A maior vantagem das empresas que fabricam papel e celulose no Brasil, em relação aos grandes competidores do Hemisfério Norte, sempre foi o reduzido tempo de maturação das florestas e a elevada produtividade. Por aqui, são necessários apenas sete anos para que o eucalipto, principal matéria-prima local, atinja o ponto de corte e cada hectare renda 44 metros cúbicos por ano, um número portentoso quando comparado aos da Finlândia e da Suécia. Nesses países, é necessário esperar 40 anos pelo crescimento da bétula, espécie utilizada nos países nórdicos, que  rende míseros quatro metros cúbicos por hectare anualmente. Apesar dessa vantagem, as fabricantes do setor no Brasil começam a ampliar suas apostas na biotecnologia, de olho no desenvolvimento de espécies capazes de produzir mais fibras de celulose, utilizando menos recursos naturais. Uma das companhias que estão liderando essa corrida é a Suzano Papel e Celulose. Seu principal movimento nesse sentido foi a compra da israelense FuturaGene por US$ 83 milhões, em julho de 2010.

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Concentração: Hirsch, CEO da FuturaGene, diz que 40% da verba de pesquisa para 2012 vai ser aplicada no Brasil

Com a transação, a Suzano se tornou majoritária em um negócio do qual detinha uma parcela de 8%. E isso já começa a ter impacto na estratégia da FuturaGene. Da verba de investimentos para 2012, estimada pelo mercado em cerca de R$ 50 milhões, 43% serão gastos no Brasil. O restante vai ser dividido entre Estados Unidos, Israel e China, onde a empresa também possui centros de pesquisa. “O Brasil reúne as credenciais para se tornar um dos líderes em biotecnologia”, disse à DINHEIRO Stanley Hirsch, CEO da FuturaGene. As palavras de Hirsch não são apenas figuração para fazer média com os principais acionistas da FutureGene. Pesquisas conduzidas no laboratório que a companhia possui em Itapetininga (SP), onde está situada uma das fábricas da Suzano, já levaram à criação de uma espécie transgênica de eucalipto.  

O material está em fase  de certificação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e é fruto do esforço da equipe composta por 33 pesquisadores. Na avaliação de Hirsch, uma das grandes vantagens da FuturaGene é o fato de possuir parcerias com empresas situadas em todos os continentes, que dominam 65% da área plantada de eucalipto existentes no mundo. Isso garante a possibilidade de fazer testes com diversas espécies, em vários tipos de solo. Além do melhoramento genético do eucalipto, outros dois segmentos também estão na mira da FuturaGene: biocombustíveis e bioeletricidade. 

 

No primeiro caso, a ideia é explorar a segunda geração do etanol, que consiste em produzir o combustível a partir de restos florestais. Atualmente, sua única fonte é a cana, no Brasil, a beterraba, na Europa, e o milho, nos Estados Unidos. Outro trabalho supervisionado por Hirsch é a utilização de pellets de madeira, um tipo de lenha, para a queima em processos de co-geração de eletricidade. “Boa parte da demanda energética global poderia ser equacionada com apenas 20% dos pellets de madeira disponíveis,” afirma. Para atuar nesse setor, a família Feffer, controladora do grupo Suzano,  criou a divisão Suzano Energia Renovável, que está implantando um parque industrial no interior do Maranhão, que deverá consumir cerca de R$ 1 bilhão.

 

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