23/05/2012 - 21:00
Desde meados de setembro do ano passado, quando foi anunciado o aumento da alíquota de importação para automóveis, Sérgio Ferreira, diretor-geral da americana Chrysler do Brasil, tem usado uma parábola para mostrar a posição que a marca tem tomado diante desse cenário. Ele conta que dois amigos estavam em um safári e se depararam com um leão. Um deles, antes de sair correndo, resolveu calçar um tênis de corrida, pois sabia que teria de ser mais rápido que seu companheiro, e não do que a fera. “O leão, para nós, pode ser o aumento da alíquota, as cotas para produtos vindos do México e muitas outras variáveis”, diz Ferreira. “Estamos trabalhando como se estivéssemos de tênis, prontos para correr e deixar a concorrência para trás.”
Ferreira, da Chrysler: “Estamos trabalhando como se estivéssemos de tênis,
prontos para correr e deixar a concorrência para trás”.
Com essa filosofia, a empresa pretende brigar pelo mercado de automóveis de luxo, uma área dominada pelas alemãs Mercedes-Benz, BMW e Audi, no País. Será um caminho árduo. Em 2010, a marca vendeu pouco mais de quatro mil carros no Brasil. A Mercedes, líder do pedaço, comercializa quase quatro vezes mais. O principal trunfo da Chrysler é que ela, agora, conta com a força da italiana Fiat, sua atual controladora. Os reflexos da nova administração já começaram a aparecer. De acordo com dados da Abeiva, a associação dos importadores de veículos, a Chrysler cresceu 23,4% em 2011. Nos primeiros quatro meses deste ano foi um pouco mais que o dobro. São números expressivos, mas é preciso lembrar que são reflexo da base pequena de comparação.
A Fiat passou efetivamente a exercer seu controle na empresa em fevereiro de 2011. A nomeação de Ferreira, logo em seguida, foi a primeira medida para retirar a montadora do ostracismo. Ele até então era diretor-geral da Case New Holland Brasil, o braço de máquinas agrícolas do grupo Fiat. Já havia também passado pelo comando das filiais da fabricante de pneus Michelin, na Argentina e na Grécia. Assim que assumiu a Chrysler, Ferreira elaborou um novo plano que previa a reestruturação da rede de concessionárias e do serviço de pós-venda, além da renovação de quase todo o portfólio de produtos. “Estávamos com a linha toda defasada”, diz Ferreira. Desde que assumiu a direção da empresa, o executivo lançou sete veículos. Até o fim do ano trará mais dois modelos: a versão a diesel da Grand Cherokee e o Dodge Durango.
Como parte da nova estratégia, Ferreira também focou na reorganização da rede de revendedores, criando show-rooms exclusivos dos veículos do grupo, nas concessionárias Mercedes-Benz, antiga controladora da Chrysler. O executivo pretende, ainda, mais do que dobrar a rede de autorizadas, que deverá chegar a 50 até o fim deste ano. “Mapeamos os melhores revendedores da concorrência e apresentamos a eles nosso plano”, afirma. De acordo com Roberto Barros, analista da consultoria IHS, esse era um degrau essencial para a expansão da Chrysler. “Os clientes que gastam mais de R$ 100 mil em um carro valorizam muito a qualidade dos serviços de pós-venda”, afirma Barros. Pensando nesses consumidores, a marca assumiu também a gestão do serviço de pós-venda, que estava nas mãos da Mercedes.
Para isso, inaugurou um centro de distribuição de peças em Louveira, no interior de São Paulo. O empreendimento possui 4,5 mil metros quadrados e vai ter um arsenal de mais de 20 mil de peças das marcas Jeep, Chrysler, Dodge e Ram. Com todas essas medidas e mais a chegada de novos carros para as quatro marcas, Ferreira espera fechar 2012 com 11 mil carros vendidos, um crescimento de 100% em relação ao ano passado. Ele também estuda a produção local. “Mas ainda não temos uma posição oficial”, afirma. As principais opções da empresa são produzir na nova fábrica da Fiat, em Goiana, na região metropolitana do Recife. Não está, descartado, porém, o aumento da capacidade das unidades da Chrysler no México e na Venezuela.