O presidente da Klabin, Fabio Schvartsman, 59 anos, precisou de menos de dois anos para transformar a centenária indústria papeleira em uma das mais bem-sucedidas fabricantes de papel e embalagens de papelão do mundo. Desde a sua contratação, no início de 2011, a empresa vem crescendo a um ritmo intenso e constante. No ano passado, para uma receita de R$ 4,16 bilhões, o lucro operacional atingiu o patamar recorde de R$ 1,35 bilhão, medido pelo Ebitda (que exclui os efeitos de juros, impostos, depreciações e amortizações), enquanto o lucro líquido chegou a R$ 752 milhões, o triplo do obtido no ano anterior. De acordo com o executivo, a safra de boas notícias não deverá parar por aqui. “2013 será ainda melhor”, afirma. 

 

122.jpg

Schvartsman, CEO: “Nosso portfólio é versátil e competitivo

aqui e no Exterior”

 

O bom desempenho e o prestígio amealhado junto aos acionistas e ao mercado, no entanto, não têm sido suficientes para gerar um ambiente propício para seu mais ambicioso projeto: a fábrica de celulose que pretende erguer no município de Ortigueira, vizinho de Telêmaco Borba, onde se concentra o principal complexo produtivo da Klabin, na região central do Paraná. Desde 11 de junho, quando Schvartsman anunciou a intenção de colocar de pé o empreendimento, batizado de Projeto Puma e estimado em R$ 6,8 bilhões, os investidores vêm penalizando as ações da companhia negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Nesse período, a cotação dos papéis preferenciais caiu 12% na Bovespa por causa do temor de que um endividamento maior prejudique a capacidade da Klabin de continuar gerando bons resultados. 

 

Principalmente em um cenário macroeconômico mais adverso, por causa da alta de 10% do dólar em relação ao real e seu impacto sobre o endividamento de R$ 3,4 bilhões da companhia. A pressão no câmbio, aliás, foi apontada como um dos fatores que resultaram no prejuízo líquido de R$ 130 milhões registrado pela fabricante paulista no período março-junho, e cujo resultado foi anunciado na quinta-feira 25. Colaborou, também, a parada para manutenção da fábrica de Monte Alegre, a maior de suas 17 unidades produtivas. O valor ficou abaixo da média estimada pelos analistas: R$ 190 milhões. “O dólar castigou praticamente todas as companhias do setor no último trimestre”, diz Ariane Gil, analista sênior especializada em papel e celulose da subsidiária do Grupo Bursátil Mexicano (GBM). 

 

Quando ficar pronta, a fábrica de Ortigueira vai representar uma importante guinada na estratégia da empresa, que nasceu em São Paulo, em 1899, como uma importadora de produtos de papelaria e fabricante de artigos de escritório. Mas foi somente a partir da década de 1960 que a Klabin começou a se diferenciar das concorrentes ao privilegiar os itens de maior valor agregado. Schvartsman diz que essa postura não será abandonada. Isso porque a unidade, com capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose de fibra curta e longa, é diferente de tudo que existe por aqui. Esse último insumo utiliza o pinus como matéria-prima, espécie florestal que atinge o ponto de corte em 14 anos, o dobro em relação ao do eucalipto. 

 

123.jpg

 

 

Isso ajuda a explicar por que nenhum fabricante local jamais se interessou em explorar esse filão. Do ponto de vista estratégico faz todo sentido para a Klabin, já que a empresa possui um vasto acervo florestal de pinus na região de Telêmaco Borba, considerada a melhor do País para essa cultura. Além disso, na última década e meia, a demanda por celulose de fibra longa, usada na produção de fraldas e absorventes higiênicos, saltou de zero para 400 mil toneladas por ano. Hoje, o mercado é abastecido integralmente via importações e a ambição do executivo é capturar integralmente esse filão. “Não vendemos e jamais venderemos commodities”, afirma Schvartsman. 

 

“Nosso portfólio é versátil e competitivo tanto aqui quanto no Exterior e vai continuar dessa forma.” Na prática, pode-se dizer que a Klabin é uma das poucas empresas do setor que conseguem impor seus preços aos clientes. Isso pode ser visto quando se analisa a relação entre sua produção, que permanece constante em 1,7 milhão de toneladas, e sua margem de ganho, que saltou do patamar de 24%, no período de 12 meses encerrado em junho de 2011, para 33%, no mês passado. Apenas para efeito de comparação, a Suzano, que tem uma receita 25% maior, exibiu margem de 27,9% no balanço do período janeiro-março. Como boa parte dos ganhos do processo de reestruturação adotado sob a batuta de Schvartsman, que contou com a assessoria da consultoria Falconi, de Belo Horizonte, já foram incorporados, agora, para crescer será necessário ampliar a capacidade de produção. 

 

Por conta disso, o presidente da Klabin acredita que é uma questão de tempo para que a fábrica de Ortigueira se torne realidade. Mas isso depende da mudança dos humores do mercado de capitais. “Só vamos tocar o projeto com a participação de investidores”, diz o executivo. O cenário, contudo, não se mostra favorável. “A grande questão é saber se há espaço para mais uma oferta de ações neste ano na Bovespa”, afirma Ariane, analista da GBM. O presidente da Klabin, no entanto, possui uma carta na manga. É que, além de cortar custos, ele concentrou suas ações em um programa de modernização e ampliação da capacidade produtiva, especialmente para a fabricação de sacos industriais, usados para embalar cimento, por exemplo. 

 

Graças ao pacote de obras para a Copa do Mundo e a programas de habitações populares, como o Minha Casa Minha Vida, além dos lançamentos imobiliários focados na classe média, a expectativa é de que a construção civil permaneça aquecida. O investimento de R$ 220 milhões na fábrica situada em Correia Pinto, em Santa Catarina, deverá começar a gerar resultados até o fim do ano. Com isso, a produção de sacos crescerá em 80 mil toneladas para 213 mil toneladas. “O investimento em novas máquinas deve levar maior eficiência às fabricas da Klabin”, diz a analista da GBM. É nisso também que reside a aposta de Schvartsman para entregar os resultados prometidos pelos acionistas.

 

124.jpg