26/12/2014 - 19:30
Uma avalanche de incertezas marcou 2014. As dúvidas com relação ao baixo crescimento econômico mundial, a desaceleração da China em particular, pressionaram os preços das commodities para baixo e tiveram reflexos no Brasil. O câmbio também surpreendeu ao longo do ano. Começou em R$ 2,39 e chegou a ultrapassar R$ 2,70, em dezembro. Isso afetou diretamente a inflação, que ficou próxima ao teto da meta, de 6,5%, e forçou o Banco Central a endurecer a política monetária por meio da elevação da taxa Selic para 11,75%.
Portanto, não foi nada fácil para os gestores de renda fixa contornar as intempéries e obter uma boa rentabilidade para os cotistas. “Foi um ano com aversão a risco muito forte, tanto é que os produtos mais conservadores tiveram um desempenho melhor”, afirma Alcindo Canto Neto, presidente do HSBC Asset Management. Investimento conservador, nesse caso, significa aquele com volatilidade menor e com liquidez maior. É por isso que os fundos Referenciados DI, que possibilitam resgates no curto prazo, apresentaram um salto de 25,2% no patrimônio líquido, para R$ 369 bilhões ao longo de 12 meses até novembro, de acordo com dados da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).
Entre os fundos que mais se destacaram nessa categoria em termos de risco e retorno – medido pelo índice Sharpe – aparece o BTG Pactual Yield DI FI Referenciado Crédito Privado. “Nossa estratégia foi manter um caixa mais elevado do que o normal, porque as empresas tiveram mais dificuldade para levantar recursos por instrumentos de dívida, devido às janelas de captação mais curtas”, afirma Albano Franco, associado e analista de crédito do BTG Pactual. Em outras palavras, a gestora alocou mais recursos em papéis com liquidez (como títulos do governo) do que em outros anos.
R$ 369 bilhões – é o patrimônio líquido dos fundos di, um crescimento
de mais de 25% sobre os 12 meses anteriores
Com isso, conseguiu aproveitar as oportunidades que surgiram ao longo de 2014. “Para 2015, as emissões no exterior serão mais interessantes do que as do mercado doméstico para os investidores que tiverem apetite por risco”, diz. A escolha do crédito privado fez toda a diferença para os fundos da gestora do BNP Paribas, que também apostou em um caixa mais reforçado. “Mantivemos, ao longo do ano, algo entre 30% e 50% do portfólio em liquidez”, afirma Gilberto Kfouri, principal executivo de renda fixa e multimercados do banco francês. “Também encurtamos os prazos de vencimentos porque o cenário estava muito incerto, além de nos tornamos ainda mais seletivos, e demos preferência às emissões de primeiríssima linha.”
Dadas as previsões pessimistas para o crescimento econômico em 2015, as captações de grandes bancos estão sendo revistas. Isso afeta os fundos que compram letras financeiras, por exemplo, segundo Patrícia Pimenta, gestora de portfólio da Bram, empresa de administração de recursos do Bradesco, que ficou em primeiro lugar na categoria de Renda Fixa de Crédito Livre com o fundo de Crédito Privado Rating 90. “Os bancos vão continuar seletivos na hora de emprestar e, por isso, não precisarão de um estoque tão grande”, diz. Já as perspectivas para a emissão de dívida corporativa são mais positivas, principalmente por causa das debêntures incentivadas de infraestrutura.
“Mas não veremos tantas captações com o intuito de trocar uma dívida mais cara por uma mais barata, por causa da alta taxa de juros”, afirma. No segmento Renda Fixa Índices, o fundo que aparece na primeira colocação do ranking é o da gestora da Caixa Econômica Federal, que é voltado para Regimes Próprios de Previdência Privada (RPPS). No entanto, há fundos de varejo da gestora que seguem estratégias parecidas e dão bons retornos para os investidores. Para Simone dos Santos, superintendente nacional de desenvolvimento de produtos de ativos de terceiros, os fundos atrelados a índices de preços e os referenciados DI continuarão captando bem, em 2015. “Não são os mais rentáveis e, sim, um refúgio à instabilidade”, diz Simone.
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Confira o Especial “Onde investir em 2015”
Um ano desafiador
Equilíbrio à prova
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Surfando na onda
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Salto no escuro
Manobras radicais
Em boa companhia
Escalada de lucros
O mapa da selva