31/01/2014 - 21:00
Quando se trata de empresas chinesas, os números que as acompanham costumam assumir proporções superlativas. No caso da State Grid não é diferente. A companhia é a terceira maior do país asiático e a sétima do mundo. Nos projetos de que participa, tudo parece adquirir um tamanho ainda mais impressionante. Dona de um faturamento anual em torno dos US$ 300 bilhões, ela é responsável por gerenciar 600 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia elétrica em seu país de origem, o suficiente para atender 1,1 bilhão de consumidores. Isso representa quase seis vezes o tamanho de todo o sistema elétrico brasileiro.
Eletricidade: empresa responsável por abastecer 1,1 bilhão de chineses e manter
metrópoles como Xangai agora avança no Brasil
Pois esse colosso está prestes a dar o seu mais audacioso passo no Brasil. A State Grid entrará como favorita, em parceria com a Eletrobrás, no leilão que será realizado na sexta-feira 7 para definir quem vai construir o linhão da hidrelétrica de Belo Monte, responsável por escoar para o Sudeste a eletricidade gerada no rio Xingu, no Pará. O vencedor da licitação precisará investir em torno de R$ 5 bilhões na criação de uma linha de dois mil quilômetros de extensão, o que fará dela a segunda mais longa do País. Com capacidade de trafegar 800 quilovolts, a linha também será uma das poucas de ultratensão do mundo.
A State Grid tem a seu favor o fato de não ser uma novata em projetos desse porte. Sediada em um país de dimensões continentais, a companhia desenvolveu na China uma rede para transportar grandes volumes de energia por longas distâncias. Nos últimos oito anos, investiu US$ 500 bilhões na construção e operação de uma infraestrutura formada por linhas que superam até os mil quilovolts de tensão. Além da forte possibilidade de participar do projeto de Belo Monte, a empresa tem outros planos ambiciosos para o Brasil.
Império de alta tensão: a State Grid investiu US$ 500 bilhões nos últimos oito anos, incluindo
a construção de uma rede na China com algumas das poucas linhas de ultratensão do mundo
“Nossa estratégia é estabelecer uma plataforma de investimentos consistente não só em transmissão, como também em geração e distribuição”, diz Cai Hongxian, o presidente da State Grid no Brasil, destacando um interesse em atuar em novas áreas no futuro próximo. A gigante do presidente Mao já é a quinta empresa de transmissão no País, e a operação local já é a maior fora da China, com receita de R$ 630 milhões, em 2012. Seu desembarque se deu com a compra, em 2010, de sete linhas da Plena Transmissoras e cinco da espanhola ACS, que somam seis mil quilômetros de extensão.
A companhia chinesa também garantiu, em 2012, em conjunto com a paranaense Copel, um contrato para construir a linha de conexão entre o complexo hidrelétrico Teles Pires (MT) com o Sistema Integrado Nacional. Esse projeto acrescentará 1,6 mil quilômetros à sua rede. Com essas operações, os investimentos da State Grid no Brasil devem chegar a R$ 10 bilhões, até 2015. Mas essa previsão pode ficar rapidamente obsoleta caso a companhia concretize a compra de outros negócios. Na área de distribuição, ela chegou a avaliar a aquisição do grupo Rede Energia e de participação na Neoenergia, controlada pela espanhola Iberdrola. O CEO Hongxian também já afirmou ter interesse pelos leilões de hidrelétricas e de energia eólica.
Hongxian: o CEO da companhia no Brasil avalia a entrada
em geração e distribuição de energia
Em parceria com a Copel, a chinesa disputou a licitação pela hidrelétrica de Sinop (MT). Caso a vitória no leilão de Belo Monte seja confirmada, será mais um estímulo para a expansão dos investimentos locais. Mas também será a garantia de algumas dores de cabeça adicionais. Os grandes projetos de infraestrutura chineses são conhecidos por serem aprovados e construídos em velocidades estonteantes, mas no Brasil a tramitação das liberações ambientais costuma ser morosa. A State Grid já teve sua dose de tortura burocrática no projeto para o complexo Teles Pires, mas, em Belo Monte, as dificuldades serão maiores. “O leilão deveria ser feito já com uma licença prévia”, diz Érico Evaristo, presidente da Bolt Comercializadora, empresa ligada à holding carioca Bolt Energias.
“O licenciamento ambiental no Brasil é um grande problema, e depois a empresa precisa provar ao governo que a culpa dos atrasos não foi sua.” Para dar conta dos desafios a State Grid designou o engenheiro Hongxian, formado pela Universidade de Pequim, que lidera as operações locais a partir de um prédio próprio, na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro. O executivo, que cuida das operações locais desde sua chegada ao País em 2010, já dá amostras de adaptação ao ambiente brasileiro, a julgar por seu perfil na rede social Facebook: ele é fã de futebol de botão e dos clubes cariocas. “Temos um compromisso de muito longo prazo para fazer negócios no Brasil”, diz Hongxian.