19/04/2013 - 21:00
O resultado apertado colocou em dúvida, para muitos venezuelanos, a legitimidade da vitória do candidato governista Nicolás Maduro. Mas uma certeza ficou clara na eleição de domingo 14: o sucessor do ex-presidente Hugo Chávez, morto em março, não herdou inteiramente o chavismo. A Venezuela sai da eleição presidencial mais polarizada do que antes. Enquanto Maduro obteve 50,66% da preferência dos eleitores, o opositor Henrique Capriles ficou com 49,07%. Uma diferença de apenas 235 mil votos, o que levou a oposição a pedir a recontagem do resultado.
Governo para todos – Os desafios para uma nação polarizada:
Maduro precisa combater a inflação para ganhar apoio dos antichavistas
Capriles incentivou seus eleitores a protestar, mas voltou atrás após a morte de sete pessoas na capital Caracas, na terça-feira 16. O novo presidente fez um discurso inicial conciliador. “Nós queremos trabalhar com esse povo que vota pela oposição”, afirmou logo após a vitória. Mas depois dos protestos encabeçados por Capriles, Maduro mudou de tom, afirmando que podia “radicalizar” a revolução bolivariana. Ex-líder sindical, Maduro foi chanceler, entre 2006 e 2012, quando foi escolhido vice-presidente e sucessor pelo próprio Chávez.
O governo brasileiro, por sua vez, reconheceu a vitória de Maduro, e a presidenta Dilma Rousseff confirmou que viajaria à Venezuela para a cerimônia de posse, marcada para a sexta 19. Nada deve mudar na relação entre os dois países, na avaliação de especialistas. No campo pessoal, a relação de Dilma com Chávez era mais protocolar – nada parecida com a amizade entre o líder bolivariano e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e deve ficar ainda mais distante com o novo presidente. Mas isso não será necessariamente ruim para os negócios, avalia o consultor Thiago de Aragão, da Arko Advice.
“A deterioração da crise na Venezuela aumenta a relação comercial”, diz ele. No ano passado, o comércio bilateral foi de US$ 6,5 bilhões, sete vezes mais do que em 2003, segundo o Itamaraty. No primeiro trimestre deste ano, porém, as exportações brasileiras caíram 16%. A economia venezuelana começa a sofrer as consequências de sua dependência do petróleo, com inflação alta e câmbio valorizado.Para Mark Weisbrot, codiretor do Centro para Pesquisas Econômicas, em Washington, Maduro precisa fazer mudanças, estabilizando o câmbio, reduzindo a inflação e aumentando os investimentos em infraestrutura. “Dessa forma, ele terá apoio popular”, afirma Weisbrot.