30/08/2016 - 18:30
O desempenho do mercado acionário no acumulado dos sete primeiros meses do ano foi brilhante. Quem comprou ações no último pregão de 2015, e não perdeu a calma com os solavancos do processo de impeachment de Dilma Rousseff, ganhou dinheiro. Uma análise do desempenho de 216 empresas abertas que haviam divulgado seus resultados do segundo trimestre de 2016 até a quinta-feira, dia 17 de agosto, mostra que, na média, a valorização das ações no ano foi de 42%. As ações de um grupo específico de 61 empresas renderam quase o dobro, valorizando-se, em média, 82%.
E as maiores altas, que superam 150%, ocorrem em setores tão díspares como varejo, siderurgia e eletricidade (leia o quadro abaixo e a reportagem de capa desta edição). O que criou esses campeões olímpicos?
Em geral, as empresas vêem suas ações subir quando faturam ou lucram mais, ou quando prometem fazer isso no futuro. Desta vez, porém, os investidores olharam mais para a qualidade do que para a quantidade. As empresas que brilharam foram bem-sucedidas em duas medidas básicas: melhorar as margens de lucro e reduzir (ou alongar) o endividamento, tornando suas operações mais leves e lucrativas. Isso não ocorreu por acaso. O cenário está adverso. O custo da captação externa subiu. Mesmo empresas de primeira linha, como a Vale, vêm pagando mais caro. Ao captar dinheiro lá fora, a mineradora pagou 6,25% ao ano, ante 4,35% em 2012. Assim, quem fugir da dívida preserva as margens de lucro. Além disso, as empresas têm tido pouco fôlego para investir. Um levantamento da Economatica mostra que o capital investido, conhecido como capex, caiu para o menor nível desde 2009. Essa cifra foi de 112% no segundo trimestre. Isso significa que os investimentos foram apenas 12% superiores ao mínimo necessário para compensar a depreciação das máquinas e equipamentos. É pouco. Para comparar, no melhor momento recente, o quarto trimestre de 2011, essa relação chegou a 211,8%.
Nesse cenário, as empresas que conseguiram fazer mais com menos foram premiadas. Um bom exemplo foi a Usiminas. O prejuízo de R$ 212 milhões no primeiro semestre do ano não foi um resultado pujante. Porém, essa perda foi muito menor do que os R$ 850 milhões de 2015. A despesa financeira encolheu em 30%, caindo de R$ 1,64 bilhão em 2015 para R$ 1,15 bilhão em 2016. E, com isso, mesmo estando longe de resolver seus problemas societários e de enfrentar um mercado aquecido para o aço, a siderúrgica viu suas ações se valorizarem 156% no ano. “O endividamento foi e continuará sendo um desafio, pois o custo do dinheiro subiu muito e as companhias foram forçadas a readequar suas estruturas e rolar suas dívidas”, diz Adeodato Netto, fundador da casa de análise independente Eleven.
O resultado é que, mesmo com uma economia desaquecida, há investidores animados. “Os fundamentos para as empresas de economias emergentes podem melhorar ainda mais se elas se concentrarem em controlar gastos e melhorar as margens de lucro”, diz Richard Turnill, estrategista-chefe global da empresa de gestão de recursos BlackRock. Ele acha que, mesmo com a alta, é hora de comprar. “As empresas de países emergentes ainda estão 24% mais baratas quando comparadas com suas contrapartes de economias desenvolvidas.”