26/12/2012 - 21:00
Em uma recente entrevista à DINHEIRO, quando questionado se estava vivendo o seu inferno astral, por conta da queda acentuada do valor de mercado de suas empresas na bolsa de valores, o empresário Eike Batista não titubeou na resposta. “Está maluco? Só tenho marcha para a frente. Acordo com óculos rosa, meus olhos são cor-de-rosa”, respondeu ao colunista Guilherme Barros, demonstrando mais uma vez o seu indefectível otimismo. Apesar da profissão de fé em seus projetos, o poder de multiplicação de Eike, como é mais conhecido, foi colocado à prova em 2012.
Na defensiva: para evitar uma erosão ainda maior do valor de suas empresas, Eike recomprou ações
e prometeu injetar até US$ 1 bilhão na OGX
A face mais visível da resistência do mercado em relação às tacadas do dono do grupo EBX foi a turbulenta trajetória de suas empresas na Bolsa de Valores de São Paulo. Do primeiro pregão do ano até 20 de dezembro o valor de mercado das ações das empresas X desabaram de R$ 61,5 bilhões para R$ 29,6 bilhões. De acordo com analistas, descontados os exageros de sempre do chamado mercado, esse mau humor está diretamente ligado a uma série de expectativas frustradas em relação ao desempenho das empresas. Em especial no caso da petrolífera OGX, a joia mais reluzente do império X. Dos 20 mil barris de óleo por dia prometidos, ela retira do fundo do mar, na Bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro, metade desse volume.
“O mercado não perdoou. A tolerância foi zero,” disse Eike referindo-se à queda nas ações da OGX. Apesar de não ter alterado em um milímetro o estilo autoconfiante com que vende seus projetos, o empresário, ao que tudo indica, aprendeu que era preciso ser mais contido em suas promessas. Prova disso, é que alterou a forma de se comunicar com o mercado. A orientação agora é falar menos e fazer mais. O recado foi dado por Roberto Monteiro, diretor-financeiro da OGX, no início de dezembro, em encontro com analistas. Na ocasião, Monteiro disse que o grupo iria passar a focar em informações factuais, reduzindo a divulgação de projeções e previsões.
“No futuro, a gente vai voltar a dar guidance mais no curto prazo”, afirmou o executivo. Essa atitude mais moderada foi considerada positiva pelo analista Pedro Galdi, especialista em petróleo e energia da corretora SLW. Galdi faz coro com aqueles que concordam que Eike foi punido além da conta. “O mercado brasileiro tem uma tendência a basear suas apostas em resultados de curto prazo”, diz Galdi. “Os investidores locais não conseguem enxergar que empresas de infraestrutura e intensivas em capital são apostas de longa maturação.” Isso explica, na visão do analista, porque diversas empresas estrangeiras se associaram ao empresário em 2012.
A lista inclui o fundo soberano do emirado de Abu Dhabi, a alemã E.ON, da área de energia, e a General Electric. Eike espera dispersar essa desconfiança do mercado em 2013, quando começa a entregar algumas de suas obras mais vistosas, como o porto de Açu, as termelétricas da MPX e a unidade de exploração de gás, no Maranhão. Para evitar a erosão ainda maior do valor das ações, o empresário aproveitou a baixa cotação para recomprar seus papéis. “Se o mercado não me quer, eu me quero”, disse. Um caso emblemático foi a ampliação de sua participação, de 37,4% para 46,41%, no capital da mineradora MMX. Também prometeu colocar, do própio bolso, até US$ 1 bilhão para bancar as necessidades de investimentos da OGX.
O que aprendi sobre economia, planejamento e estratégia
Governar com olhar privado
“É difícil harmonizar todos os fatores que produzem crescimento econômico. Com a falta de confiança do setor privado – esta, a grande novidade do ano –, resta ao governo entrar em harmonia com o que a iniciativa privada enxerga como prioridades, ou insistir numa governança dirigista, autoritária”
Gustavo Franco, sócio da Rio Bravo Investimentos
Povo mais feliz
“No Brasil da época do milagre, o País ia bem e o povo ia mal. Hoje acontece o contrário. PIB em baixa, mas renda das famílias e felicidade em alta”
Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Crescer na democracia
“Temos que conciliar investimentos com democracia. As maiores taxas de crescimento no Brasil aconteceram nas ditaduras”
Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas
Informação livre
“Foi o ano dos smartphones e da consolidação das plataformas globais de tecnologia. Há muito o que evoluir para assegurar o debate e a livre circulação de ideias”
Fabio Coelho, diretor-geral do Google
Projeções furadas
“Não devemos confiar cegamente e pautar as estratégias empresariais baseadas unicamente em projeções macroeconômicas de crescimento do PIB ou outro indicador econômico”
José Antonio Félix, presidente da NET Serviços
Hora de mudar a rota
“Os governos precisam ajustar a política econômica ao longo do tempo. A presidenta Dilma e seu governo insistem em manter a política de estímulo ao consumo, quando a questão central agora é estímulo aos investimentos privados”
Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos
Meta é para ser batida
“Uma meta alcançada nada mais é que o patamar para a próxima”
Anderson Birman, presidente da Arezzo
Consumo é bom, mas não basta
“O consumo impediu um resultado ainda mais pífio do PIB. Mas o mercado rejeitou as ingerências governamentais, criando insegurança”
Abram Szajman, presidente da Fecomercio – SP
Planejar é melhor que remediar
“Com planejamento de médio e longo prazo é possível enfrentar as crises de maneira mais suave e menos traumática”
David Randon, presidente do Grupo Randon
Futuro redefinido
“O ano de 2012 será lembrado como o início de uma grande transformação na indústria de PCs. O grande aprendizado é que anos difíceis podem consolidar mudanças importantes de foco e atitude, redefinindo o futuro”
Ronaldo Miranda, presidente da AMD Brasil e vice-presidente da AMD América Latina
Vai mais longe quem aposta lá na frente
“Para enfrentar a disparidade de oportunidades que assola os jovens, precisamos ter iniciativa e persistência para fazer apostas de longo prazo e, sobretudo, habilidade para reunir um grande número de parceiros”
Michel Levy, presidente da Microsoft Brasil
Vitória contra o lobby da energia cara
“Quando você tem bons argumentos, nenhuma batalha é impossível. A queda na tarifa de energia, uma bandeira da Fiesp, é um exemplo de que não há lobby que não possa ser vencido”
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
Reformas sem burocracia
“Não adianta incentivar a economia sem fazer reformas mais profundas. Ainda há muita burocracia”
Blairo Maggi, presidente do grupo André Maggi
Esmorecer jamais
“Devemos aprender sempre. Em 2012, aprendemos muito: acelerar no menor sinal de diminuição de crise, raciocinar mais do que nunca, não esmorecer jamais, lançar os produtos certos”
Helio Rotenberg, presidente do Grupo Positivo
Ansiedade oficial ofusca, mas não tira o brilho
“Um governo ansioso demais para estimular o crescimento econômico no curto prazo pode semear confusão no setor privado. Mas as perspectivas econômicas, no médio prazo, são mais favoráveis no Brasil do que na imensa maioria dos países”
Thomas J. Trebat, economista da Columbia Global Centers
Trabalho persistente
“Nada vence o trabalho persistente. A lei que determina a discriminação dos impostos na nota fiscal foi uma luta de oito anos”
Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo
Flexibilidade para adaptar-se
“As expectativas de crescimento do mercado brasileiro foram superestimadas. Uma importante lição foi ter flexibilidade para se adaptar à dinâmica e às reais condições do mercado”
Raymundo Peixoto, Diretor-Geral da Dell Brasil
Julgamento do mensalão
“O Brasil não é o país do vale-tudo: a independência dos Três Poderes prevaleceu, fortalecendo as instituições e a democracia”
Alvaro Augusto Vidigal, presidente da Socopa Corretora
Realismo é melhor que otimismo exagerado
“Aprendi a não ser otimista demais. Para os próximos anos, prefiro ser realista. Se projetarem 5% de crescimento, vou planejar 2,5%. É melhor depois buscar crescer o dobro do que correr atrás do prejuízo”
Sergio Amado, presidente do grupo Ogilvy no Brasil
Menos intervenção
“Excesso de intervenção do governo só leva à piora do crescimento e à queda do investimento”
Sérgio Valle, economista-chefe da MB Associados