11/12/2014 - 15:00
O que será, exatamente, o prometido ajuste gradual da economia para um “governo novo, com ideias novas” ainda não está claro. Mas os bancos públicos, ainda que ardorosamente defendidos pela campanha da presidenta Dilma Rousseff, não serão poupados. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o corte de gastos previsto para 2015 deve incluir a redução dos subsídios financeiros. “Este ano será menos que no ano passado e que no ano retrasado, e assim por diante”, disse Mantega a jornalistas em Brasília, na quarta-feira 3. Em 2014, no entanto, os empréstimos da Caixa, do Banco do Brasil e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para empresas cresceram bem acima da média dos bancos privados.
O saldo de empréstimos do Banco do Brasil para pessoas jurídicas avançou 15,2% em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado, para R$ 280 bilhões. Na Caixa Econômica Federal, a alta foi de 23,3%; o Itaú registrou crescimento de 8,3%; e o Bradesco, aumentou de 7,2%, para R$ 306,2 bilhões. Os números mostram uma postura mais cautelosa das instituições financeiras privadas num momento em que a economia dá sinais de fraqueza, ampliando o cenário adverso para algumas companhias. O mercado prevê crescimento do PIB de 0,2% neste ano e de 0,8% em 2015, sinal de que a retomada ainda está distante.
Em períodos como esses, são as empresas de menor porte que mais sofrem. Em especial, porque enfrentam mais dificuldade de apresentar garantias e são avaliadas como clientes de maior risco. Os bancos públicos acabam virando refúgio para driblar as restrições encontradas no setor privado. No Santander, o saldo da carteira de pequenas e médias empresas recuou 9,8% em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. No sentido oposto, o Banco do Brasil ampliou em 7,5% o volume de crédito para esse grupo. Esse movimento vem acontecendo nos bancos privados desde 2011, mas se intensificou neste ano com a estagnação da economia.
“O agravamento da conjuntura econômica deixa as pequenas e médias empresas mais vulneráveis, aumentando o risco de empréstimo e levando os bancos a privilegiar as carteiras de menor risco, como as das grandes empresas”, diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. Representantes da banca privada se defendem e dizem que neste ano também há um menor apetite por parte dos tomadores pessoa jurídica. “Não são os bancos que estão mais restritivos, mas as empresas que estão demandando menos crédito”, afirma Paulo Duailibi, superintendente-executivo de produtos do Santander, responsável pela carteira de pequenas e médias empresas (PME). Com o crédito mais restrito, empresas que conseguem garantir financiamento barato para vender seus produtos para pequenas e médias empresas saem na frente.
É o caso da Officer Distribuidora, revendedora de produtos para informática, baseada em São Paulo. Ao perceber as dificuldades dos clientes em obter crédito, a empresa fechou parcerias com instituições financeiras privadas para oferecer linhas pré-aprovadas a eles. Com um faturamento anual de R$ 1,5 bilhão, a Officer observou um crescimento das vendas financiadas, que neste ano devem representar 30% do total – o triplo do ano anterior. “Mesmo durante uma crise, se houve empréstimo, vai ter tomador, porque o empresário precisa investir para recuperar sua competitividade”, diz Ronaldo Miranda, presidente da Officer.
CRÉDITO SUBSIDIADO Boa parcela do avanço dos bancos públicos sobre os privados pode ser atribuída a uma participação mais ativa do BNDES (leia mais aqui). Só neste ano, a carteira de crédito do gigante estatal registra um crescimento de 14,1%, num total de R$ 558,9 bilhões. Sua importância sobre os empréstimos para as companhias pode ser medida em números: representa 34% do volume total do crédito empresarial atualmente, ante 24% em 2008. Ao todo, os bancos públicos representam hoje 53,2%, contra 34% antes da crise. “BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica mantêm o ritmo de empréstimo mesmo quando os bancos privados não têm tanto interesse em emprestar porque sabem que correm o risco de não receber”, diz Carlos Thadeu Gomes economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
De acordo com o governo, os bancos oficiais são obrigados a entrar no mercado para suprir a lacuna deixada pelo setor privado. Mas analistas dizem que essa postura pode criar uma distorção. “O BNDES deixou de ser complementar e, em muitas linhas, passa a competir com o crédito livre”, diz Mariana Oliveira, economista da Tendências Consultoria. A indicação dada pela nova equipe econômica é de que o governo já percebeu que o custo para manter tal receita é muito alto. Enquanto para o governo o desafio será orquestrar a dose da mudança, para as empresas fica a tarefa de conseguir operar num ambiente mais adverso e com menos pilares para se apoiar.