quase desapareceu, tanto por causa das crises internacionais quanto por sua pequena representatividade. A solução encontrada por Magliano foi fomentar o aumento da participação da sociedade na bolsa, uma maneira de acabar com a visão de que o pregão era um cassino em que tubarões engoliam sardinhas indefesas. “Estimulamos trabalhadores, mulheres e jovens a participar da bolsa, para aumentar sua legitimidade na sociedade”, diz ele. O momento agora é parecido. “Se não nos mobilizarmos, o sistema financeiro vai mandar nos países e nos Estados, e isso é nefasto para o mundo, a sociedade e a democracia.” Algo que o megaespeculador George Soros defende há alguns anos. Eles sabem o que dizem.