Gerdau. Usiminas. Suzano. Marfrig. Weg. Assai. Ambev. Sete das maiores empresas abertas brasileiras, de vários setores, mas com algo em comum. Todas elas divulgaram resultados recordes no terceiro trimestre de 2021. E não devem ser as únicas. Um levantamento realizado pela DINHEIRO com 41 das empresas abertas que já haviam divulgado resultados do período até a segunda-feira (1o) mostra que as companhias brasileiras seguiram fazendo sua lição de casa. Apesar das dificuldades impostas pela pandemia e pelas incertezas na macroeconomia, as Sociedades Anônimas continuaram melhorando suas atividades e seu desempenho ­— e brindando os acionistas com excelentes resultados.

Na média, as receitas do terceiro trimestre avançaram 40,3% na comparação com o mesmo período de 2020. E os lucros, bastante turbinados por resultados exponenciais, avançaram 332%. A geração de caixa medida pelo Ebitda, um excelente indicador da saúde dos negócios e que neutraliza as distorções provocadas pela tributação e pelos custos financeiros, cresceu impressionantes 85,7% na comparação anual, e 68,4% quando descontada a variação da inflação.

A justificativa para boa parte desses ganhos estrondosos foi a alta das commodities, que beneficiou companhias como Gerdau, Suzano, Klabin e Usiminas, e deve seguir favorecendo as demais empresas desses setores. No caso de Marfrig e Gerdau, além dos preços favoráveis, a recuperação acelerada da economia americana justificou os resultados recordes — sem contar o efeito positivo de um real depreciado para quem possui receitas em dólar. “A Marfrig tem se beneficiado de uma boa diferença no mercado americano em relação ao que ela paga pela carcaça do boi e pelo que ela ganha ao vender a carne”, afirmou o analista da Levante Ideias de Investimentos, Flávio Conde. “As empresas exportadoras ou com atividades fortes nos Estados Unidos devem continuar sendo favorecidas pelo câmbio.”

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“As empresas exportadoras ou que têm atividades fortes nos Estados Unidos deverão continuar sendo beneficiadas pelo câmbio” Flávio Conde principal analista de renda variável da Levante Ideias de Investimentos.

A alta do petróleo explica o lucro de R$ 31,1 bilhões da Petrobras, apesar de o resultado ter sido inflado por um evento não-recorrente, a reavaliação de seus ativos. Mesmo sem isso, a última linha do balanço também teria sido excepcional, com um ganho de R$ 17,4 bilhões. A empresa exibiu um Ebitda recorrente de R$ 63,8 bilhões, com margem de 52,5%, permanecendo em patamares elevados.

A Vale também mostrou um bom resultado, apesar de os preços do minério de ferro terem desabado nas últimas semanas de setembro devido a problemas setoriais na China, como a inadimplência da incorporadora Evergrande. No entanto, há dois fatores que favorecem a mineradora e vão permitir que ela siga sendo uma forte geradora de caixa. Um deles é o descasamento entre oferta e demanda de minério, que deverá manter as cotações acima de US$ 100 por tonelada. O outro é sua política de dar prioridade à exportação de minério de melhor qualidade nos próximos trimestres, de modo a elevar os prêmios.

Outras companhias não ligadas a commodities, como Multiplan, Telefônica Brasil e Hypera também mostraram resultados acima das expectativas, seja por terem preservado sua alavancagem operacional, seja por terem aproveitado seu caixa para fazer aquisições que agregaram valor para o acionista. Isso também valeu para empresas de energia como EDP Energias do Brasil e Neoenergia.

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“Se a cotação já reflete um resultado bom e resultado vier em linha com o esperado, a ação não deve se movimentar muito” Bruno Kimura analista da Ouro Preto Investimentos.

RISCO NOS PREGÕES Os analistas acreditam que mais companhias deverão divulgar bons resultados neste trimestre, e que os números permanecerão positivos nos três últimos meses de 2021. Mesmo assim, a recomendação é ir com cautela na hora de comprar as ações. “Lucros recordes não significam cotações recordes, pois muitas vezes esses resultados já haviam sido antecipados”, disse Conde. Bruno Komura, analista da empresa independente Ouro Preto Investimentos, compartilha dessa opinião. “O importante para o investidor é a empresa superar as expectativas”, disse. “Se a cotação já reflete um resultado bom e resultado vier em linha com o esperado, a ação não deve se movimentar muito.”

Há outro ponto. A melhora dos resultados é um evento microeconômico, não macroeconômico. Ou seja, os resultados recordes das empresas foram provocados por eventos externos e pelo acerto das estratégias de seus gestores, não porque a economia está em um momento de prosperidade. O cenário adverso dificulta a manutenção de bons desempenhos e que outras organizações que não estão tão bem possam virar o jogo no curto prazo. E existem problemas além dos muros da companhia. Enquanto empresários, executivos e colaboradores se dedicam a melhorar os negócios, em Brasília prossegue firme e forte o desmonte do equilíbrio das contas públicas que foi tão duramente conseguido. Isso não ajuda nenhuma empresa em nenhum setor.