30/12/2014 - 14:00
Quando os juros vão subir nos Estados Unidos? Essa é a pergunta de um trilhão de dólares em qualquer tesouraria de banco ou corretora de valores do mundo. A decisão, que está nas mãos de Janet Yellen, a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), não é simples. Se apertar a política monetária antes da hora, ela pode abortar o crescimento econômico. Se demorar demais, corre o risco de estimular o surgimento de novas bolhas. A alta dos juros interfere diretamente no fluxo de capitais, com migração de dólares de países emergentes para a economia mais rica do planeta.
A mera expectativa de que isso ocorrerá em breve desvalorizou o câmbio no Brasil em 15%, nos últimos 12 meses – no Natal, a moeda americana era vendida a R$ 2,70. Embora estimule a inflação, o encarecimento do dólar é visto como a salvação – ou pelo menos, alívio – das contas externas, que registram o maior déficit em 13 anos. Em 2014, o saldo das transações correntes (entradas e saídas de dólares) deve ficar negativo em US$ 86,2 bilhões, o equivalente a 3,94% do Produto Interno Bruto (PIB). No próximo ano, com a forcinha de Janet na valorização do dólar, o cenário deve melhorar um pouco, com um déficit estimado em US$ 83,5 bilhões.
A grande mudança se dará na balança comercial, pois os produtos brasileiros estão mais baratos no exterior. Em 2014, com a queda no preço das commodities exportadas, o déficit deve chegar a US$ 2,5 bilhões – o pior resultado desde 1998. Em 2015, a alta da moeda americana e a redução do preço do petróleo importado devem resultar num superávit de US$ 6 bilhões. Apesar das intervenções no mercado de câmbio, o BC espera uma mudança definitiva.
“O câmbio médio de 2015 deve ser maior do que o de 2014”, diz Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC. O dólar mais caro deve moderar os gastos de brasileiros com viagens internacionais e aumentar o fluxo de visitantes estrangeiros. Ainda assim, o saldo em turismo será negativo em US$ 18,5 bilhões, em 2015. A boa notícia é que quase 80% do rombo nas transações correntes será financiado pelos investimentos estrangeiros diretos, que devem totalizar US$ 65 bilhões. Com uma forcinha extra de Janet, as contas externas podem melhorar ainda mais.