Na quarta-feira 30, sob os holofotes do mercado internacional, o Federal Reserve (Fed) avisou que não pretende mexer nos estímulos monetários, no curto prazo. A notícia foi recebida com satisfação por grandes empresas brasileiras que planejam captar recursos no Exterior. Em tese, quanto mais tempo o Fed inundar o mundo de dólares, mais fácil fica a busca por dinheiro. O próprio Tesouro Nacional brasileiro aproveitou a oportunidade para captar US$ 3,2 bilhões em títulos que vencem em 2025, a juros de 4,305% ao ano. A demanda foi surpreendente e representou o dobro da oferta. 

 

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Arno Augustin: a captação do Tesouro Nacional é a prova de confiança no Brasil

 

A Vale, segundo apurou a DINHEIRO, deve ser uma das companhias a trilhar o caminho desbravado pelo Tesouro, provavelmente com uma emissão de títulos de dívida denominados em euros. A companhia não comenta o assunto. O momento atual estimula essas operações. Depois de andar de lado entre junho e setembro, após a agência de classificação de risco Standard & Poor’s ameaçar rebaixar a nota de crédito do Brasil, o mercado de captação voltou a chamar a atenção das empresas locais em outubro. “O resultado na captação do Tesouro mostra que a janela está aberta e com juros muito atrativos”, afirma Alexei Remizov, diretor do mercado de capitais do HSBC. 

 

Ele participou da captação da Samarco, cuja forte demanda permitiu que a mineradora, joint venture entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, obtivesse recursos a custo menor do que o esperado. Mesmo empresas com pouco histórico de emissões externas ou consideradas de maior risco (e que por isso mesmo pagam mais para colocar seus títulos) terão espaço para captar dinheiro lá fora, segundo o diretor de renda fixa do Bradesco BBI, Leandro Miranda. “Os investidores estrangeiros gostam de comprar o risco de crédito brasileiro”, diz Miranda. 

 

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Nelson Rosa, da Omni: a financeira aproveitou a oportunidade

e captou R$ 30 milhões

 

A financeira Omni, especializada em financiamento de veículos usados, sentiu na pele as oscilações do apetite dos investidores neste ano. A empresa iniciou suas apresentações aos investidores em abril, quando percebeu que o mercado internacional vinha recebendo bem títulos de tomadores com perfil similar ao seu. “Mas, no meio do caminho, fomos pegos com as notícias sobre o Fed, as taxas subiram e o mercado secou”, diz Nelson Rosa, diretor financeiro da Omni. No fim de outubro, a Omni captou US$ 30 milhões por um prazo de 18 meses e com juros de 8,75% ao ano, em linha com o sinalizado pela empresa em apresentações ao mercado. 

 

Apesar do cenário promissor para os próximos meses, houve um aumento das taxas em relação ao início do ano, quando o Tesouro captou a juros de 2,75% ao ano. Um dos motivos é o questionamento em relação à condução da política fiscal por parte do governo brasileiro. Como o Brasil pagou mais caro em seus títulos, isso aumentou os preços para os emissores corporativos também. Para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, as avaliações são injustas. “Tivemos em setembro a maior demanda por colocação de títulos internos da dívida brasileira”, afirmou Arno. “Se alguém do mercado tivesse dúvida sobre os fundamentos, não demandaria tanto os títulos do Brasil.” 

 

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John Schulz, da Gestora Queluz: o Brasil era até recentemente

o xodó dos investidores

 

John Schulz, sócio da gestora Queluz, que lidera captações para empresas de risco mais alto, reconhece que a demanda ainda é forte, mas que a situação fiscal brasileira tem provocado o aumento dos juros pagos. “O Brasil era o xodó dos investidores e hoje eu tenho que escutar que, ‘apesar de ser no Brasil, a gente aceita fazer negócios’”, diz Schulz. Na quinta-feira 31, o Banco Central divulgou um déficit de R$ 9 bilhões nas contas públicas de setembro, o pior resultado para o mês desde o início da série histórica, em dezembro de 2001. O dado, sem dúvida, servirá de munição para o terrorismo verbal das agências de classificação de risco. 

 

“A simples ameaça de reduzir o rating do País encarece custos do Tesouro e, por tabela, das empresas”, afirma Antonio Madeira, economista da LCA Consultores. Apesar disso, o diretor do mercado de capitais do BES Investimentos, Miguel Guiomar, acredita que as condições atuais de captação são favoráveis às empresas brasileiras. Isso porque a partir do segundo trimestre de 2014 é esperada a retirada dos estímulos por parte do governo americano, o que irá reduzir a liquidez internacional. Além disso, haverá eleições no Brasil. “O próximo ano será desafiador”, diz Guiomar. “É melhor que as empresas façam uma antecipação das operações.” Antes que a janela se feche.

 

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Colaborou: Ana Paula Ribeiro