O pensador canadense Marshall McLuhan (1911-1980) cunhou uma frase que entrou para a história: “O meio é a mensagem.” A discussão proposta pelo pensador abordava a relação entre a forma e o conteúdo na transmissão da informação, que está atualmente cada vez mais rápida com o advento da internet. Agora, dois ícones empresariais estão se unindo e podem dominar, simultaneamente, o meio e a mensagem. O CEO da Apple e mago da inovação Steve Jobs e o magnata da mídia Rupert Murdoch, dono do conglomerado News Corp., que inclui a rede de tevê Fox e o jornal econômico The Wall Street Journal, estão se preparando para revelar um novo jornal digital chamado Daily até o final deste ano. A novidade: será o primeiro do mundo exclusivo para tablets, como o iPad, da Apple.

 

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Nova parceria: jornal batizado de Daily, de Murdoch, “circulará” exclusivamente no iPad, de Steve Jobs

 

O novo “jornal” de Murdoch terá uma assinatura semanal de US$ 0,99 nos EUA. Uma equipe de 100 jornalistas foi contratada e os investimentos já teriam atingido US$ 30 milhões. O projeto estava sendo desenvolvido em segredo há sete meses. A ideia foi do próprio Murdoch, quando viu uma projeção de que haverá 40 milhões de iPads nos EUA no final de 2011. Se 5% dos donos do equipamento assinarem o novo periódico, seriam dois milhões de leitores, um número assombroso para um conteúdo noticioso pago. 

 

A consultoria de tecnologia Gartner estima que 208 milhões de tablets serão vendidos mundialmente em 2014. “Murdoch criou uma base de leitores disposta a pagar pelo conteúdo. Ele sempre teve essa filosofia”, diz Beth Saad, professora da Escola de Comunicações e Artes da USP e consultora de mídias digitais.

 

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Desde que surgiu, o tablet da Apple tem sido saudado por especialistas como um novo caminho para a mídia. Os grandes grupos globais de comunicação apressaram-se em lançar versões de suas publicações para o iPad. No Brasil, não foi diferente. A Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, três dos principais periódicos do País, também aderiram à geringonça tecnológica da Apple.

 

Viram nele uma forma de cobrar pelo conteúdo, que atualmente é distribuído gratuitamente pelas páginas normais da internet. Um estudo da Association of Online Publishers do Reino Unido concluiu que 16% das empresas de mídia já têm um aplicativo pago para o iPad. Outros 60% delas estão planejando lançá-lo nos próximos 12 meses. 

 

O estudo também mostrou que 61% dos donos de empresas jornalísticas esperam aumentar as receitas por meio de serviços de assinatura. “Os aplicativos para iPad estão sendo considerados diferentes das versões para telefones celulares”, afirmou Tim Cain,  responsável pela pesquisa. “Acredito que os leitores estarão preparados para pagar.” 

 

O negócio de mídia está cada vez mais parecido com o da música. Em crise, as gravadoras viram no iTunes e no iPod, ambos da Apple, uma forma de reverter receitas em queda. 

 

“Os tablets introduzem um novo elemento na cadeia de valor das empresas de mídia: o dono do equipamento”, diz Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getulio Vargas e diretor de inteligência de mercado do Terra na América Latina. “Será mais fácil negociar com ele?”, questiona. 

 

Todos sabem que Jobs controla rigidamente o que roda em suas plataformas tecnológicas e é um duro negociador. Alguns grupos podem não gostar de ter a Apple como intermediária e muito menos do controle de preços, como ela faz no iTunes. Afinal, quem controlar o meio e a mensagem – como Jobs e Murdoch – terá muito poder.