11/09/2015 - 20:00
Ao longo de quase toda sua vida, o empresário José Batista Júnior, mais conhecido como Júnior do Friboi, só mexeu com gado. Primogênito entre os quatro filhos, foi ele quem ajudou o pai, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, a transformar um pequeno frigorífico em Luziânia, no interior de Goiás, na JBS-Friboi, a maior potência mundial em proteína animal com faturamento de R$ 120 bilhões, em 2014, e atuação em 150 países. Júnior saiu do negócio em 2013, após quatro décadas de labuta, para tentar a carreira política.
Para isso, vendeu suas ações na holding J&F (que controla a JBS, a Flora Cosméticos, a Vigor Alimentos, o Banco Original e a Eldorado Celulose) e foi cuidar da vida. O insucesso na tentativa de se firmar como candidato ao governo de Goiás (ele alega ter sido traído pelos caciques do PMDB), fez com que se concentrasse integralmente nos negócios. Através de sua holding, a JBJ Investimentos, com receita estimada de R$ 2 bilhões para este ano, Batista Júnior atua em duas frentes, no segmento agropecuário e no setor de construção civil.
É neste último, porém, que ele espera colher os melhores resultados, apesar do cenário desafiador. Foi com esse pensamento que ele desembarcou na cidade de São Paulo, na quarta-feira 9, para anunciar a sua maior tacada até agora: o lançamento do Nexus Shopping & Business. O complexo multiuso será erguido no centro de Goiânia e contará com hotel, centro de convenções, torre de escritórios, lajes corporativas e shopping center. “Não existe nada parecido na região”, afirma.
O investimento será de R$ 400 milhões e a expectativa é de que o Valor Geral de Vendas (VGV) atinja R$ 550 milhões. Para se lançar na empreitada, Batista Júnior se aliou à Consciente Construtora, que possui um histórico de 33 anos no mercado goiano e 350 mil m² construídos. Desta vez a situação é diferente. Tanto pelos valores envolvidos, quanto pelo fato de o negócio estar sendo feito num período de retração econômica. “O risco é muito elevado”, diz a consultora especialista em construção civil, Simon Escudêro, diretora de projetos e estudos de mercados da All Consulting, baseada em São Paulo.
Segundo ela, o que a JFG Construções, controlada pela JBJ, e a Consciente destacam como as possíveis fortalezas do projeto, a diversidade, pode ser, na verdade, sua fraqueza. “Esse modelo de empreendimento teve seu ápice no período 2010-2013 e não vejo como sendo algo viável a curto e médio prazo.” Batista Júnior, pondera que o que vale para o Brasil, em geral, nem sempre se aplica a Goiás. “A economia do Estado está descolada da do restante do País”, afirma. Uma amostra disso pode ser visto nas estatísticas do IBGE.
Desde 2008, a economia goiana cresce acima da média nacional. Muito desse sucesso se deve à expansão do agronegócio, que deve se ressentir menos das atribulações da economia nacional. “A elevação do dólar afeta a economia como um todo, mas melhora a renda dos agricultores, que têm na exportação a maior fatia de suas receitas”, diz Batista Júnior. Para ele, os recursos gerados no campo se convertem em investimentos nos chamados de bens de raiz. “Os moradores da região preferem os imóveis a títulos públicos ou ações”, diz Ilésio Inácio Ferreira, presidente da Consciente.
Ele cita o caso das duas torres lançadas pela empresa neste ano, que renderam R$ 180 milhões em VGV, vendidas em apenas seis meses. Foi por conta dessas peculiaridades que Batista Júnior resolveu ampliar suas apostas na construção civil, na qual ingressou em 2010 a partir da compra de terrenos e parcerias com construtoras locais. Mas sem desligar-se do negócio agropecuário. Ao sair da sociedade com os irmãos mais novos Wesley e Joesley e com o pai, ele recebeu ativos em troca de suas ações.
A lista incluiu oito fazendas espalhadas por São Paulo, Goiás e Tocantins com 54 mil hectares de área e espaço para confinar 100 mil cabeças de gado. Lá, ele também atua com melhoramento genético e produção de matrizes de alto desempenho. Esse patrimônio garante cerca de 70% do faturamento de sua holding. A construção civil colabora com a fatia restante. Seu principal sócio nesta área é o genro, Gabriel Paes Fortes, dono de 25% da JFG. Gabriel é neto do fundador da João Fortes Engenharia, baseada no Rio de Janeiro e que já foi um dos grandes ícones do setor.
Em 2013, a JBJ assumiu o controle da também goiana Brasil Desenvolvimento Urbano (BRDU), e estendeu seus tentáculos para o segmento de loteamentos urbanos. Enquanto a construção civil deve encerrar o ano com vendas de R$ 1,2 bilhão, incluindo o complexo Nexus, a comercialização de lotes deve render R$ 750 milhões. O modelo de negócios concebido por Fortes teve a preocupação de reduzir, ao máximo, os riscos inerentes à operação.
Em vez de comprar os terrenos, ele se associa ao proprietário. Os recursos que seriam gastos nesta fase são usados para implantar a infraestrutura dos loteamentos. “A crise econômica está fazendo surgir muitas oportunidades pelo País afora”, diz Fortes. Por conta disso, ele convenceu o sogro de que estava na hora de ultrapassar as fronteiras de Goiás, Maranhão, Espírito Santo, Pará e Brasília, apostando também em Mato Grosso do Sul e São Paulo.