14/10/2022 - 2:30
Um dos figurinos mais icônicos do cinema hollywoodiano é um par de luvas e vestido pretos, óculos escuros e um colar de pérolas. Usado por Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, o look virou símbolo de glamour e um ícone da moda. O destaque da composição está justamente no colar, feito por Roger Scemama, com cinco fileiras de pérolas brancas e um diamante na frente. Lançado em 1961, o filme ajudou a fortalecer no imaginário a utilização da joia, sempre atemporal e ligada à elegância. Ao longo das décadas as pérolas ganharam novos formatos, design e público, mas nunca deixaram de ser requisitadas. No Brasil, seu comércio tem forte ligação com a família Okubo, que chegou ao País nos anos 1920, imigrando do Japão. Rosa, a matriarca, teria sido pioneira em sua comercialização no Brasil e abriu espaço para que seu filho Julio criasse a joalheria. Com fabricação própria e contratos de exclusividade com produtores, a empresa segue com a terceira geração da família, diversificando seus produtos e seguindo o legado iniciado há quase 100 anos.
Com atuais 40 mil clientes ativos, e uma produção de até 3 mil peças por mês, a essência artesanal da Julio Okubo se mantém. O atual diretor de modelagem foi aprendiz do fundador e ainda hoje é responsável por produzir os primeiros modelos que serão comercializados. Apesar de ter diversificado seu portfólio com o passar do tempo, as pérolas seguem sendo o carro-chefe. São cinco tipos diferentes, cada uma fruto de uma espécie diferente de ostra. A mais rara de todas é a dourada, importada das Filipinas. A sua produção na natureza leva em torno de cinco anos, em um processo que envolve 377 etapas entre a criação do molusco e a colheita. Um brinco com uma única pérola dourada, em ouro branco e com diamantes chega a custar mais de R$ 35,9 mil no site da marca.
Se para algumas pessoas as pérolas ficam restritas ao colar usado nos tempos dos avós, Maurício Okubo, vice-presidente da Julio Okubo, explica que os formatos de uso da joia e o próprio público tem mudado. “O design passa por uma transformação para que a gente possa usar as pérolas de forma jovem e contemporânea e atingir todas as idades”, disse. Entre os novos usuários está o público masculino, historicamente mais reticente ao seu uso. A presença das pérolas na moda está tão intensa que o termo pearlcore foi cunhado para descrever a forte tendência de sua utilização em acessórios e até nas roupas.
DIVERSIFICAÇÃO Mas nem só dessas bolinhas cobiçadas e ouro vive a Julio Okubo. Em 2018, a empresa iniciou um processo de renovação. Nesse movimento foi lançada a Joy, linha com peças em prata. A novidade, além de inserir produtos com uma faixa de preço mais acessível, ajudou a trazer um público mais jovem. Maurício diz que a linha rejuvenesceu em dez anos os consumidores, com uma média de 25 anos. “Antes, a gente começava a atrair o público normalmente na época do casamento pra comprar aliança”, disse.
A empresa passou a ter Mariana Ximenes como embaixadora. A atriz possui uma história próxima da marca por ser uma fiel consumidora. Já no quesito competitividade, no início do ano, a joalheria passou a produzir suas peças em uma fábrica em Manaus, seguindo os passos de outros players. Sem dúvida as pérolas possuem um lugar especial no imaginário das pessoas, seja pelo seu uso histórico, sua apropriação pela cultura pop ou pela ressignificação que ganhou nos últimos anos. Isso tudo, com um público cada vez mais amplo e a certeza de nunca sair de moda.