Crise de gestão, relacionamento interno desgastado, sucessão de fracassos, motivação em xeque. O quadro de pré-colapso, com direito a cenas de descontrole emocional diante dos colegas, sugeriria a qualquer analista uma derrocada da empresa. Correto, não fosse essa empresa a seleção feminina de vôlei do Brasil. Em dez dias, atletas e seu técnico, José Roberto Guimarães – o único brasileiro a ter três medalhas de ouro olímpicas –, foram do calvário ao céu. E conquistaram o bicampeonato na modalidade na Olimpíada de Londres-2012. A história de superação das meninas do vôlei brasileiro é um exemplo de como as empresas deveriam lidar com crises de gestão, assim como fazer um grupo de profissionais talentosas e ego volumoso trabalhar em equipe, deixando de lado suas vaidades. 

 

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Superação: telão no centro de Londres mostra o técnico dando um “peixinho” na quadra

após a vitória contra os EUA

 

A virada do time brasileiro aconteceu logo na saída da quadra do ginásio Earls Court, em Londres, no início da noite de 1º de agosto. Ali, o Brasil sofria sua segunda derrota, por 3 sets a 0, em três partidas, para a Coreia do Sul, ficando em último lugar no seu grupo. Jogadoras experientes como a meio de rede Thaísa e a ponteira Jaqueline não contiveram as lágrimas. “Não sei o que aconteceu”, lamentava Jaqueline. Zé Roberto, como o técnico prefere ser chamado, sabia. “Levantar a autoestima e mudar o espírito do time era fundamental”, afirma ele. Em uma reunião no dia seguinte, o treinador falou o que achava de bom em cada uma das atletas. 

 

E o que esperava que mudasse. Não foi uma conversa fácil. O clima nos vestiários não era exatamente cooperativo. “Existia muita vaidade e suscetibilidade no time e não é legal trabalhar assim”, diz Zé Roberto. O papo foi franco, “de coração aberto”, como o técnico gosta de dizer. Ali, qualidades individuais foram exaltadas, mas o foco no coletivo foi definido como primordial para que a seleção permanecesse na competição. Funcionou. O encontro se tornou diário, no mesmo horário e local. Uma espécie de ritual para repassar a importância do sentimento de união. “É por isso que eu digo que o amor venceu”, afirma Zé Roberto. 

 

“Por ali estávamos todos sem aquelas defesas que o ser humano impõe para se proteger. Assim as coisas fluíram e a química aconteceu.” A partir de então, os resultados melhoraram dramaticamente. O Brasil se classificou para as finais na bacia das almas, graças a uma vitória da seleção americana. Nas quartas de final, uma vitória redentora contra a Rússia – na qual as meninas brasileiras salvaram seis match points – trouxe de volta a confiança perdida. Na semifinal, o time de Zé Roberto nem tomou conhecimento do Japão. E, por fim, superou a favorita seleção dos EUA. 

 

Colaborou para o êxito o fato de Zé Roberto ser um estrategista, que estuda com afinco as virtudes do inimigo. “A minha importância foi essa, de ter um grande conhecimento de nossas adversárias”, diz o treinador. “E mantive nosso planejamento de treinamentos, sem desacreditar em nenhum momento da capacidade do grupo.” Terminar o ciclo olímpico mais difícil de sua carreira de treinador, iniciada em 1988, o fez aprender muitas coisas. “A minha grande lição em 2012 foi ter humildade”, diz. “Foi fundamental quando chegamos à beira de uma catástrofe e nos livramos de toda a vaidade para fazer o que era preciso pelo time.”

 

 

 

 

O que aprendi em 2012

 

 

Confira o que empresários e executivos aprenderam em 2012, as lições e as experiências envolvendo economia e gestão e que deverão dar o tom dos negócios em 2013:

 

 

Equilíbrio para crescer

 

“Aprender a equilibrar as contas dos planos de saúde foi a lição do ano. Apesar do crescimento do número de clientes por causa do número de pessoas empregadas, as despesas aumentaram, o que comprimiu as margens” 

José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde)

 

 

Mais atenção aos investimentos

 

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“O que deu certo antes não necessariamente dará certo sempre. Tentou-se, em 2012, reproduzir a política econômica de 2009 e isso não foi suficiente para levantar a economia. O investimento, que se revelou o ‘vilão’ do PIB em 2012, merece muito mais atenção e incentivos” 

Julio Gomes de Almeida, economista e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)

 

 

Frutos começam em 2013

 

“A lição de 2012, para o setor de tecnologia da informação, é que a política de desoneração da folha de pagamentos, o Pronatec e o programa Ciências sem Fronteiras do governo começarão a mostrar, em 2013, os melhores resultados possíveis. Se a expansão do PIB foi fraca nos dois últimos trimestres, os incentivos ao investimento e à redução do custo Brasil se farão presentes em 2013. Estamos otimistas. O setor de TI vai crescer no mínimo 10% no ano que vem, e faturar U$S 125 bilhões, com exportações de US$ 3 bilhões” 

Antônio Carlos Rego Gil, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom)

 

 

Contra a guerra fiscal

 

“A principal lição é que a guerra fiscal entre os Estados paralisa os investimentos. Hoje, se algum grupo estrangeiro no setor eletroeletrônico vier ao Brasil, ele não sabe onde investir. São tantos incentivos ilegais que o investidor fica inseguro. A guerra fiscal precisa acabar”

Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)

 

 

A proliferação da ética

 

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“Uma das lições de 2012 veio do julgamento do mensalão. Essa sede por ética reverberou também no mundo corporativo”

Julio Vasconcellos, CEO do Peixe Urbano 

 

 

Ambiente para empreender


“Aprendemos que empreender é encontrar as pessoas certas e oferecer a elas um ambiente de liberdade para criar, ousar e crescer” 

Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos

 

 

O sucesso depende da saúde

 

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“Em julho, tive um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta na USP. Por sorte, fui prontamente atendido e me recuperei em pouco tempo. Isso me fez encarar de forma diferente os problemas na vida pessoal e também profissional”

Rodrigo Abreu, presidente da Cisco no Brasil 

 

 

Eu compro, tu compras, nós compramos…

 

“Foi um ano de consolidação para o mercado de compras coletivas. Revisamos procedimentos, o que refinou a seleção de parceiros” 

Miguel Queimado, CEO do Groupon Brasil

 

 

Experiência internacional

 

“Sou argentino e voltei ao Brasil em agosto. Foi bom ter retornado. Era presidente da SAP México e América Central. Nesse ano, o desafio foi trazer para cá o mesmo crescimento que obtivemos no México” 

Diego Dzodan, presidente da SAP Brasil 

 

 

Lentidão é tolice

 

“Aprendemos que agilidade é essencial na internet. Mesmo que a pressa possa muitas vezes ser imprudente, a lentidão não pode ser nada, se não tolice” 

José Eduardo Mendes, fundador e CEO do Hotel Urbano

 

 

Preservar os princípios

 

“Não deixe que lições básicas, do dia a dia, se dissipem com o passar dos meses e arruínem a sua vitória”

Alípio Camanzano, CEO da Decolar.com no Brasil

 

 

Decisão democrática

 

“Em 2012, o Cade passou por uma reforma institucional. Esse processo nos permitiu uma série de aprendizados. O principal deles talvez tenha sido perceber a importância do compartilhamento das decisões para se garantir o êxito da reforma” 

Vinicius Marques de Carvalho, presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

 

 

Fazer bem é bonito

 

“Uma das grandes lições de 2012 foi a votação do Código Florestal. Depois de 15 anos de espera, o Congresso mostrou que sabe fazer e faz bonito”

Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA)

 

 

Vencendo desafios

 

“Em um ano em que a economia ‘vacilou’, quem criou empresas de forma profissional teve de trabalhar pesado para vencer os desafios estruturais brasileiros – logística, talentos, canais, tecnologia, impostos, etc.” 

Eduardo Goes e Rodrigo Sampaio, presidentes da Rocket Internet América Latina

 

 

Em busca de novos caminhos

 

“Com um cenário de crédito mais rigoroso, as vendas de motocicletas foram fortemente impactadas. Em momentos como esse, é importante usar a criatividade para encontrar novos caminhos” 

Issao Mizoguchi, presidente da Moto Honda da Amazônia

 

 

Motivação é o segredo

 

“Aprendi que, para deixar os nossos clientes satisfeitos, é preciso ter uma equipe engajada e motivada. Não adianta apenas olhar para a economia e especular sobre o mercado” 

Tomas Perez, presidente da Teresa Perez Tours, agência especializada em turismo de luxo

 

 

Humildade para crescer

 

“Aprendi muito com as pessoas à minha volta, sem ter a prepotência de achar que sabia tudo. E também observei muito. As experiências que vivi e as negociações que conduzi são a base para metade das minhas decisões. Confiar na percepção, algumas vezes, é melhor do que ser racional” 

José Alves, presidente da Transitions Optical para a América Latina

 

 

Mudar, sempre

 

“Seja sempre um inconformado com atitude. Se reinvente a cada manhã, seja inesquecível na atividade que desempenha”

Karlis Kruklis, superintendente da Ouro Verde

 

 

Boa performance 


“Acredito que o Novo Mercado seja um exemplo mundial. Hoje, as empresas que querem captar recursos têm de abraçar essa causa para ter boa performance perante o investidor.” 

Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec)

 

 

Quebra de paradigmas

 

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“A exposição dos impostos pagos nos produtos fará com que mudemos nosso pensamento, de súditos para cidadãos”

Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo

 

 

Rever estratégias

 

“A queda da taxa de juros nos obrigou a rever taxas de administração, sob pena de os planos se tornaram não rentáveis. A gestão dos fundos teve de assumir mais riscos e alongar prazos” 

José Américo Peón de Sá, assessor da Presidência da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi)

 

 

Desistir, jamais

 

“Descobri que nada vence o trabalho persistente. Prova disso foi o que aconteceu com a lei que determina a discriminação dos impostos na nota fiscal. Foi uma luta de oito anos, iniciada e continuada por meus antecessores na Associação Comercial, até chegarmos à aprovação pelo Congresso, sancionada pela presidenta Dilma, em 2012. A gente não pode desistir, quando se está baseado em valores”

Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo