Quando ressuscitou a Telebrás para ser a gestora do plano nacional de banda larga (PNBL), o governo colocou como seu presidente um dos mais ferrenhos defensores do projeto. O gaúcho Rogério Santanna, durante os 12 meses em que ficou à frente da companhia, colecionou uma série de desafetos no setor de telecomunicações. Seu estilo franco e direto, e seus planos de colocar a empresa como uma competidora das companhias de telefonia, sempre desagradaram ao segmento. 

Na terça-feira 31, a demissão de Santanna, pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi saudada como um sinal de que haverá mudanças no PNBL. “As coisas já estão melhores para a gente”, disse à DINHEIRO Antônio Carlos Valente, presidente do Grupo Telefônica no Brasil.

 

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Transformação: o demitido Rogério Santanna (à esq.) e o novo presidente da Telebrás, Caio Bonilha. Sua missão é tirar o projeto de banda larga do papel

 

Para o lugar de Santanna, Bernardo escolheu outro gaúcho, Caio Bonilha, dono de um estilo mais diplomático e negociador. Ex-diretor comercial da Telebrás, o novo presidente da estatal é considerado um gestor alinhado ao projeto do governo de incluir as empresas de telefonia na execução do PNBL. Logo em seu primeiro pronunciamento, Bonilha tratou de oferecer o cachimbo da paz às operadoras de telecomunicações. “A linha estatizante da gestão anterior ficou no passado”, disse ele, em seu discurso de posse, na quarta-feira 1o, em Brasília. “O foco agora é comercial. Estamos vivendo uma transição.”

 

O novo presidente também afastou a possibilidade de a estatal atuar no varejo, como preconizava Santanna, para estimular a competição entre as teles. O ministro das Comunicações, por seu turno, reforçou o aceno de paz. “Vamos fortalecer a Telebrás com parcerias com as empresas”, declarou Bernardo, durante um congresso da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), em Brasília.

 

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“Vamos fortalecer a Telebrás com parcerias com as empresas de telefonia” Paulo Bernardo, Ministro das Comunicações

 

Os gestos de Bonilha e Bernardo são fáceis de ser entendidos. Ao se reaproximar das empresas, o governo busca mostrar que está empenhado em romper a inércia do PNBL. Até hoje, a Telebrás não ligou nenhuma residência à banda larga. A previsão inicial era atingir 100 cidades, no final do ano passado. Além das dificuldades administrativas para executar o plano, a empresa sofreu um corte de 95% no orçamento: os R$ 3,2 bilhões, previstos para ser investidos em 2010 e 2011, foram reduzidos para apenas R$ 50 milhões. 

 

Sem dinheiro, o governo teve de recorrer à iniciativa privada. “Está tudo emperrado”, afirma Juarez Quadros, sócio da consultoria Orion e ex-ministro das Comunicações. Para indicar que o PNBL não está parado, Bernardo definiu um prazo para iniciar a oferta de banda larga. Até julho, seis cidades do entorno do Distrito Federal terão acesso à internet rápida com velocidade de 1 Mbps (megabit por segundo) ao custo de R$ 35 mensais, ou R$ 29,90 nos Estados que isentarem o serviço da cobrança de ICMS. 

 

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As operadoras, no entanto, avaliam que há um longo caminho a percorrer para tirar o projeto do papel. Os cálculos iniciais prevêem que serão necessários R$ 13 bilhões, até 2014, para criar a malha de fibra ótica que permitirá massificar a banda larga. As operadoras de telecomunicações querem ainda discutir a redução da carga tributária para os investimentos, uma antiga reivindicação do setor.  “É preciso baixar impostos e os custos de infraestrutura”, disse Mário Girasole, diretor de assuntos regulatórios e institucionais da TIM. Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, o governo ainda precisa definir um modelo que estimule a concorrência entre as teles. “O exemplo é o mercado de telefonia celular”, afirma.