26/07/2013 - 21:00
R$ 8. É quanto vale uma pilha de 200 disquetes atualmente. Criado alguns anos após o computador, nos anos 1960, o dispositivo, que já foi a última palavra em mobilidade de arquivos, perdeu sua função no final dos anos 1990, com a popularização do CD. Inevitável, a substituição de uma mídia por outra parece estar prestes a se repetir no futuro próximo. No caso, a vítima seria o pen drive, sucessor do CD, cuja hegemonia estaria sendo ameaçada pela nuvem. Oficialmente, a Kingston, maior fabricante desse dispositivo no mundo, recusa-se a admitir que a principal fonte de seu faturamento global de US$ 7,4 bilhões esteja fadada ao destino dos dinossauros.
Cuca fresca: Gerardo Rocha, diretor da Kingston no Brasil, diz que
o mercado de pen drives é promissor, apesar dos custos em alta
“A despeito dos números recentes, o mercado ainda é promissor”, diz Gerardo Rocha, diretor de operações da Kingston no País. No primeiro trimestre do ano, foram vendidos no mercado brasileiro 5,2 milhões de pen drives, redução de 6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo números do IDC. Para 2013, a expectativa é de que sejam repetidos os 23,5 milhões de unidades comercializadas em 2012. Na vida real, apesar de preferir acreditar que o mercado está apenas passando por uma fase complicada, a Kingston não quis esperar para ver e impulsionou o lançamento de novos produtos. No último ano, suas linhas de memórias RAM e placas de alta performance apresentaram crescimento de 120% e 210%, respectivamente.
“Fizemos um investimento alto no marketing”, afirma Carolina Maldonado, vice-presidente da Kingston na América Latina . “Nos beneficiamos do reconhecimento da marca gerado pelos pen drives”. De acordo com ela, a empresa está financiando equipes de jogadores de computador, que precisam de máquinas com alto rendimento, para tornar sua linha mais conhecida. Com esse expediente, a Kingston fortalece seus outros serviços, diminuindo o peso do pen drive em seus resultados. O maior problema para o pen drive no Brasil é o preço. O produto com capacidade de 8 gigas de memória, responsável por 56% das vendas nacionais, custa em torno de R$ 30.
Os top de linha, de 64 gigas de memória, chegam a mais de R$ 200. O preço elevado é reflexo da alta demanda por chips NAND, fabricados pela Micron, Hynix, Samsung e Toshiba, base do dispositivo de armazenamento, mas que também são empregados em smartphones, tablets e notebooks, cujas vendas estão aquecidas mundialmente. “A demanda por esses chips é inesgotável”, diz Carolina.Refém da oscilação de preços na importação, a Kingston analisa opções para baratear seu produto no País. De acordo com a executiva, a companhia cogita iniciar a produção no Brasil.
“Conversamos com o governo constantemente”, diz. “Olhamos para essa opção sempre, pois é uma questão de tempo.” Com uma fábrica nacional, a empresa seria beneficiada pelo Processo Produtivo Básico (PPB), que concede isenção de impostos para quem fabrica parte de seus produtos localmente. Uma fábrica nacional, apesar da importação do chip NAND, faria a montagem, testes e pesquisas por aqui. “É um processo complexo e de custo elevado”, diz o gerente de produtos da Multilaser, que já produz pen drives no País, em sua unidade em Extrema (MG). Para complicar a vida do pen drive, a nuvem, sua maior adversária, só avança.
Nos últimos anos, empresas especializadas em armazenamento de arquivos em cloud computing ganharam expressão, como a americana Drop Box, que atingiu, no início do mês, a marca de 175 milhões de usuários e teve recentemente seu valor estipulado em US$ 4 bilhões. Gigantes, a exemplo do Google e da Microsoft, passaram a olhar para essa alternativa com carinho. “Na nuvem, você tem a informação a qualquer momento e em qualquer dispositivo”, diz Fernando Teixeira, diretor de tecnologia do Google no Brasil. No entanto, Rocha, da Kingston, acredita que há espaço suficiente no mercado para o pen drive e para a nuvem. “Existem arquivos que você não quer confiar à nuvem”, diz Rocha. “Eles se complementam.”