09/05/2012 - 21:00
Nos últimos seis meses, o mercado automotivo brasileiro foi sacudido por diversos lançamentos. A filial da General Motors colocou nas ruas o sedã Cobalt, a nova picape S10 e o superesportivo Cruize Sport6. Por sua vez, a subsidiária da Fiat inundou suas revendas com o Grand Siena, um sedã que vai concorrer com o Honda City, e o novo Palio, seu mais novo carro global. A única exceção no “trio de aço” é a alemã Volkswagen. Seu último carro inteiramente novo, o Voyage, o sedã derivado do Gol Geração V, entrou na linha de montagem da filial no fim de 2008. Desde então, a empresa vem concentrando suas forças na renovação do portfólio, em especial dos modelos mais bem posicionados em seus segmentos.
Caixa forte: Schmall, presidente, dispõe de R$ 8,7 bilhões para investir até 2016.
Isso ficou mais evidente, ainda, há duas semanas, quando a Volks apresentou ao mercado alguns de seus trunfos para 2012: as versões reestilizadas de Golf, Fox, Gol Geração IV, Gol Geração V e Polo. Isso significa dizer que a montadora está de braços cruzados assistindo à movimentação da concorrência? Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil, 48 anos, naturalizado brasileiro, garante que não: “Trabalhamos duro todos os dias para termos condições de defender nossa posição e de atacar quando for o caso.” Segundo o executivo, uma das formas de se manter na disputa pela liderança – sua empresa está 1,60 ponto percentual atrás da Fiat – é a ampliação da gama de versões de um mesmo modelo. Entre eles um dos destaques é a linha verde, batizada de BlueMotion, cujo mais novo integrante é o Fox.
Seu principal atrativo é o consumo reduzido, de até 23,2 quilômetros com apenas um litro de combustível. A safra de “lançamentos” também contempla veículos de maior valor agregado, como Golf e Polo, que ganharam versões com mais opcionais de série. “Acreditamos que o carro do futuro será tão customizado quanto um terno”, diz Schmall. Com isso, além de prolongar a vida de seu portfólio, o executivo também espera manter aquecido o movimento nas concessionárias, apesar de não dispor de nada realmente novo para mostrar. Uma estratégia que encontra eco na rede de concessionárias da marca, a maior do País. “O consumidor brasileiro não gosta de mudanças muito rápidas”, afirma Sérgio Reze, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores Volkswagen (Assobrav).
Econômico: segundo a Volkswagen, o Fox BlueMotion é capaz de rodar até 23,2 quilômetros
com um litro de combustível.
“Ele teme que, ao ser retirado de linha, o veículo que escolheu perca valor de revenda.” Essa estratégia, no entanto, possui limitações. É que, apesar de modelos clássicos, como o Gol, lançado em 1980, o Fox, concebido em 2003, e a veteraníssima Kombi, de 1950, ainda despontarem como campeões de vendas em suas respectivas categorias, o mercado brasileiro vem mudando rapidamente. “As montadoras asiáticas estão de olho no nicho de veículos populares, que sempre foi o principal trunfo da Volkswagen”, diz Olivier Girard, sócio-diretor da Macro Logística Consultores, de São Paulo. Para partir para o ataque, Schmall conta com a autorização da matriz para investir R$ 8,7 bilhões no período 2012-2016. Cerca de 70% serão gastos no desenvolvimento e produção local de veículos.
Um deles deverá ser o subcompacto Up!, que acaba de ser lançado na Europa. “Precisamos ampliar nosso portfólio acima e abaixo do Gol”, afirma. Desenhado para ser um carro essencialmente urbano, ele chega para enfrentar a sul-coreana Hyundai e a chinesa Cherry, que vão produzir localmente veículos para o chamado segmento de entrada. Comercializados por até R$ 35 mil, eles responderam por 35% das vendas do setor em 2011. Outra que vai percorrer essa trilha é a japonesa Toyota. Sua arma é o Etios, que vai ser produzido em sua unidade situada em Sorocaba (SP). Mas a chegada do Up! às ruas ainda depende de alguns estudos e trâmites burocráticos, inclusive a construção de uma nova fábrica em Taubaté, no Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. O projeto inicial previa a instalação da unidade em Pernambuco.
Resposta alemã: o subcompacto UP! deve ajudar a VW a enfrentar
as montadoras asiáticas no Brasil.
“Estamos acompanhando a evolução do mercado para poder agir”, diz o presidente da Volks. Schmall garante que só vai tirar o plano da gaveta quando o mercado voltar a se aquecer. Dados divulgados pela Fenabrave, entidade que reúne as revendas de veículos, indicam que as vendas continuam fracas. Em abril, a comercialização de automóveis e comerciais leves recuou 13,8% em relação ao mês anterior. Antes de partir para a ofensiva, o presidente da Volks pretende concluir a tarefa de arrumação da casa. Entenda-se por isso a revitalização tecnológica das unidades de Taubaté e de São Bernardo do Campo, município da Grande São Paulo que compõe a região do ABC.
Esse processo já consumiu R$ 2 bilhões na última década e outros bilhões de reais serão gastos nos próximos anos. Elas são vistas como essenciais para os planos do presidente da Volks. Prova disso é que serão preparadas para operar nos moldes da plataforma batizada de Arquitetura Modular Transversal, mais conhecida pela sigla MQB. O primeiro filhote dessa família é o Audi A3. Com isso, a subsidiária brasileira da Volks, que hoje responde por 15% das vendas mundiais da marca, espera ocupar um papel de maior relevância dentro do grupo. Isso porque essa tecnologia permite fabricar, em uma mesma linha, modelos como Golf Geração VII, Tiguan e Passat. “O Brasil caminha para ser o mercado mais forte da Volks”, afirma Schmall.