A economia promete fortes emoções em 2011. Depois da recessão de 2009 e do crescimento de quase 8% no ano passado, os prognósticos de economistas de dentro e de fora do governo para o ano são de um crescimento mais moderado, entre 4,5% e 5%, com uma ligeira elevação dos juros e uma contínua redução do desemprego. 

 

Isso deve manter o fôlego do mercado consumidor, mas setores que vinham crescendo a dois dígitos, como construção civil e varejo, terão agora uma expansão menor. “Vemos um cenário favorável na economia internacional em 2011, com uma melhora vindo dos Estados Unidos. Isso deve ajudar o Brasil”, disse à DINHEIRO o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

 

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Perigo: contas externas podem se deteriorar em 2011

 

O setor privado também está otimista. De um modo geral, os empresários planejam investir para aproveitar o aumento da demanda doméstica. Se os cortes de gastos do governo anunciados na semana passada forem suficientes para manter o equilíbrio fiscal, podem ajudar o Banco Central a baixar os juros mais rapidamente do que o esperado pelo mercado. 

 

O relatório Focus do BC, que reúne as projeções dos economistas das instituições financeiras, mostra o grau de preocupação dos mercados. Diante das recentes pressões inflacionárias, os bancos já dão como certa a elevação dos juros na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) deste ano, nos dias 18 e 19 deste mês. 

 

Confirmam essa impressão as declarações do ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, no discurso de despedida, na segunda-feira 3. Ele disse que “juros sobem e descem de acordo com o ciclo monetário” e que essas elevações “não devem ser motivo de alarido”. Os analistas estimam que a Selic, que fechou o ano em 10,75%, chegue a 12,25% no fim de 2011. 

 

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O sistema financeiro, que no ano passado ampliou em 20% o volume de crédito e este ano deve aumentá-lo em mais 15%, na previsão do Banco Central, também espera um ano bom, com uma política fiscal mais austera e juros mais elevados. 

 

“Devemos ter um crescimento mais baixo, mas ainda um desempenho muito favorável. Cenário que deve se repetir em 2012”, diz Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). 

 

Partindo de uma base mais alta, o Brasil segue crescendo em 2011. Segundo o Focus, o PIB deve aumentar 4,5%. A inflação medida pelo IPCA deve ficar em 5,32% e o dólar, em R$ 1,75 (nos primeiros dias do ano, a cotação caiu para R$ 1,65). 

 

A produção industrial também terá um crescimento mais moderado a partir de agora. Para 2011, o boletim elaborado pelo BC aponta para uma alta de 5,3%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) é menos otimista e projeta elevação de 4,5% na produção do setor.

 

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Uma pesquisa da entidade mostra que 93% das empresas planejam investir este ano, preparando-se para o crescimento dos próximos períodos. Um foco de preocupação são as contas externas. Os bancos projetam um superávit comercial de apenas US$ 8 bilhões (50% menor que em 2010) e um déficit de US$ 68 bilhões em conta-corrente. 

 

Na previsão dos analistas de mercado, a dívida líquida deve continuar em queda em 2011, recuando de 41% do PIB para 39,7%, mas o déficit em conta-corrente deve aumentar de US$ 50 bilhões para US$ 67,9 bilhões, um crescimento de US$ 17,9 bilhões. Por outro lado, será o ano da retomada do investimento estrangeiro, que pode chegar a US$ 39,5 bilhões. 

 

Depois de afastar de vez os fantasmas da crise em 2010, a economia brasileira agora tem a oportunidade de pavimentar de vez o caminho para o crescimento sustentado no futuro. Para o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, o governo terá de centrar esforços na ampliacão da demanda. 

 

“Este é o momento de vencermos os gargalos e entraves à produção e ao investimento, com uma reforma tributária digna de seu nome e da construção de incentivos corretos para um regime de previdência sustentável no tempo”, afirma Barros.