Na década de 1990, muita gente sonhava com um telefone que funcionasse em qualquer lugar do mundo. Foi apostando nessa demanda que empresas como as americanas Iridium e Globalstar decidiram investir bilhões de dólares em redes de satélites de baixa órbita, que ficam a dois mil quilômetros de altura, para oferecer serviços de telefonia. Em tese, era um negócio fadado ao sucesso, julgavam os investidores. Na verdade, foi um grande fiasco. 

Em menos de dois anos, as duas companhias foram à bancarrota. Para se ter uma ideia do estrago, a Globalstar investiu US$ 1,8 bilhão no lançamento de 52 satélites. Em 2003, falida, ela foi comprada pelo fundo de investimento Thermo Capital Partners por US$ 45 milhões. O problema não foi a falta de clientes. Na verdade, o surgimento de redes com a tecnologia GSM tornou o celular onipresente em qualquer rincão do planeta, a custos mais baixos que os dos satélites. 

 

135.jpg

“Ainda existem muitos lugares sem nenhuma conectividade. É uma grande oportunidade para nós”

Debbie Hirst, consultora de projetos especiais da Globalstar

 

Quase uma década depois, a Globalstar se prepara para voltar a orbitar no mercado de telecomunicações. A aposta, agora, não é mais na telefonia, mas sim na transmissão de dados.  “Ainda existem muitos lugares sem nenhuma conectividade”, afirma Debbie Hirst, consultora de projetos especiais da Globalstar. “É uma grande oportunidade para nós.” A ideia da companhia é vender no Brasil uma tecnologia de rastreamento que pode ser usada tanto para rastrear o rebanho bovino nacional quanto para localizar carros roubados. 

  

Por meio de um chip, os satélites da Globastar podem determinar a localização de um boi ou de um veículo. O pequeno aparelho, desenvolvido pela empresa, utiliza a energia solar para recarregar a bateria, dispensando a necessidade de manutenção. Segundo Debbie, o objetivo é convencer produtores rurais, governo e seguradoras dos benefícios de usar a tecnologia. No caso do gado, o rastreamento também ajuda no controle de doenças, como a febre aftosa. O custo desse produto deve girar em torno de R$ 10 por mês para cada animal. O Brasil possui atualmente um rebanho de, aproximadamente, 200 milhões de cabeças de gado. 

 

Em relação aos veículos, a consultora da Globalstar vê um mercado bilionário. No ano passado, movimentou US$ 1,5 bilhão na América Latina, segundo a consultoria americana C.J. Driscoll, especializada em rastreamento. Até 2014, deve dobrar. Para garantir a oferta desses serviços, a Globalstar voltou a investir alto. Em 2006, ela fechou contrato no valor de E 661 milhões com a Thales Alenia, empresa que atua nos mercados aeroespacial e de defesa, para a construção de uma segunda geração de satélites. Até o final deste ano, a empresa pretende colocar em órbita 24 satélites, que vão substituir os atuais e devem funcionar por 15 anos. Trata-se de um movimento arriscado para uma empresa que, no ano passado, faturou US$ 67,9 milhões. 

 

136.jpg

 

 

Foi a primeira vez, em quatro anos, que a Globalstar  registrou aumento nas receitas. O número de clientes também cresceu, chegando a quase 440 mil. O bom resultado, porém, não foi suficiente para diminuir o prejuízo líquido, que passou de US$ 74,9 milhões para US$ 97,4 milhões em 2010. A mudança para os serviços de dados, em substituição aos de telefonia, é uma tendência, de acordo com a consultoria Euroconsult. Os serviços que envolvem apenas a comunicação entre máquinas, como o rastreamento, devem responder pela maior parte do crescimento do mercado de comunicações móveis via satélite. 

 

No ano passado, o setor movimentou US$ 1,38 bilhão no mundo, resultado 8,8% maior do que o registrado em 2009. Até 2020, o número de terminais em funcionamento deve passar dos 2,4 milhões atuais para 7,8 milhões. Resta saber se esse crescimento será suficiente para manter a Globalstar em órbita, ou se todo o investimento irá para o espaço, de novo.