06/03/2013 - 21:00
Terceira maior economia da Europa, a Itália não vive os dias mais felizes da sua história. No ano passado, a economia encolheu 2,7% – bem mais do que a média dos países europeus. Nos últimos cinco anos, a variação do PIB só foi positiva em 2010 e 2011, e ainda num nível insuficiente para recuperar as perdas anteriores. O quadro, que já era ruim, ficou ainda pior desde a semana passada. A eleição do domingo 24 deixou o país mais dividido – e sem governo. Nenhum dos candidatos conseguiu a maioria no Parlamento, condição necessária para governar o país, e a escolha de um novo primeiro-ministro passa a depender de negociações entre os três mais votados. A coalizão de centro-esquerda, encabeçada por Píer Luigi Bersani, do Partido Democrático, saiu na frente, com 29,54% dos votos na Câmara dos Deputados.
Vim, não vi e quase venci: ex-premiê Berlusconi ficou em segundo lugar nas eleições,
mas ganhou poder de barganha
O partido também venceu no Senado, embora sem ter atingido o número de votos necessário para obter a maioria absoluta. Mas, para montar uma frente de governo, Bersani depende de um acerto com o partido O Povo da Liberdade, de centro-direita, liderada pelo ex-premiê Silvio Berlusconi, que ficou em segundo lugar (29,18%), ou com o Movimento Cinco Estrelas (M5S). O partido, do ex-comediante Beppe Grillo, foi a grande surpresa da eleição, recebendo 25,54% dos votos. Grillo, porém, já declarou que não pretende se aliar a nenhum partido. Berlusconi, que renunciou ao cargo de primeiro-ministro há pouco mais de um ano, sob acusação de mau gerenciamento da economia, num momento em que a dívida pública italiana ultrapassava os 120% do PIB, voltou a mostrar sua força na política italiana.
Dono de um império de comunicação, é um dos homens mais ricos do país – e o mais rico entre os políticos. Foi a retirada do seu partido da base governista que levou o primeiro-ministro Mario Monti, um tecnocrata que adotou medidas impopulares para evitar que a Itália quebrasse, como a Grécia, a convocar a eleição-geral. Impopular com a recessão e o desemprego de 11,2%, Monti também estava no páreo nessa eleição, mas perdeu de lavada – teve apenas 10% dos votos, e foi o quarto colocado. A próxima reunião do Parlamento será no dia 15 de março, e somente no dia 21 o presidente Giorgio Napolitano iniciará as negociações para a formação do novo governo. Num comunicado em vídeo, Berlusconi pediu “responsabilidade” para que “seja enviada uma mensagem de estabilidade antes de 15 de março”.
Cameron, o rebaixado: o primeiro-ministro do Reino Unido disse que a redução da nota
pela Moody’s é importante e mostra que é preciso diminuir rapidamente o déficit
O impasse sobre o futuro da Itália derrubou as bolsas europeias, dos Estados Unidos e da Ásia na terça-feira 26, quando ficou claro que o país não terá um novo governo, pelo menos de imediato. O mercado também elevou a taxa de risco do país, encarecendo o custo da rolagem da dívida. O temor dos investidores é de que o país volte atrás nas decisões tomadas por Monti para enxugar os gastos e reduzir a dívida pública. Na avaliação do analista político Peter Ceretti, da consultoria Eurasia Group, o mercado pode exercer um efeito benéfico. “A volatilidade deve continuar nas bolsas, mas essa pressão pode ajudar na solução da crise do governo”, diz o analista.
O cenário mais provável, na opinião de Ceretti, é a negociação entre os partidos nas próximas semanas, com a formação de um governo de minoria e a convocação de novas eleições para o próximo ano. Ele não descarta consequências sobre outros países da região, como Espanha e França, mas acha que o Banco Central Europeu será eficiente em evitar os efeitos de uma contaminação grave sobre o euro. O economista Juan Carlos Martinez Oliva, do Instituto de Economia Internacional, em Washington, também acredita que a falta de um novo governo não vai atrapalhar a credibilidade do país, que teve apoio suprapartidário para as medidas fiscais.
“O principal desafio para a Itália é voltar a crescer, por razões econômicas e políticas, e isso é o que o novo governo deve fazer”, diz Oliva. Fora da zona do euro, a crise atingiu outro país da região. A Grã-Bretanha, que sempre se orgulhou de ter uma economia mais forte do que a do euro, teve seu rating soberano rebaixado de Aaa para Aa1 pela agência Moody’s, pelo receio de que não consiga reduzir seu déficit na velocidade prometida. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, usou o rebaixamento da Moody’s para justificar sua política de redução de gastos. “Este rating é importante, e mostra que temos que seguir em frente e mais rápido na redução do déficit”, afirmou o primeiro-ministro ao Parlamento. Para ele, a má notícia acabou virando um bom argumento.